‘Evangelii Gaudium’ |
‘Evangelii gaudium’ (nº 19 a 39) – Capítulo I
A reforma da Igreja em saída missionária
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Lembrando que “a evangelização obedece ao mandato missionário de Jesus”,  o Papa Francisco recorda que, hoje, “todos somos chamados a esta nova ‘saída’ missionária e observa que “cada cristão e cada comunidade há de discernir qual é o caminho que o Senhor lhe pede, mas todos somos convidados a aceitar esta chamada”. Para isso, salienta, é preciso “sair da própria comodidade e ter coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho”. “É vital que a Igreja saia para anunciar o Evangelho a todos”, frisa.

Num tom de discurso muito simples e até coloquial, como se estivesse a falar diretamente com o leitor a quem quer chegar, o Papa Francisco esclarece, ainda mais, o que pretende dizer quando se refere a uma Igreja em saída: “A Igreja ‘em saída’ é a comunidade de discípulos missionários que ‘primeireiam’, que envolvem, que acompanham, que frutificam e festejam. Primeireiam – desculpai o neologismo –, tomam a iniciativa!”, explica.

 

Ir à frente

Confirmando que esta comunidade missionária “sabe ir à frente, sabe tomar a iniciativa sem medo, ir ao encontro, procurar os afastados e chegar às encruzilhadas dos caminhos para convidar os excluídos”, o Sucessor de Pedro apela à ousadia na missão. “Ousemos um pouco mais no tomar a iniciativa! Como consequência a Igreja sabe envolver-se”. E explica: “Com obras e gestos, a comunidade missionária entra na vida diária dos outros, encurta as distâncias, abaixa-se – se for necessário – até à humilhação e assume a vida humana, tocando a carne sofredora de Cristo no povo”.

Neste sentido, e retomando algumas imagens já utilizadas em homilias e outros discursos desde o início do seu pontificado, o Papa Francisco observa que “os evangelizadores contraem assim o ‘cheiro de ovelha’, e estas escutam a sua voz”. Em seguida, refere, “a comunidade evangelizadora dispõe-se a ‘acompanhar’” e acentua: “Acompanha a humanidade em todos os seus processos, por mais duros e demorados que sejam” e com “paciência”, “mantem-se atenta aos frutos”.

 

Um programa para a conversão pastoral

Consciente de que este documento que escreve pode ser “rapidamente esquecido”, o Papa Francisco frisa que nestas linhas pretende deixar expresso um programa e apela ao esforço das comunidades para “usar os meios necessários para avançar no caminho de uma conversão pastoral e missionária”. “Constituamo-nos em estado permanente de missão”, reforça.

Trazendo ao presente um apelo do Papa Paulo VI em 1964, onde apresentava a necessidade de “aprofundar a consciência de si mesma, meditar sobre o seu próprio mistério”, e de uma “necessidade generosa e quase impaciente de renovação”, “de emenda dos defeitos”, o Papa Francisco comenta que “o Concílio Vaticano II apresentou a conversão eclesial como a abertura a uma reforma  permanente de si mesma por fidelidade a Jesus Cristo”. Porém, referindo que “há estruturas eclesiais que podem chegar a condicionar um dinamismo evangelizador”, o Papa jesuíta sublinha a “‘fidelidade da Igreja à própria vocação’” sem a qual “toda e qualquer nova estrutura se corrompe em pouco tempo”. E deixa um sonho: “Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo atual que à autopreservação”. No que se refere às estruturas, o Papa Francisco observa ainda que estas devem tornar-se “mais missionárias” e que a pastoral ordinária deve ser mais “comunicativa e aberta”, de forma a colocar “os seus agentes pastorais em atitude constante de saída”. “Toda a renovação na Igreja há-de ter como alvo a missão”, apela.

Deste modo, a paróquia tem o seu papel a desempenhar e para o Papa Francisco esta “não é uma estrutura caduca”, dado que pode “assumir formas muito diferentes que requerem a docilidade e a criatividade missionária do Pastor e da comunidade”. Neste sentido, o Papa destaca que “através de todas as suas atividades, a paróquia incentiva e forma os seus membros  para serem agentes de evangelização”, sublinhando, no entanto, que o apelo à revisão e renovação das paróquias ainda não deu suficientemente fruto, tornando-se mais próximas das pessoas”. Referindo-se, por outro lado, a todas as outras instituições eclesiais, comunidades de base e pequenas comunidades, movimentos e outras formas de associação, que são “uma riqueza para a Igreja”, o Papa Francisco lembra que “é muito salutar” que estas “não percam o contacto com esta realidade muito rica da paróquia local e que se integrem de bom grado na pastoral orgânica da Igreja particular”.

De igual modo, esta conversão missionária a que se refere o Papa Francisco, é um apelo que dirige, também, “a cada Igreja particular, porção da Igreja Católica sob a guia do seu Bispo”. E esta evangelização a que é convidada deve partir, também, para outros ambientes, “lugares mais necessitados”, “periferias” ou lugares de “novos âmbitos culturais”. Segundo o Papa, nesta Exortação, o “Bispo deve favorecer sempre a comunhão missionária na sua Igreja diocesana”, e para isso, por vezes, terá de se colocar “à frente para indicar a estrada”, ou manter-se no meio das pessoas “com a sua proximidade simples e misericordiosa” ou então caminhar atrás do povo “para ajudar aqueles que se atrasaram”, observa. Nesta linha, o próprio Papa reconhece que deve também pensar numa conversão para o papado.

 

Missão a partir do coração do Evangelho

Refletindo sobre a maneira de comunicar a mensagem, o Papa Francisco manifesta a preocupação para o facto de esta mensagem que se comunica correr o risco de se apresentar “mutilada e reduzida a alguns dos seus aspectos secundários”, e desse modo não manifestar o que é “o coração da mensagem de Jesus Cristo”. Por isso, refere: “Convém ser realistas e não dar por suposto que os nossos interlocutores conhecem o horizonte completo daquilo que dizemos ou que eles podem relacionar o nosso discurso com o núcleo essencial do Evangelho que lhe confere sentido, beleza e fascínio”.

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