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Isilda Pegado
Encontro Mundial das Famílias – 2012: Um desafio, um caminho

“Na família educa-se a dizer «obrigado» e «por favor», a ser generoso e disponível, a emprestar as próprias coisas, a prestar atenção às necessidades e às emoções dos outros, a ter em consideração os cansaços e as dificuldades de quem está próximo. Nos pequenos gestos da vida quotidiana, o filho aprende a estabelecer um bom relacionamento com os outros e a viver na partilha. Promover as virtudes pessoais é o primeiro passo para educar para as virtudes sociais. Na família ensina-se aos mais pequeninos a emprestar os seus brinquedos, a ajudar os seus companheiros na escola, a pedir com gentileza, a não ofender quem é mais fraco, a ser generoso nos favores. Por isso, os adultos esforçam-se em dar exemplo de atenção, dedicação, generosidade e altruísmo. Assim a família torna-se o primeiro lugar onde se aprende o sentido mais verdadeiro da justiça, da solidariedade, da simplicidade, da honestidade, da veracidade e da rectidão, juntamente com uma grande paixão pela história do homem e da polis…”

Este é apenas “um aperitivo” para a leitura (estudo e vivência) que nos é proposta nas Catequeses que preparam o Encontro Mundial das Famílias em Milão no próximo mês de Maio.

Impressiona a forma simples, como nos é proposta uma “conversão” da Família. E, simultaneamente através deste olhar sobre a família é expressa, uma linha de orientação e aposta social a que não podemos ficar indiferentes. Num tempo em que a velha Europa está em crise o Papa propõe um novo modelo de Família. Onde há lugar para “o trabalho, o lúdico (festa), a provação, a intervenção cívica”, tudo matrizes de uma mesma cor – o homem na sua totalidade. Não um homem fraccionado, mas um homem pleno. Uma Sociedade que se estrutura a partir do homem, da família, e dos corpos sociais intermédios. Uma nova liberdade que resulta do reconhecimento das circunstâncias e a partir delas constrói um novo habitat, uma nova Sociedade. Entre pai e filhos, entre marido e esposa, o bem aumenta na medida em que a família se abre à sociedade, prestando atenção e oferecendo ajuda às necessidades dos outros. Deste modo, a família adquire motivações importantes para desempenhar a sua função social, tornando-se fundamento e recurso principal da sociedade. A capacidade de amar adquirida ultrapassa com frequência a necessidade da própria família. O casal torna-se disponível para o serviço e a educação de outros jovens, além dos seus: também deste modo os pais se tornam pais e mães de muitos”. É-nos apresentada uma nova caridade (amor) com ajudas concretas que vai muito além dos laços de solidariedade ou de cidadania, “Muitas famílias abrem a porta de casa à hospitalidade, cuidam do mal-estar e da pobreza do próximo, ou então simplesmente batem à porta ao lado, para perguntar se há necessidade de algo, hospedam os companheiros de escola dos filhos para fazer os deveres escolares…Ou ainda, acolhem uma criança que não tem família, ajudam a manter o calor familiar onde permaneceu somente o pai, ou apenas a mãe, associam-se para ajudar outras famílias nas numerosas dificuldades contemporâneas, ensinando aos filhos o auxílio recíproco em relação a quantos são diferentes por raça, língua, cultura e religião. Assim, o mundo torna-se mais agradável e habitável para todos”. Num tempo em que é evidente a solidão até dentro da família, e daí a sua fácil desagregação (divórcio, menores em risco, etc.), o Papa diz: “Infelizmente, no Ocidente a cultura dominante tende a considerar o indivíduo sozinho mais funcional à sociedade de produção e do consumo; mais produtivo, porque mais disponível à mobilidade e à flexibilidade dos horários e, sob o ponto de vista da percentagem ele consome mais do que as pessoas que vivem em família”. “Na verdade, o pão que se ganha trabalhando não é só para si mesmo, mas dá sustento também aos outros com quem se vive. Através do trabalho, os cônjuges nutrem a sua relação e a vida dos seus filhos”.

Por isso, há alternativa, uma aventura na forma de viver que potencia a realização do eu, a alegria nas relações e a efectividade dos afectos. “Mais cedo ou mais tarde, de vários modos, a vida de família é posta à prova. Então, exigem-se sabedoria, discernimento e esperança, muita esperança, às vezes para além de qualquer evidência humana. O sofrimento, o limite e a falência fazem parte da nossa condições de criaturas, assinalada pela experiência do pecado, ruína de toda a beleza, corrupção de toda a bondade. Isto não significa que somos destinados a sucumbir; pelo contrário, a aceitação desta condição estimula-nos a confiar”. “Na família as pessoas amam-se, desejam sinceramente o bem umas das outras, sofrem quando alguém está mal, mesmo que se tenha comportado como um «inimigo»; rezam por quantos as ofendem.”

É este gosto na construção de uma Família, de um Homem novo, que podemos e devemos aceitar como uma esperança renovada.


PS – Todas as citações são retiradas das Catequeses de preparação para o Encontro Mundial das Famílias in www.family2012.com