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Bem-estar e bem-ser (por Isabel Vasco Costa)

A recente morte da nossa deputada Maria José Nogueira Pinto, como gostava de ser conhecida, abalou, pela positiva, muitos portugueses. Nascida numa família de “bem-estar”, seria de esperar que se comportasse como uma menina fútil, primeiro, e como “tia”, depois. Nada mais afastado da verdade. Ela própria afirma, no seu último artigo para o Diário de Notícias, que o seu amor à cidade e ao país nasceu no seio da família. Então, foi em família que chegou e se desenvolveu o seu bem-ser.

É conhecido o facto de que uma sociedade de bem-estar perde o interesse pelos assuntos sociais; a não ser, talvez, para os presenciar e criticar como espectador. É próprio do bem-estar exigir serviços do Estado: têm-se direitos porque se paga. Por isso se rejeitam compromissos e responsabilidades, essas atitudes que, juntamente com mais algumas, tornam os homens verdadeiramente humanos.

De facto, não há notícia de uma comunidade de animais ter deixado traços civilizacionais. Mas os homens, sim. E, curiosamente, os achados arqueológicos têm levado os cientistas a constatar como essas civilizações foram diferentes. Por outras palavras, houve criatividade na resolução dos desafios que o clima, a geografia ou a sobrevivência lhes apresentavam, mas também nas manifestações de arte e comunicação. E isso, só se alcança em comunidade. As ideias podem surgir de um líder apenas, mas necessitam de cooperação para se desenvolverem e materializarem.

Por seu lado, o líder, é alguém que nasce com um determinado carácter (devido à genética, ao estado de saúde…), mas que se deu ao trabalho de o adaptar, criando a sua personalidade. É esta capacidade de ser verdadeiramente pessoa, capaz de ser senhor do seu destino, que leva o homem a bem-ser, a ser pessoa de bem. Curiosamente, a pessoa de bem sente-se bem consigo mesma sempre que tem oportunidade de agir bem. É nisso que consiste o verdadeiro bem-estar, o estar bem consigo.

A boa acção costuma ser reconhecida pelos outros, embora nem sempre, de forma positiva. Esse reconhecimento leva a um outro bem-estar muito gratificante, já que o homem também sente necessidade de ser respeitado, admirado…numa palavra: amado. O mais importante, porém, está na coerência entre o pensar e o agir, mesmo que doa. Fugir às responsabilidades (não fui eu, a culpa não foi minha, não me vou casar,…) é uma atitude própria do mal-ser. Assim, o reconhecimento social ajuda ao bem-estar, mas não é o factor principal, além de que é muito frágil. Os aplausos do mundo são efémeros. Poucos deles são sérios e justos, isto é, recompensam os verdadeiros valores e esforços.

A unanimidade com que se reconheceu o bem-ser e o saber estar da “Zézinha”, é reconfortante. Foi-se-nos uma grande portuguesa. Está-nos a chegar um grande desejo de bem-ser.