Os padres da Diocese de Lisboa que estiveram em Roma na última audiência-geral de Bento XVI recordam o ar sereno e o testemunho de amor à Igreja deixado pelo Papa alemão. Três sacerdotes contactados pelo Jornal VOZ DA VERDADE manifestam também o seu agradecimento ao agora Papa Emérito.
“Uma expectativa muito serena”
Para o padre Luís Fernandez Alves, pároco de Casal de Cambra desde 1996, o desejo era despedir-se do Papa. “Queria despedir-me de Bento XVI e participar na última audiência-geral deste Papa. Este Pontificado, embora tenha sido curto, foi um Pontificado extremamente rico, que tocou muito a minha vida pessoal, mas também a vida da paróquia e da comunidade cristã. A minha presença em Roma foi um agradecer reconhecido e, de certa maneira, renovar os meus votos de obediência sacerdotal ao seu Pontificado”, refere ao Jornal VOZ DA VERDADE. Integrado num grupo de sete pessoas, este sacerdote destaca a presença de muitos cristãos no Vaticano. “Em Roma senti que havia um ambiente muito pacífico, muito calmo. Estava-se em época baixa, do ponto de vista turístico, e de facto a maior parte das pessoas que lá estava era por causa desta audiência-geral e da despedida do Papa”. Uma despedida marcada por um “ambiente de grande expectativa, mas uma expectativa muito serena”, garante.
Naquela manhã de quarta-feira, dia 27 de fevereiro, o padre Luís Fernandez Alves sentiu-se particularmente tocado pelo ar sereno do Papa alemão, mas também pelas palavras de Bento XVI. “A maneira como o Papa se dirigiu a toda aquela multidão manifestava um grande carinho, uma grande paz e uma grande serenidade. Tocou-nos muito as palavras do Papa: ‘A barca da Igreja não é minha, não é nossa, mas do Senhor’”, assegura este padre da Diocese de Lisboa, que fez questão de estar presente na última audiência-geral do Pontificado de Bento XVI.
“Uma lição imensa de amor à Igreja!”
Também o padre António Fernando Teixeira, pároco de Carcavelos, quis manifestar a sua gratidão a Bento XVI, estando presente na última audiência-geral do Papa. “A presença em Roma teve esta dimensão brutal de sentir a dimensão da Igreja, a Igreja universal, Povo de Deus! A Praça de São Pedro estava cheia de gente, de todas as culturas, numa comunhão que não se vê muito habitualmente”. Em Roma, o padre António Fernando sentiu-se tocado pelo testemunho do agora Papa Emérito. “O que mais me marcou foi de facto a comunhão à volta daquele homem vestido de branco, que nos deu, até ao final, uma lição imensa de serviço e de amor à Igreja!”, salienta ao Jornal VOZ DA VERDADE.
Falando dos oito anos de Pontificado de Bento XVI, este sacerdote enaltece precisamente “a dimensão de serviço e amor à Igreja” dada pelo Papa: “Quando o Cardeal Ratzinger foi eleito, pensei: ‘Este homem tem que amar muito a Igreja para aceitar este cargo, porque substituir João Paulo II não ia ser fácil’. Este Papa tudo suportou por amor à Igreja!”. Para o padre António Fernando, “se alguma coisa podia definir Bento XVI é o gigante testemunho que ele deu de um amor incondicional à Igreja”.
Em Roma, este sacerdote esteve acompanhado de cinco jovens. “No nosso coração sentíamos um misto de alegria – por estarmos à volta de Pedro – mas por outro lado sabíamos que era um adeus. Estes jovens, apesar de serem bem mais novos do que eu, sentiram também esta alegria nostálgica por estarem pela última vez com este Papa”.
“Agradecer o Pontificado luminoso”
Aquando da eleição de Bento XVI, o jovem Duarte Andrade e Sousa estava na Praça de São Pedro a ver o fumo branco sair da Capela Sistina. Passados oito anos, acompanhado praticamente do mesmo grupo de amigos, o agora padre Duarte fez questão de ir a Roma despedir-se de Bento XVI. “O desejo era agradecer o Pontificado do Papa. Quis estar próximo de Bento XVI e assim agradecer-lhe este Pontificado luminoso!”, frisa ao Jornal VOZ DA VERDADE.
Ordenado sacerdote em julho de 2012, o padre Duarte Andrade e Sousa, de 27 anos, fez todo o percurso de seminário durante o Pontificado de Bento XVI. “O Papa foi eleito a 19 de Abril de 2005 e em Setembro desse ano eu entrei no Seminário! Este foi o Papa do meu tempo de Seminário! Claro que João Paulo II marcou a minha vida, como a de todas as pessoas, mas Bento XVI foi o Papa da minha vocação, do meu tempo de seminário e da minha ordenação”.
Da audiência-geral recorda o clima “de comoção e emoção”, por estar junto deste Papa pela última vez. “Via-se isso nas lágrimas de tanta gente, a começar pelos cardeais e a acabar em nós”. Nesta despedida pública de Bento XVI, o padre Duarte guarda no coração as palavras do Papa. “Marcaram-me as palavras serenas e muito lúcidas de Bento XVI, quando ele diz que a barca da Igreja não é do Papa nem é nossa, mas de Nosso Senhor Jesus Cristo”. Para este jovem sacerdote, “estas últimas palavras de Bento XVI deixam bem claro que os Papas podem passar, mas Nosso Senhor continua à frente da Igreja”.
________________
Jovens de Lisboa agradecem a Bento XVI
Centenas de jovens do movimento ‘Eu Acredito’ juntaram-se novamente ao Papa, numa Missa de agradecimento na igreja de São Domingos, em Lisboa, que decorreu em simultâneo com o final do Pontificado de Bento XVI. “Foi uma noite muito especial: juntos, enchemos a igreja de São Domingos e agradecemos pelo Pontificado de Bento XVI!”, referem os organizadores desta iniciativa que, no final, distribuíram a cada jovem um cartão com o nome de um dos cardeais do Conclave com uma oração especial.
Recorde-se que o ‘Eu Acredito’ é um movimento juvenil católico que, em 2010, levou 11 mil jovens ao encontro do Papa Bento XVI durante a sua visita a Portugal.
Informações: www.facebook.com/EuAcreditojovenscomopapa
________________
Bento XVI condecora antigo funcionário da Nunciatura
No termo da sua colaboração de 25 anos na Nunciatura Apostólica em Lisboa, Euclides Ferreira foi agraciado pelo Papa com o título de Comendador da Ordem Equestre de São Silvestre Papa. As insígnias foram impostas no passado dia 28 de fevereiro, último dia do Pontificado de Bento XVI, pelo Núncio Apostólico em Portugal, D. Rino Passigato.
O Comendador Euclides Ferreira é licenciado em Ciências Religiosas, com especialização em Teologia Pastoral, pela Universidade Católica Portuguesa. Foi professor de Teologia na Escola de Leigos do Patriarcado de Lisboa e membro da direção do Centro de Formação a Distância do Instituto Diocesano da Formação Cristã.
________________
Final do Pontificado de Bento XVI: “Vou ser um peregrino”
“Depois das 20h00 [19h00 em Lisboa], já não vou ser Sumo Pontífice. Vou ser um peregrino que inicia a última etapa da sua peregrinação na Terra”. Estas foram as últimas palavras públicas de Bento XVI no seu Pontificado, que terminou no passado dia 28 de fevereiro. Da varanda da residência de Verão, em Castel Gandolfo, nas proximidades de Roma, o agora Papa Emérito mostrou-se visivelmente emocionado, perante a multidão que se reuniu na praça fronteira ao edifício. “Continuarei disponível para rezar pela Igreja e pelo mundo. Obrigado! Com todo o coração, dou-vos a minha bênção. Obrigado e boa noite, obrigado a todos!”, declarou o Papa, antes de se retirar para o interior da residência.
Na tarde de quinta-feira, dia 28 de fevereiro, nas suas últimas horas como Sumo Pontífice, o Papa deixou o Vaticano de helicóptero, rumo a Castel Gandolfo. Vários dos seus mais próximos colaboradores fizeram questão de marcar presença, com os sinos da cidade eterna a tocarem em simultâneo.
________________
Obediência ao novo Papa
Neste último dia de Pontificado, de manhã, ainda no Vaticano, o Papa encontrou-se com todos os cardeais que já estavam em Roma, entre eles o Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo. “Entre vós está, provavelmente, o futuro Papa, ao qual já hoje prometo a minha incondicional reverência e obediência”, garantiu Bento XVI, no seu discurso perante o Colégio Cardinalício que vai eleger o Sucessor de Pedro, em Conclave. “Desejo dizer-vos que continuarei a servir-vos com a oração, especialmente nos próximos dias, para que sejam plenamente tocados pelo Espírito Santo na eleição do novo Papa. Que o Senhor vos mostre aquele que vos quer dar”. Depois, o agora Papa Emérito despediu-se individualmente de cada um dos cerca de cem cardeais presentes.
________________
Paz e serenidade
O Papa Emérito Bento XVI passou as suas primeiras 24 horas como ex-Sumo Pontífice vendo televisão e rezando, depois de ter uma boa noite de sono, segundo informou o porta-voz da Santa Sé. “Telefonei esta manhã [de sexta-feira, dia 1 de março] para o seu secretário, monsenhor Georg Gänswein, para saber as novidades e ele disse-me que Bento XVI estava calmo, que tinha dormido muito bem e que o clima é de serenidade e paz”, revelou o padre Federico Lombardi, em conferência de imprensa. Na noite de quinta-feira, após deixar o Papado, “Sua Santidade Bento XVI, Papa Emérito, assistiu a vários telejornais e ficou feliz por ver a bonita apresentação dos eventos emocionantes da tarde de ontem”, comentou o padre jesuíta, falando da despedida do Papa. “Após o jantar, como tem o hábito de caminhar depois das refeições, Bento XVI deu alguns passos no Salão dos Suíços, que fica em frente ao Lago de Albano, e depois retirou-se para fazer as suas preces e repousar”, acrescentou, salientando que Bento XVI levou para a nova casa os seus discos preferidos de música, sobretudo Bach, e muitos livros de teologia, filosofia e história. O Papa Emérito pretende também retomar o hobby de tocar piano todas as noites. “Hoje, tal como fazia no Vaticano, Bento XVI levantou-se às 7h da manhã para a Missa e recitar o breviário”, terminou o porta-voz do Vaticano.
Nesta conferência de imprensa, o padre Lombardi mostrou ainda um pequeno filme gravado no Centro de Televisão do Vaticano (CTV) que mostra o camerlengo Tarcisio Bertone a lacrar os aposentos papais no Vaticano. O apartamento ficará assim fechado até que seja eleito o novo Sumo Pontífice.
Pedro Vaz Patto
Impressiona como foi festejada a aprovação, por larga e transversal maioria de deputados e senadores,...
ver [+]
|
Guilherme d'Oliveira Martins
Há anos, Umberto Eco perguntava: o que faria Tomás de Aquino se vivesse nos dias de hoje? Aperceber-se-ia...
ver [+]
|
Pedro Vaz Patto
Já lá vai o tempo em que por muitos cantos das nossas cidades e vilas se viam bandeiras azuis e amarelas...
ver [+]
|
Guilherme d'Oliveira Martins
Vivemos um tempo de grande angústia e incerteza. As guerras multiplicam-se e os sinais de intolerância são cada vez mais evidentes.
ver [+]
|