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Evangelização e Comunicação (pelo P. Duarte da Cunha)
Recentemente em Vilnius, na Lituânia, os secretários gerais das Conferências Episcopais da Europa encontraram-se com os responsáveis da comunicação das mesmas conferências. O objectivo era pensar a relação entre evangelização e comunicação. 

 

O tema é, sem dúvida, muito vasto e não pode se pretendia chegar a todos os aspectos. Foram, no entanto tratadas duas questões muito concretas, que têm que ver com o modo como a Igreja se relaciona com os meios de comunicação Social e, por isso, como se dá a conhecer ao mundo e como utiliza os novos instrumentos da tecnologia para comunicar.

Em primeiro lugar tratou-se das crises. Como é que a Igreja comunica com a sociedade quando há “crises” ou problemas dentro da Igreja? A conclusão, que poderia ser surpreendente para quem não percebe muito bem o que é a Igreja, foi de que quando há crises, o mais importante não é escondê-las ou disfarçá-las, mas tentar resolver o problema que lhe deu origem. As “crises” não se resolvem com uma simples estratégia de comunicação, mas atacando as origens. Um exemplo claro temos no modo como o Santo Padre tem lidado com o problema da pedofilia. Vemos que para o Papa não foi e não é a principal preocupação defender a imagem da Igreja, mas, efectivamente, tentar por tudo que não haja mais crianças a sofrerem e que os sacerdotes sejam mais santos. A comunicação da Igreja nestes casos não deve, por isso, tentar disfarçar o problema ou dizer que também outros têm o mesmo problema, mas reconhecer o problema e mostrar o que se está a fazer para o resolver. Importante ainda, como foi dito por diversos participantes da reunião, é a unidade dos pastores e dos membros da Igreja. A nossa unidade vem de Deus, bem o sabemos, e não tem as suas raízes nas simples qualidades humanas dos filhos da Igreja, mas claro que também é uma responsabilidade que exige de cada um uma grande atenção.

O segundo tema tratado em Vilnius tem que ver com a necessiade de a Igreja conhecer e utilizar bem os novos instrumentos, nomeadamente as redes sociais e outros recursos próprios dos nossos tempos na sua missão. Sobre isto tem havido uma evolução na maneira como os especialistas da Igreja têm abordado a questão. Talvez há uns 10 anos havia unanimidade em dizer que a Igreja não podia perder o comboio. O Evangelho não é, de facto, contrário a nenhum desenvolvimento tecnológico e tudo o que ajudar é bom e, por isso, não podemos deixar de estar presente em todos os lugares, mesmo no mundo virtual. Mas hoje estamos a assistir a diversas mudanças que fazem pensar que, de facto, a posição, digamos, progressista e que olha para o futuro, não é a que quer “adaptar” o que temos a dizer aos novos meios, mas a daqueles que estão conscientes da identidade da Igreja e sabem ter uma atitude crítica e livre em relação aos novos meios de comunicação. Se evangelizar é levar Jesus às pessoas e não é simplesmente a transmissão de uma mensagem ou de uma doutrina, então não se pode nunca substituir o encontro pessoal – a Igreja é o corpo de Cristo e os cristãos são os Seus membros que podem ser encontrados – por encontros virtuais. O conto de E.M. Forster “the machine stops” escrito em 1909 e o livro de Sherry Turkle “Alone Together, why we expect more from tchnology and less from each other” escrito em 2010, serviram para recordar que as novas tecnologias têm uma incidência na vida e no modo de compreendermos o que é ser pessoa e que, por isso, nem tudo é neutro. À Igreja, que é a guardiã da Palavra de Deus, ou seja, daquilo que Deus quer dizer, cabe também a missão de recordar o que é a verdade do homem em toda a sua grandeza. Evangelizar nos tempos de hoje contará, sem dúvida, com tudo o que ajudar a chegar a cada pessoa, mas a Igreja ao dar a conhecer Jesus também dá critérios para se poder distinguir o bem do mal, o que é justo e pode ser utilizado daquilo que abafa o coração do homem e deve ser evitado.

A urgência da evangelização é, em síntese, também a necessidade de salvar o humano. Como o único Salvador é Jesus, a Igreja não se limita a lembrar o que se deve fazer ou pensar, mas traz Jesus à vida da sociedade para que Ele possa ser conhecido e amado. O desafio é, pois, o de saber como é que uma Igreja hoje num mundo cheio de relações virtuais e, ela mesma, cheia de homens e mulheres frágeis, pode ser entendida quando repete as palavras de São João na sua primeira Carta: “O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplámos, e o que as nossas mãos apalparam do Verbo da Vida vo-lo anunciamos”. A conclusão é de que é necessário manter uma vida de comunhão com Deus e com os irmãos na fé. Os santos sempre souberam como lidar com as crises e como utilizar os meios que a tecnologia oferece sem ser utilizados por eles.