Missão |
Carmo Fernandes
Dar continuidade à Obra de Deus
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Carmo Fernandes nasceu no Porto num dia frio de inverno, a 15 de janeiro de 1971. O Porto é, desde então, a sua cidade do coração. A garra, a espontaneidade e o sentido de pertença que reconhece nos tripeiros, inspiraram-na desde sempre.

 

Carminho, como a costumam chamar, é a filha mais velha entre dois irmãos. Ainda hoje se lembra da história da ‘pombinha branca e da pombinha vermelha’ que o seu pai inventou e lhe contava todas as noites. A história contava, afinal, o percurso de duas aves que simbolizavam a amizade entre quem é diferente. Da sua infância, também recorda as brigas e cumplicidades com o Miguel, o seu irmão mais novo 3 anos e meio, que sempre apanhou boleia das ‘portas ‘ que Carmo foi abrindo como filha mais velha. Crescer e viver na rua Infante D. Henrique, em Águas Santas, na segurança de uma família cheia de amor, no espírito de comunidade de vizinhos e amigos que faziam da sua rua um mundo de aventuras, permitiram-lhe crescer com o gosto de estar com os outros, de fazer coisas em conjunto, de querer aprender coisas novas.

 

Balanço de ‘Um Antes’ e ‘Um Depois’ de S. Tomé e Príncipe

Ao olhar para trás e ao fazer um balanço do seu percurso de vida, Carmo identifica claramente um marco que assinala um “antes” e um “depois”. Ter partido para S. Tomé e Príncipe em 1995 como missionária pelos Leigos para o Desenvolvimento, transformou de tal maneira a vida que a fez descobrir uma vocação que não imaginava ter. Até essa altura, foi uma criança feliz, uma adolescente e uma jovem de bem com a vida, relativamente empenhada nos estudos, com amizades fortes, integrada em grupos com pessoas semelhantes a si. Este espaço e tempo de crescimento foi também vivido na Paróquia de Águas Santas, no bonito Mosteiro da N. Sra do Ó. Foi batizada pelo P. Ramiro, fez a catequese e a 1ª Comunhão e a Solene, integrou os grupos de jovens e o coro. Foi preciso chegar aos 22 anos, já depois de ter descoberto o CREU – Centro de Reflexão e Encontro Universitário, para decidir a  vida por Cristo, altura em que fez o crisma.

Todo este caminho descontraído foi acompanhado pelo crescimento nas escolas católicas por onde passou, onde lhe foi possível aliar o conhecimento e a fé.  Começou por pensar que seria economista, mas bastou um ano para perceber que era algo que não queria. Mas nova decisão se impunha, agora já no Liceu Rainha Santa Isabel. Fez o secundário na área de Ciências e o percurso foi-se confirmando, até decidir que queria seguir a carreira de farmacêutica, imaginava-se farmacêutica nava.

E é assim que, em 1988, entra na Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto. E, ao mesmo tempo que crescia no conhecimento científico, começava a descobrir os outros de uma forma completamente nova. Desde o início se envolveu na associação de estudantes e na comissão de curso.

 

Voluntariado transformador

Mas o mais transformador começou de facto a surgir quando a amiga Luísa lhe fala da experiência de GASÁfrica que teve na Guiné Bissau. “No início não dei grande importância, achei que não tinha nada a ver comigo. Mas fui levada ao CREU e a descobrir o mundo do voluntariado. E aí sim, tudo começou a mexer dentro de mim.”

Inicialmente, na prisão de Santa Cruz do Bispo. “Aí aprendi a disponibilidade para ouvir, a capacidade de não julgar, a confiança na conversão, o compromisso de permanecer. Até que acabei mesmo por me inscrever no GASÁfrica e parti para Luanda. Foram apenas 2 meses, mas de uma intensidade, de uma dureza, de uma generosidade, de uma profundidade na oração, que acabou por ser o advento do que estava para acontecer. Muitas vezes tive vontade de desistir, de apanhar o avião e de correr para a tranquilidade da Rua Infante D. Henrique. Mas descobri o que significa viver em comunidade, de rezar comunitariamente. E aí, as fraquezas, as incompreensões, as limitações, conseguiam ser integradas e aceites por cada um de nós. E em cada novo dia, todos voltávamos para a mesma enfermaria, já com sorrisos no rosto, porque percebi que era a isso que éramos chamados. A levar amor a cada um daqueles mutilados, a ser testemunho de esperança junto de um povo.”

 

Revolução Interior e os Leigos para o Desenvolvimento

A revolução interior estava em marcha e a capacidade de tomar decisões começou a ser, inesperadamente, mais simples. Depois de regressar de Luanda, começou a trabalhar no Hospital S. Pedro na Póvoa do Varzim, mas veio decidida a preparar-se para voltar a partir para África. Tinha percebido que o mundo é muito desigual em oportunidades e que a sua rua era um privilégio! É aí que os Leigos para o Desenvolvimento (LD) cruzam com a sua vida e a fazem perceber que o Desenvolvimento é um direito de todos e que cada um é chamado a dar o seu contributo.

 

A Missão em S. Tomé e Príncipe muda a sua vida

E assim partiu para S. Tomé e Príncipe, mais concretamente para a Roça de Água Izé. Descobriu um povo acolhedor, alegre, com uma história difícil. Com vontade em ser independente, mas com dificuldade em assumir essa exigência. Trabalhou com associações de agricultores, com grupos de mulheres, deu aulas e formação, apoiou comunidades a descobrir que se se organizarem são capazes de resolver problemas, integrou equipas que todos os dias procuravam ser melhores. A passagem por S. Tomé fez com que descobrisse uma vocação para trabalhar com pessoas e percebesse que essa era a sua missão em qualquer lugar do mundo, mesmo em Portugal. A partir de 1998, deixou então a carreira de farmacêutica e veio para Lisboa.

Desde essa altura já trabalhou em várias organizações, com culturas diferentes e  abordagens distintas, mas sabe bem quais são os seus princípios e não tem dúvidas sobre a rocha onde edifica o seu caminho. “Continuo a ser frágil, a ter receios, a viver alguns desencantos, a fraquejar na fé, mas acredito de forma inabalável no valor do Ser Humano e na oportunidade que cada novo dia nos oferece. Para mim, é isto que significa viver a minha Missão. Aceitar cada pessoa, cada problema, cada alegria, cada responsabilidade com os olhos, as mãos e o coração de Deus. Estar disponível e ter confiança para dizer “sim” a cada novo sinal, a cada nova proposta. Só assim consigo explicar estar desde 2010 na direção dos Leigos para o Desenvolvimento, voltando ao mundo que me transformou e me continua a inspirar todos os dias. ”

texto por Vanessa Furtado, FEC – Fundação Fé e Cooperação
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