Beatificação de Madre Clara |
Ao serviço dos que sofrem
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Não há dúvida de que eram muito diferentes de quanto se estava acostumado a ver em matéria de enfermagem.

No séc. XIX, os cuidados eram assumidos por pessoas que “de enfermeiros/as tinham apenas o nome”, como declarava o Ministro do Ultramar em carta à Serva de Deus Maria Clara do Menino Jesus.

Tal situação agravava-se mais ainda quando se tratava dos hospitais ultramarinos, onde o serviço de enfermagem era desempenhado por indivíduos condenados ao degredo por delitos graves e despojados de sentimentos humanitários.

Fundadas em 1871, as Franciscanas Hospitaleiras começaram por praticar a enfermagem a domicílio, entre os doentes pobres e não pobres, já que tanto os senhores como os populares eram por elas tratados de igual maneira e com igual desvelo.

Os primeiros Estatutos da Congregação assim o exigiam, embora se preocupassem sobremaneira com a situação dos últimos que, em igualdade de circunstâncias, deviam ser servidos em primeiro lugar.

Não se pense, porém, que os cuidados eram exercidos apenas por bondade do coração, sem olhar a exigências profissionais. O mesmo documento, da autoria dos Fundadores, prescreve que a Superiora, no caso a Serva de Deus, tenha como dever visitar frequentemente as Irmãs ocupadas neste trabalho e verificar se elas estão cumprindo rigorosamente as prescrições dos médicos.

Quatro anos depois da fundação, abriram-se-lhes as portas dos hospitais, a começar pelo de S. Marcos, em Braga, e logo se tornaram notadas pelo carinho, solicitude, dedicação a toda a prova, extremo cuidado na administração medicamentosa e na alimentação, e escrupuloso asseio.

Cresceu de tal maneira a sua fama, que os Directores e Provedores, bem convencidos de que o ambiente geral das suas instituições só poderia melhorar com a presença e administração interna das Irmãs Hospitaleiras, as solicitavam à porfia para os seus hospitais.

E não somente os particulares, mas o próprio Governo ansiava por lhes confiar o cuidado dos hospitais ultramarinos, onde os enfermos facilmente sucumbiam por falta de cuidados e de tratamento adequado. Foi assim com Angola, Guiné, Cabo Verde, São Tomé, Moçambique, Índia…

A técnica aprendiam-na nos próprios hospitais, com os médicos a quem assistiam, e transmitiam-na depois às que entravam pela primeira vez na mesma área de trabalho.

A prática partia do coração cheio de amor e de compaixão pelos que sofriam e pelo desejo de minorar penas e sofrimentos e de salvar as almas e os corações, enquanto cuidavam dos corpos enfermos.

O salário era o valor de um hábito para cada uma, por ano.

A recompensa vinha-lhes da felicidade de servir, de promover a vida, mesmo à custa da própria, de trazer de volta à casa paterna os membros sofredores de Cristo Senhor.

Eram altamente imaginativas, criativas em seus cuidados, atentas à pessoa e às necessidades de cada um.

Assim lho tinha ensinado a Fundadora com o próprio exemplo, pois por todos se interessava e os conhecia até pelo nome.

No Hospital Militar da Estrela, por ex., protelou a saída das Irmãs, por causa do soldado Ramos, que precisara de ser submetido a uma amputação e naturalmente necessitaria de maiores cuidados.

Tais cuidados prolongavam-se além da morte, já que, como determinavam os Estatutos, as Irmãs deviam assistir os enfermos até à sua cura e, no caso de falecimento, acompanhá-los ao cemitério.

Houve o caso de um hospital, onde os que morriam eram colocados em sacos, de modo que nem os parentes podiam mais vê-los. Condoídas por uma situação tão triste, as Irmãs tomaram à sua conta mais esse cuidado de comprar tecido e costurar roupa com que os pudessem vestir decentemente.

De resto, seguiam à risca a recomendação dos Fundadores: “Tratai os idosos como vossos pais, os novos como irmãos e as crianças com a meiguice e ternura maternais”.

Um gesto inusitado surpreendeu alguém que visitava o hospital de Luanda: a Irmã enfermeira tinha encostado a si um dos pacientes. Ao ser interrogada, explicou que se tratava de um degredado, a quem o enfermeiro jogara ácido. Ela tinha-lhe feito o curativo, mas o padecimento do pobre enfermo era tão violento, que ela o aconchegara a si para o aliviar um pouco.

As Hospitaleiras eram assim: presenças de humanidade, anjos de consolação, heroínas da caridade.

Consideravam os doentes como sua fiança, seus intercessores e pára-raios junto de Deus.

Uma das enfermeiras de Luanda escrevia à Superiora Geral (a própria Serva de Deus): “Eu gostaria que Deus Nosso Senhor me viesse buscar no tratamento dos doentes, porque certamente usaria de mais misericórdia para comigo, visto que eu tenho mais de Marta do que de Maria”.

Ir. Rosa Helena Mendes de Moura, Fhic
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