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Nuno Cardoso Dias
O lava-pés
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«Compreendeis o que vos fiz? Vós chamais-me ‘o Mestre’ e ‘o Senhor’, e dizeis bem, porque o sou. Ora, se Eu, o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Na verdade, dei-vos exemplo para que, assim como Eu fiz, vós façais também
João 13,13-15
E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: «Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não me deste água para os pés; ela, porém, banhou-me os pés com as suas lágrimas e enxugou-os com os seus cabelos
Lucas 7,44
«O delicado respeito de Jesus para com as mulheres a quem chamou ao seu séquito e amizade, a aparição na manhã da Páscoa a uma mulher antes que aos discípulos, a missão confiada às mulheres de levar a boa nova da Ressurreição aos apóstolos, são tudo sinais que confirmam a especial estima de Jesus para com a mulher. Dirá o Apóstolo Paulo: «Porque todos vós sois filhos de Deus, mediante a fé em Jesus Cristo... Não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há homem nem mulher, pois todos vós sois um só em Cristo Jesus».”» Familiaris Consortio, 22
É curioso que o dia do pai fique tão próximo do dia da mulher. É como se um crescesse para o outro.
É essencial celebrar o dia da mulher: não só porque a igualdade entre homens e mulheres está longe de ser adquirida mas como pelo que as mulheres têm de próprio e de diferente dos homens. Há sinais muito positivos, de mulheres que mostram diariamente a sua competência em posições de destaque e que trazem aos vários domínios onde actuam essa outra forma de estar e de ver que as caracteriza e que enriquece não apenas o seu trabalho como toda a resposta da organização em que se inserem. É, pois, preciso celebrar as mulheres não só pela igualdade que lhes é devida mas também pela diferença que elas fazem.
E é nisto que o paralelismo com o dia do pai se torna muito claro.
É que a celebração do dia do pai não tem só a ver com a assumpção de mais responsabilidades dos pais na educação dos filhos; não é só uma questão de igualdade nos deveres, é, sobretudo, a afirmação da mais valia que os pais trazem à educação dos filhos. Mais uma vez, supera-se a igualdade para afirmar a diferença que o pai faz quando está presente e activo.
Mas hoje em dia, cada vez mais, precisávamos de um dia da família. Um dia em que se afirmasse que a conciliação trabalho/família é uma medida de desenvolvimento do país e uma poupança importante de recursos, para o país e para as famílias. Um dia em que se afirmasse que os avós têm um papel fundamental no acompanhamento dos netos e que o prolongamento indefinido da vida activa priva avós e netos dessa interacção. Um dia em que se celebrasse os filhos e a família não como uma fonte de obrigações mas como espaço de realização pessoal e social de todos os que a ela pertencem.
A Igreja tem, na defesa da família e da mulher, um papel de enorme importância. É uma responsabilidade que a Igreja herda directamente da vida de Jesus, da forma como Jesus se soube libertar dos constrangimentos que a sociedade da sua época vivia no que diz respeito às mulheres. É, pois, um sinal de vitalidade que a Igreja saiba actualizar o olhar de Cristo neste domínio em particular. Que saiba tratar com igualdade o que é igual e que saiba que apenas a diferença fundada é justificação e medida para um tratamento desigual. Que saiba valorizar o trabalho doméstico sem desvalorizar o trabalho feminino, que saiba valorizar maternidade e paternidade como valores de presença, ambos necessitando de uma adequada conciliação trabalho/família. Para que este caminho se faça é essencial a participação de todos: religiosos e religiosas, leigos, em especial as famílias. Mas é também importante que se consiga operar uma mudança profunda de mentalidades, que passe por uma reflexão adequada de todos os ministérios da Igreja, e da forma como os vemos reservados a homens ou a mulheres. Há mais exemplos, mas começando pelo mais óbvio: quando faltam cronicamente tantas vocações às nossas catequeses, porque é que tanta gente na Igreja continua a falar das catequistas, no feminino, em vez de falar dos catequistas, homens e mulheres? Que esta evolução de mentalidades não seja sinal de fraqueza nem de crise, mas antes manifeste a força da revelação da vida de Jesus, a mesma força que Pedro teve tanta dificuldade em aceitar nos dois momentos em que Jesus lavou e lhe foram lavados os pés.
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