Ano da Fé |
Testemunhos de Fé em Lisboa
S. Nuno de Santa Maria: O Santo Condestável
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Neste Ano da Fé, o Jornal VOZ DA VERDADE inicia a publicação mensal de testemunhos de fé da Diocese de Lisboa ou com ligação à diocese.

 

S. Nuno de Santa Maria, o Santo Condestável, viveu o seu exemplar testemunho de fé agindo na política, na carreira militar e na família.

Nasceu a 24 de Junho de 1360 (Cernache do Bonjardim ou Flor da Rosa). Entrando aos 13 anos para a corte de D. Fernando, caiu nas boas graças de D. Leonor Teles e foi por ela armado cavaleiro. O jovem pajem revelou desde novíssimo um grande talento militar. Num tempo em que os romances de cavalaria incendiavam as mentes juvenis, D. Nuno pretendia realizar a sua vida ao serviço de Deus e da Pátria, aliando o ideal da cavalaria à prática das virtudes cristãs. E como Galaaz resolvera conservar-se celibatário. Porém, em obediência a seu pai, casou com D. Leonor de Alvim. Dos três filhos, apenas o último sobreviveu: D. Beatriz, que, pelo casamento com o 1º Duque de Bragança, fundou a Casa de Bragança.

Na grave crise política do Portugal de então (a única filha de D. Fernando casada com o Rei de Castela, pretendente do trono português) o jovem militar, fiel à Pátria, não hesitou em tomar o partido dos apoiantes do Mestre de Avis. O triunfo militar de D. Nuno na defesa da independência de Portugal começou com a batalha dos Atoleiros (1384). Aclamado rei em 1385, D. João de Avis promoveu D. Nuno Álvares a Condestável do Reino. As investidas de Castela contra Portugal eram contínuas. A 14 de Agosto de 1385 dá-se no campo de Aljubarrota a batalha decisiva, que desbarata o poderoso exército castelhano e consolida a independência portuguesa. Ao génio militar do Condestável, à sua fé inabalável e fervorosa fica Portugal a dever a independência como nação. Diversas são as vitórias militares do Condestável, até ser assinada a paz com Castelo em 1411. A sua confiança em Deus e na sua justiça não vacilam: «Já muitas vezes aconteceu os poucos vencerem muitos, porque todo o vencimento é em Deus e não nos homens». Apenas com 25 anos D. Nuno é respeitado como grande chefe militar. Devotíssimo de Nossa Senhora, manda construir em sua honra muitas igrejas e capelas. Começando por Santa Maria da Vitória e pela capela de S. Jorge, em Aljubarrota, também estas: Nossa Senhora do Carmo (Lisboa) e as igrejas de Santa Maria de Vila Viçosa, Monsaraz, Portel, Sousel, e Estremoz. É tradição que se lhe deve também a imagem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, que a 25 de Março de 1646 o seu 6° neto, D. João IV, haveria de coroar como Rainha e padroeira de Portugal.

As tréguas com Castela, a viuvez precoce a morte da única filha no ano em que se despede das armas com a expedição a Ceuta (1415) levam-no a executar o antigo desejo de viver só para Deus. Senhor de pelo menos trinta e uma cidades ou vilas e das rendas de mais de outras sessenta, D. Nuno era o homem mais rico do reino. Distribui muitas das suas terras pelos camaradas de armas e entrega à família directa os títulos de nobreza (Ourém, Arraiolos, Loulé) e correspondentes domínios. Tinha mantido intacto, pela prática das virtudes humanas, militares e cristãs, o seu ideal de entrega a Deus e à Virgem. «O amor pela eucaristia e pela Virgem Maria são a trave-mestra da sua vida interior. Assíduo à oração mariana, jejuava em honra da Virgem Maria (…). Assistia diariamente à missa (…)»[1]. «Não agia por cupidez, nem permitia que houvesse discriminações ou que se retirasse para seu proveito algo que o seu legítimo proprietário não quisesse ceder; não permitia que os bens dos inimigos fossem destruídos, atendia às necessidades primárias que encontrava, protegia os fracos e tinha o sentido da humanidade para se sobrepor a razões especiosas»[2]. Despojado, pois, de títulos, cargos e bens, pediu para ser recebido na Ordem do Carmo, que ele mesmo estabelecera em Lisboa, e quis professar como irmão donato, o grau mais humilde na escala religiosa. Foi isto a 15 de Agosto de 1423. Adoptou o nome de Frei Nuno de Santa Maria, em homenagem à sua “Dama” dos tempos do ideal de cavalaria. Muito vivera ele em Lisboa; foi aqui que morreu, em 1431. O seu alto valor militar e as oscilações políticas da história levantaram entraves ao reconhecimento da santidade da sua vida. Ao fim de séculos de espera foi beatificado pelo Papa Bento XV em 1918 e canonizado pelo Papa Bento XVI em 26 de Abril de 2009.

S. Nuno de Santa Maria é santo não ter pautado a sua difícil vida pelo critério do mais forte, nem do mais rico que não conhece fronteiras ao poderio nem à riqueza, mas, sim, por ter exercido, como celibatário, casado e pai, militar e chefe, a fé, a esperança e a caridade, a misericórdia com os vencidos, a lealdade acima de tudo para com Deus e a Pátria. A memória litúrgica celebra-se a 6 de Novembro.



[1] BENTO XVI, Homilia da Canonização.

[2] NASCIMENTO, Aires A., Nuno de Santa Maria, 2010, p. 211.

texto por Alberto Júlio Silva; foto por Arquivo Jornal VOZ DA VERDADE
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