Entrevistas |
Filipe Teixeira, o único voluntário português da organização da JMJ Rio’2013
“Gestos de amor de Francisco lançam expectativa sobre o diálogo do Papa com a juventude”
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Costuma dizer, em tom de brincadeira, que é o único voluntário da organização da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) que fala a língua portuguesa. Filipe Teixeira é um jovem de Lisboa que está no Rio de Janeiro, Brasil, desde novembro e, ao Jornal VOZ DA VERDADE, fala da sua missão em terras brasileiras e das expectativas para a JMJ, que vai decorrer de 23 a 28 de julho.

 

Há cerca de quatro meses e meio partiu de Lisboa rumo ao Rio de Janeiro para ser voluntário na JMJ. Antes da partida, dizia ao Jornal VOZ DA VERDADE que a motivação era o estar ao serviço da Igreja. Estando a meio desta missão que se completa com a jornada, que primeiro balanço faz da presença em terras brasileiras?

O balanço é mais do que positivo! Foi muito boa a forma como as coisas aconteceram! Poder dar esta disponibilidade à Igreja é um privilégio mas tem uma condição: deixar de lado aquilo que nós chamamos a ‘zona de conforto’, para receber cada vez mais, ou seja, estar disponível para receber, diariamente, aquilo que o Senhor quer! E aqui falo de coisas concretas: alimentação, transporte, passeios, tudo isso vejo que o Senhor se utiliza das ‘peças’ certas para nos dar. Vejo isso comigo e com todos os outros voluntários.

 

O que sente ao ser o único voluntário português na equipa de voluntários da organização da JMJ Rio’2013?

Costumo dizer, em jeito de brincadeira, que sou o único voluntário da JMJ que fala português! Esta é uma frase que na organização já todos fixaram. Há uma grande proximidade entre o Brasil e Portugal, existe um carinho muito grande. Tenho procurado dar uma visão do meu país em relação à vivência da fé e, com isso, mostrar que a ligação entre os dois países vai para além da língua ou da história.

 

Esta experiência mudou algo em si e na sua relação com Cristo?

Tornou-me mais pequeno… Sinto que estou num lugar privilegiado, neste momento, da Igreja. Não que me sinta capaz de lá estar, mas porque Deus escolheu! Vejo isso comigo e vejo isso com todos! Aqueles que o Senhor escolhe, Ele próprio encarrega-se de lhes dar os instrumentos para essa missão! E sinto-me pequeno neste sentido. Privei-me de muita coisa que tinha em Lisboa, da tal ‘zona de conforto’, para receber o que Deus quer! E aí confesso que tenho estado muito mais disponível para a oração!

 

Foi para um local, o Rio de Janeiro, onde não conhecia ninguém, mas em que todas as pessoas com quem trabalha têm a marca e a identidade do cristão. Isso poderá ter facilitado a integração?

Sim. Cada voluntário internacional que chega traz muito do seu país, inclusive as tradições católicas, os costumes celebrativos. Isso tem servido para enriquecer o grupo! Temos várias atividades de voluntários internacionais que no fundo permite a todos que nos ajudemos na integração – é verdade que um português mais facilmente se integra, porque a língua é a mesma! – mas há um período normal de integração que diz respeito a métodos de trabalho, a adaptação aos transportes e ao estilo de vida que é próprio do Rio de Janeiro. Tenho sentido uma grande união e um grande apoio, não só dos estrangeiros que chegam como também por parte das gentes locais, seja a família de acolhimento, os amigos ou as pessoas que vamos conhecendo nas visitas às paróquias. O povo brasileiro está muito disponível para receber os peregrinos, que falam a mesma linguagem da fé!

 

Que Igreja encontrou no Rio de Janeiro?

O Brasil tem uma vivência um pouco diferente do que nós temos em Portugal e na Europa. Existe uma participação muito mais carismática, mas que não tem sido obstáculo. Por outro lado, é muito interessante ver a união de vários movimentos da Igreja em torno da mesma missão.

 

Falando em concreto desta missão, qual é o seu papel na estrutura que prepara a JMJ?

Existem atualmente cerca de 130 voluntários no chamado COL, Comité Organizador Local. Eu estou como voluntário no Setor Comunicação, trabalho na parte gráfica, como designer, em especial na criação de conteúdos gráficos para diversos suportes para divulgação da jornada.

 

Como são os dias no COL?

Nós chegamos por volta das 9h da manhã. Ao meio-dia rezamos o Angelus, a que se segue a Eucaristia, na capela. Após o almoço, temos uma tarde normal de trabalho, que acaba por volta 18h-19h. À quarta-feira temos o dia de oração, com Adoração ao Santíssimo, em que cada hora, desde as 9h até às 17h, é da responsabilidade de um setor da organização. Têm sido momentos importantes, porque à medida que o Senhor nos vai chamando, vai-nos dando as ‘armas’, como é a Adoração, para que esta missão se torne possível e seja realizada!

Aos fins-de-semana, por vezes vamos às comunidades ou estamos disponíveis para qualquer atividade do COL. Se não houver nada de agenda, passeamos e conhecemos um pouco o Rio de Janeiro.

 

É muitas vezes convidado a dar testemunho sobre a sua participação em cinco Jornadas Mundiais da Juventude (Roma’2000, Toronto’2002, Colónia’2005, Sidney’2008 e Madrid’2011)?

O Brasil não tem uma tradição de JMJ. Até Madrid, poucos brasileiros sabiam o que era este encontro dos jovens com o Papa. Os voluntários internacionais e, em particular, os que têm participado noutras Jornadas Mundiais da Juventude acabam por ser mais requisitados – não só por parte da comunicação social mas também pelas paróquias – para dar testemunho sobre o que são as Jornadas Mundiais da Juventude. No fundo, falar sobre o que Deus fez com aqueles que participaram nas jornadas. Há pouco tempo houve um encontro com todos os bispos do Brasil e fomos também dar testemunho não só sobre a JMJ, mas em especial sobre o legado da jornada.

 

Como é que o Brasil está a viver este tempo de preparação?

Noto que o Brasil já está em clima de jornada! A Jornada Mundial da Juventude já começou em todo o país! A partir do meu trabalho vejo que todas as paróquias e dioceses iniciaram toda a mobilização necessária para organizar este grande evento! O Brasil está a viver um momento de crescimento económico e acredito que a Jornada Mundial da Juventude está a ser olhada como muito importante para que esse crescimento económico não seja somente de economia e de dinheiro, mas possa também ser um crescimento de valores e espiritual. E que valores são estes? São os valores cristãos, aqueles que nós, portugueses, levámos há 500 anos atrás!

 

Quais as expectativas da organização para a participação de jovens de todo o mundo na JMJ?

Nós estamos a trabalhar para acolher dois milhões e meio de peregrinos. Sabemos que, até ao momento, grande parte das inscrições são da América do Sul. Com a eleição de um Papa da América do Sul – o Papa Francisco – é natural que cresça também o número de jovens da Argentina.

De Lisboa, serão aproximadamente 50 os jovens que vão participar na JMJ e que farão também a Semana Missionária (pré-jornada) na Diocese de Petrópolis.

 

Tudo estava a ser preparado para acolher Bento XVI. De que forma a organização da JMJ acolheu a eleição de um Papa argentino?

Costuma-se falar muito na rivalidade entre brasileiros e argentinos, mas isso é mais no futebol… Foi com grande alegria que recebemos as notícias da renúncia de Bento XVI e da eleição do Papa Francisco. A realidade é que não estávamos à espera da renúncia do Papa alemão e tudo estava preparado para ser Bento XVI o Papa da jornada. Mas o Senhor altera-nos os planos! Recordo-me do último discurso do Papa Bento XVI e de facto percebemos que é o Senhor quem leva esta barca. A Jornada Mundial da Juventude é mais um elemento dentro desta mesma barca! O Papa Francisco acaba por ser um presente muito especial, porque o discurso que utiliza aproxima-o muito das pessoas da América Latina. Francisco fala de uma maneira simples e o facto de ser da América Latina motivou ainda mais para que o Brasil olhasse para a JMJ com outros olhos. Eles têm a certeza que este será um evento que fará história!

 

De que forma a organização da JMJ e o povo brasileiro têm sido tocados pelos sinais de pobreza que o Papa Francisco tem manifestado?

É um facto que Deus se manifesta aos mais pobres e isso vê-se muito através deste Papa. Quando nos entregamos à Igreja, há coisas que acabam por ficar para trás e isso tem sido muito bom para descobrir a Deus!

Mais do que mostrar sinais de pobreza, estou certo de que o Papa trará à Igreja uma mensagem de que Deus está próximo, está próximo de nós e quer o nosso bem! Os gestos de amor de Francisco aproximam ainda mais os jovens do Papa e deixam uma grande expectativa sobre qual vai ser o diálogo do Papa com a juventude no Rio de Janeiro!

 

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Mensagem aos jovens

“O que eu posso dizer a todos os jovens é que não tenham medo de embarcar nesta aventura, que é ir ao encontro de Cristo! Mais do que todos os pontos turísticos que o Rio de Janeiro pode oferecer, sem dúvida é o encontro com Cristo que vai marcar a Jornada Mundial da Juventude. O Rio de Janeiro, a Arquidiocese e todos os voluntários brasileiros e internacionais estão prontos para receber todos os peregrinos vindos de todo o mundo! Tal como o Cristo Redentor, também eles estão de braços abertos para os receber!”

 

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Filipe Teixeira

Aos 28 anos, este jovem da paróquia de Camarate e membro do Caminho Neocatecumenal é designer de profissão e faz parte da equipa diocesana do Serviço da Juventude do Patriarcado de Lisboa.

Após cerca de quatro meses e meio no Brasil, Filipe Teixeira veio passar a Páscoa com a família a Portugal – onde concedeu uma entrevista exclusiva ao Jornal VOZ DA VERDADE –, tendo regressado ao Rio de Janeiro no passado dia 9. Recorde-se que este jovem mantém uma coluna mensal neste jornal, intitulada ‘Visto do Rio’, onde vai dando conta da sua missão na JMJ.

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