Lisboa |
Nova igreja em Gaeiras
Sonhar, trabalhar, construir comunidade
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O Patriarca de Lisboa dedicou uma nova igreja nas Gaeiras, Óbidos. Mais próxima está a possibilidade da criação da paróquia, que deverá acontecer no próximo ano.

 

Emília Botelho e mais algumas senhoras das Gaeiras, paróquia de São Pedro e Santa Maria de Óbidos, desde há 20 anos que cozem pão para vender e, desta forma, entre outras e com outros voluntários, têm angariado fundos para a concretização de um sonho que agora veem realizado: a construção da nova igreja de Nossa Senhora da Ajuda, que na passada segunda-feira, 9 de setembro, foi dedicada pelo Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente.

Embora não seja natural da vila das Gaeiras, Emília Botelho reside naquele lugar desde há 49 anos, e os últimos 20 foram vividos na expectativa da construção do novo lugar de culto daquela vila. “Temos andado a cozer pão desde há 20 anos. Mas desde os últimos dois anos, com o presidente da Junta de Freguesia, Eduardo João, homem de grande coragem que enfrentou esta obra, reunimo-nos, formámos dois grupos e cozíamos pão com chouriço, pão de milho com sardinhas, pão de trigo com torresmos… fiz alguns com azeitonas e outras iguarias”, conta com grande emoção, Emília Botelho, ao Jornal VOZ DA VERDADE. “Todos os Domingos estávamos lá reunidos no mercado da vila das Gaeiras”, acrescenta observando que estes dois últimos anos foram de “uma grande luta”. Sob lágrimas de alegria, está estampado no rosto de Emília Botelho o verdadeiro sentimento de missão cumprida. “Graças a Deus e à Senhora da Ajuda, conseguimos!”, exclama.

 

Um sonho realizado

O alívio e satisfação manifestados por ver esta obra concluída são compreensíveis até porque, sublinhava o presidente da Câmara de Óbidos, Telmo Faria, no discurso antes da celebração litúrgica de dedicação do novo templo religioso, “este foi um desafio de anos e uma história de trabalho”, onde houve “muita esperança, muita confiança, mas também alguma descrença pelo caminho", observou.

A história deste sonho, iniciado pelo padre Joaquim Venâncio que não deixou de estar presente neste dia de festa, começou há cerca de 20 anos atrás. Nessa altura tinha sido doado um terreno por Frederico Pinto Basto Lupi, para onde foi projetada uma igreja, cuja construção exigia um orçamento muito elevado, o que se tornava um obstáculo para a sua concretização. A par disso, no contrato de doação do terreno, uma cláusula impedia a urbanização daquela mesma propriedade, não permitindo a construção de outra estrutura, para além da igreja sonhada. Por outro lado, “a autarquia de Óbidos não concordava com a construção naquele lugar”, explica ao Jornal VOZ DA VERDADE o pároco da paróquia de São Pedro e Santa Maria de Óbidos, padre Paulo Gerardo. Por isso, “o entusiasmo foi desaparecendo” por parte dos habitantes da freguesia das Gaeiras “porque não viam a obra começar”, refere.

Cerca de duas décadas mais tarde, de volta ao projeto, uma nova luz nasce quando os familiares de Frederico Lupi, colaborando com a vontade das gentes das Gaeiras para erigir a nova igreja, permitem que o terreno cedido inicialmente passe a ser urbanizável e cedem um novo terreno cuja localização já tinha o acordo da câmara. O antigo terreno é vendido e a autarquia compromete-se a financiar metade do custo da obra.  Mas ainda surgiam dificuldades. “Foi preciso ultrapassar muitas questões burocráticas e legais para avançar com a obra”, salienta o padre Paulo Gerardo. Diante dessas dificuldades, a solução burocrática passou por doar o terreno à câmara, “com a condição de nele ser construída a igreja”. “Sendo o terreno da câmara, esta já podia permitir a sua construção”, observa o padre Paulo frisando, no entanto, que “o edifício é da paróquia”. A mesma ideia ficou do discurso do autarca cessante, Telmo Faria, ao referir que “a Câmara Municipal de Óbidos não constrói igrejas”. “Esta não é uma igreja do município. É uma igreja da comunidade católica, mas a câmara nunca poderia deixar de estar ao lado da sua comunidade”, sublinhou.

 

Apoios garantidos

Para além do apoio da Câmara Municipal de Óbidos e da família Pinto Basto Lupi, que o padre Paulo aponta como “inexcedíveis” para que este sonho se realizasse, por de trás da concretização desta construção esteve o presidente da Junta de Freguesia das Gaeiras, Eduardo João. Um cristão de quem o pároco destaca “o esforço”, garantindo: “Sem eles, não havia igreja!”.

 

Dever cumprido

Ao Jornal VOZ DA VERDADE, por debaixo de uma forte emoção, Eduardo João escondia o sentimento de “dever cumprido”, confessando: “Ao abandonar as funções de autarca, nada me realiza mais do que entregar a nova casa de Deus a esta comunidade que muito me ajudou”. Revelando que a grande dificuldade neste processo “foi fazer a engenharia financeira atendendo ao volume da despesa”, Eduardo João explicou que, em relação ao projeto inicial, o custo da obra baixou substancialmente. “Numa fase inicial falaríamos em 750 mil euros e depois pelo concurso público chegámos aos 443,4 mil euros”.

 

‘Mão na massa’, festas e sorteios

Eduardo João pegou neste projeto há cerca de três anos, com apoio de alguns voluntários da vila das Gaeiras que, nos quase 20 anos passados, já tinha reunido cerca de 120 mil euros para a obra, “com festas e sorteios”. Animados pela possibilidade de ver construída a sonhada igreja, e estimulados pela obrigatoriedade de a construir num curto espaço de tempo, os ‘gaeirenses’ puseram as mãos na massa e com a venda de pão, bolos, festas, sorteios e outras iniciativas veem agora a nova igreja construída e a possibilidade de novos meios de desenvolvimento para aquela localidade. “Este projeto vai ser uma âncora de desenvolvimento, porque a segunda fase prevê a construção de um espaço de combate à pobreza, de um espaço para atender casos de violência doméstica e outro para a comissão de crianças e menores em risco”, refere o presidente da junta, deixando um desejo: “Que a comunidade possa através desta igreja fazer um trabalho social de grande qualidade, que muitas vezes os próprios governos se demitem e que nós lutamos para que aconteçam”. Para Eduardo João, que também vai deixar a sua função de autarca, a construção da nova igreja “deve ser um desafio para outros projetos”. “É preciso acreditar que somos capazes e não baixar os braços”, declara.

 

Quase paróquia e escolha do orago

Gaeiras é a maior freguesia do concelho de Óbidos mas ainda não é paróquia. Segundo declarações do padre Paulo Gerardo ao jornal VOZ DA VERDADE, essa foi uma promessa feita pelo então Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, deixando o compromisso de “após ser construída a igreja ser constituída a paróquia”, uma vontade que se mantem da parte do novo Patriarca, revela o pároco. “O assunto já foi falado com o novo Patriarca, D. Manuel Clemente, que também está disposto a seguir com o processo para a nova paróquia”, garante.

Segundo o padre Paulo Gerardo, neste momento, “falta apenas levar o processo de ereção da paróquia ao Conselho Presbiteral que deverá reunir em janeiro de 2014, para que este dê o seu parecer e o Bispo possa, então, erigir a paróquia”. O padre Paulo manifesta, ainda, a sua confiança na ereção, em breve, da paróquia.

Dedicada a Nossa Senhora da Ajuda, “padroeira da freguesia há muito anos”, a escolha do orago foi participada. “Foi feita uma sondagem à população para a escolha do orago, mas entre várias possibilidades a população continua a rever-se na padroeira Nossa Senhora da Ajuda”, destaca o pároco.

 

Construir comunidade

Segundo este sacerdote, Gaeiras “é uma comunidade bastante autónoma em relação à paróquia de que faz parte, porque está muito junto das Caldas da Rainha e tinha apenas uma igreja pequenina. Por isso as pessoas dividiam-se por vários lugares para participar na missa dominical”, esclarece.

O desafio passa, agora, pela “construção de uma comunidade”, aponta ao Jornal VOZ DA VERDADE a catequista Salomé Capinha. Catequista nas Gaeiras desde há 34 anos, Salomé Capinha declara-se satisfeita com a nova igreja porque agora “há possibilidade de poder dignificar mais as celebrações e as pessoas podem aproximar-se mais e participar de outra forma”. Este sentido de “construção da comunidade”, para o padre Paulo Gerardo, de alguma forma já foi acontecendo tendo em conta algumas características da freguesia. “Nas Gaeiras, há alguns bairros novos, com muita gente, que não tem ali raízes, e por isso é difícil envolver essas pessoas. Mas com a construção da nova igreja, alguma coisa se conseguiu fazer. Houve gente que se mobilizou em favor da igreja, o que dá a entender que a igreja é sinal de unidade nesta dispersão”, garante.

 

Maior comunidade cristã

Segundo o padre Paulo Gerardo, a vila das Gaeiras para além de ser a maior freguesia é também “a maior comunidade cristã da paróquia e a que tem mais crianças na catequese”. “No ano passado frequentaram a catequese cerca de 160 crianças, do primeiro ao décimo ano”, sublinha o pároco, explicando que há uma turma para cada ano de catequese e que por falta de espaço “havia catequistas que davam catequese em suas próprias casas”. Na comunidade cristã dominical, que habitualmente tem celebrado missa vespertina ao sábado, existe ainda um pequeno coro e poucos acólitos. “A capela era pequena e não permitia um coral maior”, explica.

No âmbito da pastoral social e da caridade, a paróquia de São Pedro e Santa Maria de Óbidos não tem uma pastoral organizada nesta comunidade porque, destaca o padre Paulo, “há uma instituição - 'O Socorro Gaeirense' - que o faz. Por isso, a paróquia não sentiu necessidade de criar algo nesse sentido”.

Agora, com a nova igreja e acreditando que “a comunidade cristã vai crescer”, o padre Paulo Gerardo adianta que “quando Gaeiras for paróquia passará a ter missa ao Domingo” e o novo espaço “permite que haja mais vida paroquial”.

texto e fotos por Nuno Rosário Fernandes
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