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Alfredo Bruto da Costa
Uma vida dedicada ao combate à pobreza
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Alfredo Bruto da Costa, atual presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, é casado com Vera, sua conterrânea, mas que só encontrou em Lisboa. Juntos têm um casamento longo. Da união dos dois, nasceram duas filhas e hoje são avós de quatro meninas e um menino.

 

Faz questão de sublinhar, “para quem não saiba: os netos são uma maravilha, não só os meus, mas também os meus.” Do seu percurso cristão, destaca alguns momentos marcantes que teve a graça de viver: a passagem por escolas jesuítas, o estímulo (através da leitura) de grandes pensadores católicos e o Concílio Vaticano II. Com saudade, recorda o Pe. Armindo Duarte.

 

Infância e adolescência vividas na Índia

Alfredo Bruto da Costa celebra em Agosto 75 anos. Nasceu em Goa, no dia dedicado a Nossa Senhora das Neves, e aí completou o ensino primário, em português, língua falada em sua casa. Terminada a 4ª classe e, perante a possibilidade de continuar os estudos no liceu português ou seguir o ensino secundário em língua inglesa, numa escola jesuíta, decidiu pela segunda. Não consegue explicar a razão desta opção, sobretudo porque em casa se falava português, mas recorda que foi em 1947, ano em que a Índia se tornou independente. No sistema escolar, tudo continuou como até então. A única alteração curricular consistiu na substituição da História de Inglaterra pela da Índia. Sete anos mais tarde, termina o ensino secundário. Alfredo queria ser advogado, tal como o pai, que jubilava com o interesse do filho em seguir a sua profissão. No entanto, naquela altura, no mais íntimo de si, o então estudante estava convencido de que não seria capaz de falar em público, pelo que acreditava que seria um desastre profissional, em prejuízo dos clientes. Engenharia era a segunda escolha e, em 1954, com 16 anos, muda-se para a imensa cidade de Bombaim, onde ingressa no curso de Engenharia, na Universidade a cargo dos padres jesuítas. Aqui faz os dois anos preparatórios.

 

Em Portugal, a descoberta do pensamento social da Igreja

Aos 18 anos, Alfredo Bruto da Costa vem para Lisboa, numa conturbada viagem de barco. E, apenas com a 4ª classe em Português, ingressa no Instituto Superior Técnico, no Curso de Engenharia Civil. Recorda que falava português corrente, mas com bastantes lacunas. Tinha consciência destas suas limitações e defendia-se falando pouco, para estranheza da família, que o conhecia como um rapaz falador.

Naquele tempo, o Curso de Engenharia tinha a duração de seis anos. No 3º ano, Alfredo sente uma fome de leitura. Na Livraria Barata, comprava livros a crédito e lia, sobretudo, filosofia, teologia e ensinamento social da Igreja. No 4º ano, com um progressivo desinteresse pela licenciatura, já sabia que não queria ser engenheiro, mas também não sabia exatamente o que queria. “Podia ser Arquitetura, interessava-me mais a estética das construções do que a estabilidade e a resistência…, Direito, Filosofia, Economia, enfim…”. A prudência aconselhou-o a terminar o curso e a decidir depois o que fazer. No último ano, integra o órgão de planeamento económico e social, ao qual permanece ligado durante toda a sua vida profissional. Hoje, reconhece que a leitura mudou o sentido dos seus gostos, sobretudo a influência de Gustavo Corção e  Alceu Amoroso Lima, dois pensadores católicos brasileiros.

Depois de terminar o curso de engenharia civil, exerce a profissão durante quase um ano, na obra de construção do canal condutor principal do aproveitamento agrícola do rio Mira. Logo de seguida, regressa ao órgão de planeamento económico e social. “Era uma atividade que encaixava no meu renovado perfil de preocupações.” E não mais volta a exercer engenharia.

 

A pobreza no centro das suas preocupações

Em Outubro de 1974 é nomeado Provedor da Misericórdia de Lisboa, onde exerce um mandato de cinco anos. No final dos anos 70, conhece o Pe. Armindo Duarte, então pároco da Igreja de Santa Isabel, em Lisboa, que o marca profundamente e que se torna seu confessor até este se encontrar definitivamente com o Pai, em 2007. Entre 1979 e 1980 foi Ministro dos Assuntos Sociais, do V Governo Constitucional, chefiado por Maria de Lurdes Pintasilgo. No órgão de planeamento económico e social dedica-se, principalmente, ao estudo das condições de vida e da pobreza. Em 1986, no decurso do segundo programa europeu contra a pobreza, e depois de Portugal ter entrado na Comunidade Económica Europeia (CEE), é contactado pela Comissão Europeia para facultar informações sobre a situação da pobreza em Portugal. Pouco tempo depois, é contratado como consultor da Comissão Europeia para o 3º Programa Europeu de Luta Contra a Pobreza (1989-1994). Durante este período, aprofunda os seus estudos e faz o doutoramento no Reino Unido, com tese intitulada “O paradoxo da pobreza – Portugal 1980-1989”, com equivalência ao grau de doutor em Sociologia, pela Universidade Nova de Lisboa. Pouco depois, é convidado a lecionar na Universidade Católica Portuguesa e, mais tarde, noutras universidades portuguesas. Alfredo Bruta da Costa foi ainda membro do Comité Europeu de Direitos Sociais, do Conselho da Europa e do Comité Consultivo Internacional para a Pobreza e Direitos Humanos e foi ainda presidente do Conselho Económico e Social, cargo que ocupou até aos 70 anos, idade em que se reformou. Desde 2008 é presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz.

texto por Ana Patrícia Fonseca, FEC – Fundação Fé e Cooperação
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