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Sector da Pastoral Familiar
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Comparar não será a melhor pedagogia, mas saber interpretar os acontecimentos à luz de uma fé esclarecida é uma graça de Deus. Na família encontramos necessidade de reduzir os grandes acontecimentos à sua expressão mais simples, valorizando as decisões e o caminho a que elas conduzem.

Também Jesus ensinou e explicou por parábolas para que os justos resplandeçam como o Sol, no Reino do seu Pai.

 

Um percurso. Uma decisão

Aquelas dores insidiosas, outra vez. Como dentadas. Cada vez mais acentuadas, cada vez mais frequentes.

Não se pode dizer que não tivesse sido avisado.

– “O que é que andaste a bulir, hoje? Não te devias esforçar, António! Andas a dizer que largas o leme mas, se calhar, quando o fizeres não vais a tempo de gozar o resto do passeio de barco...”

A voz da mulher era o seu Grilo Falante; muito gostava ela de falar por imagens! Tão dedicada, exagerava. Agora, com a casa mais vazia, desde que os filhos mais velhos só apareciam ao fim-de-semana com os netos, aborrecia-se por estar só o dia todo. Devia ser por isso que o azucrinava sempre que, durante a noite, o sentia levantar-se para tomar o comprimido das dores.

Quem mais o assustou foi o doutor Neves. Conheciam-se desde que ele fora para a vila, acabado de formar-se em Coimbra. Bom médico, bom amigo! À antiga, como ele gostava. Mas, mesmo assim, fugia aos conselhos.

– “Oh homem, quando é que deixa a fábrica ao rapaz? Um dia destes, fica numa cadeira de rodas ou numa cama articulada; olhe que falo a sério! Fazia o que combinámos... Hoje em dia são quarenta e oito horas no hospital e recupera em casa, com juízo. Quando estiver restabelecido, tira as férias que anda a prometer à comadre Teresa desde que casou. Depois, quando estiver cansado de não fazer nada, mete-se no carro, passa pela fábrica e vem até aqui, dar dois dedos de conversa. Olhe, se eu pudesse, era isso que fazia; não há meio de colocarem gente nova para substituir quem está a ficar gasto...”

Olhava para trás. Tinha começado a trabalhar ao lado do pai aos nove anos, assim que acabara a terceira classe. Valera-lhe o tempo da tropa, quando tirou o curso industrial. Quando voltou para a terra, já casado, insistira com o pai para modernizar a oficina de marcenaria. Tornara-a uma fábrica de móveis, móveis para uma vida, com lucros seguros. O pai orgulhava-se dele.

Os anos rolaram sobre os seus ombros, sem que tivesse dado por isso. Dono da fábrica que ajudara a criar, quando viu o seu mais velho partir para a faculdade, sentira uma pontada de sofrimento. Iria ficar sem continuador?

Advogado? Advogado, sim! Neste ramo, até era bom ter alguém que percebesse de leis. A filha, professora, casada, tinha ido para a capital. O marido trabalhava lá. Era feliz, que mais queria?

Depois o Carlos. Para todos, era o Carlitos, sempre fora e seria...! O Ai Jesus da família...

Mas que dores de cabeça! Muito mais novo que os irmãos, fora mimado por todos. Ele mesmo, senhor de ideias rígidas sobre educação, desconhecera-se, enquanto lhe ia permitindo coisas que aos outros tinha negado, com mão de ferro.

Devia ser da idade, desculpava-se. Este era quase um neto!

Na cabeça estroina do filho mais novo, depois de alguns chumbos no secundário, nascera a ideia de um curso de Artes.

– “Curso de Design? Isso não é coisa de rapariga?”

E lá se portou bem, o rapaz. Atinara, pelo menos assim parecia.

Depois vieram as ideias do Erasmus em Itália e em França, com uns amigos. Tanto dinheiro fora da carteira!...

E os negócios estavam a baixar. A concorrência era feroz. Ele começava a sentir-se cansado, com dores de costas cada vez mais frequentes. Era o preço a pagar por tanto esforço!

Mas o raio do rapaz não se ficava pelos estudos no estrangeiro! Veio com mania de aprender restauro de móveis, coisa que tinha gostado muito de fazer, enquanto estivera a estudar em Itália. Porque estudara, efetivamente! Não se passeara, apenas. E a irmã, por detrás, a dar-lhe apoio.

– “Se é o que ele gosta... E até pode ser uma mais-valia para o negócio do pai; uma saída para os tempos adversos que a fábrica enfrenta. Deus escreve direito...”

Chegou-se ao parapeito do escritório, no primeiro andar, que dava para o piso térreo da fábrica.

Ali estava ele, o Carlitos. Rodeado por dois colegas e amigos, que trouxera consigo de um dos cursos de especialização, à volta de máquinas que ‘cospiam’ desenhos a três dimensões. Via o filho correr das máquinas aos modelos idealizados por ele, construídos sob a sua supervisão e comercializados na loja de decoração que, agora, tinham na cidade e era um sucesso, apesar da crise.

Havia reuniões, a que ele presidia, mas ficava calado, ouvindo falar das tendências do mercado, da necessidade de internacionalização, das campanhas de marketing, dos sítios da internet em que era preciso divulgar, apresentar soluções ajustadas às novas gerações...

Já não era o seu mundo. Não se sentia com saberes nem forças para passar esta fronteira.

Depois ouvia o seu Carlos a ser chamado ao atelier de restauro. Aí era um outro homem. As mãos sensíveis afagavam um relógio do século passado, cuja talha se evaporara entre heranças e épocas de pó, esquecimento e insensibilidade.

– “Cada móvel antigo tem uma história, pai, vida própria! É preciso senti-lo, respeitá-lo e cuidar dele como de um doente que precisa de um médico e de um amigo.”

Quando é que o Carlos crescera e amadurecera?

Foi então que se fez luz. O mundo agora era o do seu filho. Tal como ele próprio, António Lopes, tinha ajudado o negócio do pai a crescer e adaptar-se aos tempos, reconhecia que era agora tempo de apoiar mas deixar a liderança a quem estava mais habilitado e tinha mais forças para enfrentar os novos desafios de uma globalização que ele não compreendia em toda a sua abrangência.

E ia tratar-se. Desta é que era!

* * *

Todas as decisões difíceis são muito sofridas, mas são sempre o resultado de um percurso. Ao querermos explicar aos mais novos toda a carga mediática à volta da resignação do Papa Bento XVI, lembrámo-nos desta história, quantas vezes vivida e repetida no mundo da família e da empresa. É apenas uma história, mas que ilustra a humildade e o saber de quem decide dar o lugar a outros.

Sua Santidade Bento XVI, o Papa Emérito, ensinou-nos não só pelo que disse ao longo do seu Pontificado, mas pelo gesto que acaba de tomar. É uma verdadeira encíclica de amor à Igreja em plena consciência, pela coragem de fazer esta escolha difícil para o bem da Igreja. Este seu “para sempre” é ainda uma entrega a Deus, agora pela oração intensa a que devemos corresponder, pedindo ao Senhor que nos ajude a todos nós, em Igreja, a darmos testemunho da nossa Fé no mundo.

Há que revitalizar a alegria de ser cristão. Não há razões para ter medo do futuro. O dono do barco é o Senhor do vento e o dono do mar. A Igreja é de Jesus Cristo que a anima e a alicerça, para que subsista para sempre.

Repetimos aqui, fazendo nossas as palavras do Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Tarcisio Bertone ao Papa Bento XVI: «Obrigado por nos ter dado o exemplo luminoso de simples e humilde trabalhador na vinha do Senhor. Um trabalhador que, no entanto, soube em cada momento realizar aquilo que é mais importante: levar Deus aos homens e levar os homens a Deus. Obrigado!»

 

 

__________________


Catequese doméstica: Compreender o Reino pelas Parábolas

Temos refletido que toda a vida de Cristo foi um contínuo ensinamento: os seus silêncios, os seus milagres, as suas atitudes, a sua oração, o seu amor pelo homem, a sua predileção pelos pequenos e pelos pobres, o seu sacrifício total na cruz pela redenção do mundo; tudo é cumprimento da Revelação.

Jesus não veio ao mundo para abolir todos os males deste mundo, mas para libertar os homens da mais grave das escravidões, a do pecado. (cf Jo 8, 34-36)

Jesus convida os pecadores para a mesa do Reino: “Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores” (Mc 2, 17) Convida-os à conversão, sem a qual não se pode entrar no Reino. Por palavras e por actos Jesus mostra-lhes a misericórdia sem limites que o Pai tem para com eles e a imensa “alegria que haverá no Céu, por um só pecador que se arrependa “ (Lc 15, 7) Entenderemos, portanto, que a vinda do Reino de Deus é a destruição do reino de Satanás.

Jesus chama para entrar no Reino por meio de parábolas, traço característico do seu ensino. Por meio das parábolas convida para o banquete do Reino. Porém, para merecer o Reino é preciso dar tudo (Mt 13, 44-46)

Jesus foi enviado para trazer a Boa Nova aos pobres (cf. Lc 4, 18). O Reino é dos «pobres e dos pequenos», quer dizer, dos que O acolheram com um coração humilde e Jesus partilha a vida dos pobres, desde o presépio até à cruz.

As parábolas são para o homem uma espécie de espelho:

- Como é que o homem recebe a Palavra? Como chão duro, ou como terra boa?

- Que faz o homem dos talentos recebidos?

- É preciso entrar no Reino, quer dizer, tornar-se discípulo de Cristo para “conhecer os mistérios do Reino dos Céus” (Mt 13, 11)

O fim destas parábolas é descrever a natureza do Reino dos Céus e o modo da sua chegada. Note-se, afinal, que o ponto mais importante da parábola não é a sementeira, mas a colheita, que pertence ao Senhor.

texto do Sector da Pastoral Familiar; fotos por Siciliani-Gennari/SIR
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