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Dia Mundial da Terra
A TERRA – casa de todos
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São relevantes as razões que nos levam a celebrar, no dia 22 de Abril, o “Dia Mundial da Terra”, continuando uma tradição que vem de 1970, quando o senador Gaylord Nelson promoveu um protesto contra a poluição, após o desastre petrolífero de Santa Bárbara, na Califórnia, em 1969. Conseguiu que mais de 20 milhões de americanos se manifestassem pela preservação da Terra e do Ambiente.

 

Vai-se despertando

A preocupação envolve organizações, mas também vai conquistando espaço na escola e na opinião pública. Hoje podemos dizer que ela se inclui na espiritualidade cristã; não é uma questão de moda ou de exotismo. O capítulo IV da Encíclica “Caridade na Verdade” aponta a responsabilidade de todos perante o respeito e a proteção da natureza, fruto da “solidariedade universal que é para nós não só um facto e um benefício, mas também um dever”. E ainda: “O modo como o ser humano trata o ambiente influi sobre o modo como se trata a si mesmo e vice-versa”.
É de realçar no pensamento e na prática dos teólogos da América Latina essa consciência, nascida da proximidade aos pobres, o que os tornou mais sensíveis para a luta contra o roubo, a opressão e a violência. Num dos primeiros momentos em que o Papa Francisco se dirigiu ao povo referiu a palavra “ambiente”. É normal que alguém que ”foi buscado no fim do mundo” tenha essa sensibilidade pastoral, porque essa é uma preocupação do povo de quem ele e os seus irmãos bispos são pastores. O realce que, por pequenos gestos e palavras, tem dado ao escândalo da pobreza dá a entender que a nova evangelização tem de passar necessariamente pela luta contra ela, porque a missão dos discípulos é a mesma do Mestre, pronunciada em Nazaré: anunciar a boa notícia da libertação.

  

Agredindo a Terra, agridem-se as pessoas
Como falar de Boa Nova quando neste preciso momento há crianças a morrer, vítimas da fome e da guerra? Paradoxalmente o Norte desenvolvido, falando tanto das crianças e das ofensas contra elas, parece cego diante dos conflitos armados que continuam a provocar milhões de mortes e danos irreversíveis contra a natureza. Basta lembrar as guerras esquecidas da República Democrática do Congo e as ramificações em toda a região, e a sua raiz na luta pela exploração dos minerais, nomeadamente o coltan, o ouro e os diamantes. Mas os interesses instalados das grandes companhias e dos senhores da guerra conseguem que os media internacionais se mantenham calados perante um drama que já provocou mais de 5 milhões de mortos. Falando de companhias pensamos nos produtores de computadores, telefones celulares, consolas de jogos e toda a parafernália de equipamentos eletrónicos. Para produzirem precisam desse “ouro azul”, o que só conseguem mediante o suborno e a corrupção. Mas com o objetivo exclusivo do lucro, o que é que lhes dá mais uns milhões de mortos? A própria ONU já denunciou essa exploração no Congo com o envolvimento do Ruanda, do Uganda e do Burundi no tráfico do coltan, uns beneficiando da proteção e os outros de milhões de dólares para a compra de armas; por isso não hesita em falar de “saqueadores”.
Não se trata só da exploração de recursos naturais; os seus efeitos atingem os pobres e o ambiente. Os agricultores e criadores de gado são forçados a deixar as terras, engrossando o número dos explorados, ao lado dos refugiados de guerra, bem como de numerosas crianças que trabalham de sol a sol, sem condições, malnutridas e sujeitas a todas as arbitrariedades. Nessa guerra brutal, há que realçar a violência execrável contra as mulheres e as meninas; a ONU afirma que a RDC é a “capital mundial das violações”; aí a violação tornou-se uma banal arma de guerra. Mas também a natureza se torna uma vítima indefesa: os campos e as florestas são transformados em pântanos e lodaçais envenenados; os parques naturais são invadidos e cegamente desfigurados; a população animal é atingida, como no caso dos elefantes, reduzidos em cerca de 80%.

 

Estamos nisto
Este é só um exemplo da irresponsabilidade do mundo desenvolvido perante o desprezo do ser humano e a agressão ao planeta que é a casa de todos. E nós, já pensámos que cada telemóvel que usamos tem atrás de si sangue e morte? A Igreja não terá de estar mais virada para fora, de forma a identificar-se dentro de si mesma com o Mestre e a sua missão?

texto por Valentim Gonçalves, CJP-CIRP
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