Missão |
Pe. João Coelho Baptista
Na Aurora da Paz
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O Pe. João Coelho Baptista é natural de São Julião do Tojal, Loures, onde nasceu no dia 9 de Abril de 1932. A infância foi passada na terra natal e foi marcada pela vida dura do campo: “Hortas, quintas, olivais, mondas de trigo, tratar de gado, carregar molhos de erva pesados, bilhas de água e de leite, padiolas de hortaliça e tudo o mais”.

 

Aos 16 anos de idade deixou o campo e foi trabalhar para uma fábrica. Apesar de sempre ter sentido “grande inclinação e gosto pelas coisas da Igreja e da religião”, o agora Pe. João nunca tinha pensado vir a ser sacerdote. Mas foi precisamente na fábrica, como ajudante de serrador de lenha para os fornos, debaixo de um barulho ensurdecedor que este jovem se sentiu chamado ao sacerdócio: “ainda recordo perfeitamente a hora, o lugar onde isso aconteceu; foi uma ideia fulminante que me disse ‘podes estudar para padre!’Ainda muito jovem, esta inquietação vocacional despertou nele muito sofrimento e muita ânsia que foram ultrapassados com igual fervor na oração. Três anos depois deste momento marcante na sua caminhada vocacional, o jovem João entrou para o Seminário das Missões da Consolata, em Fátima, no dia 18 de Outubro de 1951, poucos dias depois do encerramento do Ano Santo. Em 1956, ingressou no Noviciado em Itália onde fez os seus estudos de Filosofia e Teologia e no dia 30 de Março de 1963, na cidade de Turim, com mais trinta e três companheiros de várias nacionalidades, foi ordenado sacerdote. A 14 de Julho desse mesmo ano regressou à sua terra natal para celebrar a primeira Missa: “a alegria e o regozijo da minha gente não tinham medida, tanto mais que, durante todo o século XX, não houve mais nenhum sacerdote, não só no Tojal, mas em todo o concelho de Loures”. Os primeiros três anos de sacerdócio foram passados em Portugal a trabalhar nos Seminários Menores.

 

Partida para Moçambique

No dia 4 de Setembro de 1966 o Pe. João Baptista partiu para as Missões de Moçambique com destino à Diocese de Vila Cabral, no norte do país. A sua primeira paragem foi na grande missão de Massangulo, a trezentos quilómetros de Vila Cabral. Daí foi para a Missão de Nova Freixo onde chegou no dia 8 de Setembro e onde ficou como vice-pároco. Ainda em 1966 iniciou as aulas no Colégio de São Teotónio, fundado por D. Eurico Dias Nogueira. Para além da sede da paróquia, a equipa de missionários onde o Pe. João Baptista se inseria, tinha ainda a responsabilidade sobre mais de quinze escolas-capelas nas aldeias e iniciaram ainda a construção de um novo colégio, do Seminário Menor e da residência das Irmãs. Em Maio de 1967, o pároco, o Padre Joaquim Alves Ferreira, faleceu num acidente de moto, e o Pe. João teve que assumir a responsabilidade por esta missão até à chegada de um novo pároco alguns meses depois.

 

Nova missão em Moçambique

Depois de Nova Freixo, o Pe. João Baptista foi enviado para a Missão de Santo António de Unango onde o trabalho também era muito. O Pe. João recorda-nos assim o primeiro impacto na chegada a este novo desafio: “Havia três aldeamentos com mais de duas mil pessoas cada um. As crianças eram numerosas, mas nas escolas tínhamos apenas 120 alunos. No ano seguinte eram já 1200 crianças nas escolas infantis e 170 inscritos nas aulas nocturnas para adultos, 109 homens e 61 mulheres.” A impossibilidade dos padres de Cuamba continuarem a assistir o distrito de Mandimba e os frequentes pedidos da população ao Bispo para ter um sacerdote, levaram o prelado a pedir ao Pe. João para ficar também responsável pelas missões de Mandimba e Belém (hoje Mitande). Foi preciso começar tudo de princípio: “cabia-me dar assistência a duas paróquias que distavam 45 quilómetros uma da outra, a dezasseis Escolas-capelas rurais e a dois quartéis militares; e tudo isto sem residência, sem igreja em Belém, sem carro e ainda a dar aulas na Escola Primária”. Mesmo com tantas dificuldades, ao fim de dois anos, foi possível construir a residência para o pároco, terminar uma capela em alvenaria e começar os alicerces da igreja.

 

A Missão em livro

Em 1971, o Pe. João regressou a Portugal mas sempre com o desejo de regressar às missões de onde partira com muita saudade. Tal desejo só se concretizou em 1989 e por lá ficou durante 21 anos: “foram anos de Missão ricos de trabalhos, peripécias, sofrimento e muita consolação e alegria”. Este seu último período de Missão além-fronteiras foi narrado pelo próprio em dois livros. O primeiro, “Sangue que a Terra bebeu” (há muito esgotado) narra um ataque que o Pe. João sofreu por parte da guerrilha, com um mês de cativeiro nas bases da RENAMO. O segundo livro, “Na Aurora da Paz”, conta o dia-a-dia em circunstâncias especiais devido à guerra. O Pe. João conta-nos o que esteve na origem destas duas obras: “não escrevi para mostrar o meu heroísmo, mas para dar a conhecer aos familiares, amigos e benfeitores o que se vivia na Missão. É apenas uma pequena parte do que milhares de Missionários e Missionárias fizeram e sofreram em todo o mundo. Não é apenas a vida de um só, mas é a situação de toda a Igreja na sua vertente Missionária que precisa de ser mais conhecida”. Actualmente o Pe. João Baptista colabora na Paróquia de São Marcos no Concelho de Sintra.

texto por Emanuel Oliveira Soeiro, FEC; fotos por Ana Paula Ribeiro
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