Na Tua Palavra |
D. Nuno Brás
O drama da solidão

Uma vez mais a comunicação social tem-nos, quase diariamente, chamado a atenção para o drama dos idosos que vivem sozinhos e que morrem abandonados por todos, particularmente no meio das grandes cidades. Podemos dar a desculpa de que se recusaram a ir para um lar, ou que não eram particularmente comunicativos. O facto, no entanto, não nos desculpa.

Tanto mais que o drama não é apenas dos idosos. Eles mais não são que a parte visível e gritante de tantas outras situações de solidão que a grande cidade (e o modo de vida que ela foi espalhando, um pouco por todo o lado) foi insensivelmente criando. O mundo contemporâneo é um mundo de solidão: é solitário o casal que, invariavelmente, discute ao chegar a casa, tão alto que todo o prédio ouve mas sem que ninguém ouse dar algum passo para os ajudar na reconciliação; é solitário aquele filho para quem os pais não têm tempo, ou que, por causa de um divórcio rápido, se vê empurrado para viver, pendularmente, ora em casa do pai, ora em casa da mãe; é solitária aquela senhora que, no meio de um autocarro cheio de gente, vive o drama de um despedimento sem ter ninguém com quem falar; é solitário aquele rapaz que passa todos os tempos livres à frente de um computador, ligado à internet, eventualmente a falar com alguém do outro lado do planeta, ou simplesmente a jogar num qualquer mundo imaginário… e tantas outras situações que poderíamos aqui referir como exemplo.

Estamos cheios de comunicações: na rádio, nos jornais, na televisão, nos outdoors publicitários. Somos bombardeados por notícias, opiniões, interpretações dos acontecimentos. Mas nunca como hoje vivemos tão sós. Muitas vezes sem nós mesmos. Este modo de vida roubou-nos os outros, os amigos, e despersonalizou-nos, tornou-nos insensíveis.

Teoricamente, isso não devia acontecer. Teoricamente, todos vivemos no mundo das comunicações, todos temos acesso ao que se passa no mundo inteiro; teoricamente, vivemos numa “aldeia global”, conhecendo os mais íntimos detalhes da vida das estrelas do cinema ou do desporto. Mas apenas teoricamente.

Aliás, esse é um dos nossos grandes problemas: criamos uma teoria, procuramos justificá-la num pedaço da realidade, enunciamos uma lei que parece servir para todos os casos e que, eventualmente, resolva os demais que não se lhe adaptam e, por fim, gritamo-la aos sete ventos até que um qualquer repórter de TV a ache interessante, original, e a dê a conhecer ao mundo inteiro. E julgamos ter tudo resolvido.

Mas o facto é que, no fim de tudo, nos esquecemos das pessoas concretas, ali ao nosso lado, que escapam a todas as teorias científicas. E, dramaticamente, até nos esquecemos de nós mesmos.

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