‘Evangelii Gaudium’ |
‘Evangelii gaudium’ (nº 40 a 49) – Capítulo I
Uma Igreja em saída é uma casa paterna
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Diante daquele que é, segundo o Papa Francisco, “o tesouro riquíssimo da Palavra” que pode fazer suscitar uma diversidade de interpretações e reações, a Igreja, “discípula missionária”, tem necessidade de “crescer na sua interpretação da Palavra revelada e na sua compreensão da verdade”.

Existem “diversas linhas de pensamento filosófico, teológico e pastoral” que podem fazer crescer a Igreja “se se deixam harmonizar pelo Espírito”, e essa mesma variedade, afirma Francisco nesta Exortação, “ajuda a manifestar e desenvolver melhor os diversos aspetos da riqueza inesgotável do Evangelho”.

Por outro lado, o Papa Francisco alerta para o cuidado a ter na apresentação das verdades que fundamentam a fé cristã, sublinhando que a linguagem utilizada deve “permitir reconhecer a sua permanente novidade”. “’Uma coisa é a substância (...) e outra é a formulação que a reveste’“, refere, citando o Papa João XXIII, no discurso de inauguração do Concílio Vaticano II. “‘A renovação das formas de expressão torna-se necessária para transmitir ao homem de hoje a mensagem evangélica no seu significado imutável’”, acentua, citando João Paulo II na Carta ‘Ut unum sint’.

 

Compreender pela adesão

No entanto, e apesar da forma que possa ser dada ao conteúdo da fé cristã para a sua transmissão, Francisco sublinha que “não poderemos jamais tornar os ensinamentos da Igreja uma realidade facilmente compreensível e felizmente apreciada por todos” porque, justifica, “há coisas que se compreendem e apreciam só a partir desta adesão que é irmã do amor, para além da clareza com que se possam compreender as razões e os argumentos”.

Neste sentido, o Papa Francisco apela ao discernimento na Igreja que permita rever costumes, “não diretamente ligados ao núcleo do Evangelho”, normas e preceitos da Igreja que “antes podem ter sido muito eficazes”, mas que atualmente “já não têm a mesma força educativa como canais de vida”. Embora não concretize com exemplos, Francisco refere que esta mesma advertência, “já feita há vários séculos”, “deveria ser um dos critérios a considerar quando se pensa numa reforma da Igreja e da sua pregação que permita realmente chegar a todos”.

Por vezes, estes costumes, normas e preceitos podem ser imputados na responsabilidade moral da pessoa mas, adverte o Papa jesuíta, há condições que podem “diminuir ou até anular” a responsabilidade pessoal, como “‘a ignorância, a inadvertência, a violência, o medo, os hábitos, as afeições desordenadas e outros factores psíquicos ou sociais’”. Por isso mesmo surge o apelo do Pontífice para a necessidade de um acompanhamento dos crescimento dessas pessoas “com misericórdia e paciência”, pelo que, frisa, “o confessionário não deve ser uma câmara de tortura, mas o lugar da misericórdia do Senhor que nos incentiva a praticar o bem possível”.

 

Uma mãe de coração aberto

Assim, neste programa que o Papa Francisco apresenta, a Igreja é este lugar de portas abertas para poder acolher todos. No entanto, nesta ânsia de querer chegar a todos, pode-se correr o risco de cair num ativismo e andar pelo mundo “sem direção nem sentido”. Pelo que, alerta o Papa, “é melhor diminuir o ritmo, pôr de parte a ansiedade para olhar nos olhos e escutar, ou renunciar às urgências para acompanhar quem ficou caído à beira do caminho”. Porque “a Igreja é chamada a ser sempre a casa aberta do Pai”, e essa dimensão concretiza-se não, apenas, no ter as portas das igrejas abertas para uma resposta à “procura de Deus”, mas na possibilidade de todos poderem “participar de alguma forma na vida eclesial”. “Todos podem fazer parte da comunidade”, garante o Papa Francisco lembrando que “nem sequer as portas dos sacramentos se deveriam fechar por uma razão qualquer”. E observando que “muitas vezes agimos como controladores da graça e não como facilitadores”, Francisco lembra que a Igreja “não é uma alfândega; é a casa paterna onde há lugar para todos com a sua vida fatigante”.

Deste modo, esta Igreja missionária a que apela o Papa Francisco deve chegar “àqueles que muitas vezes são desprezados e esquecidos”. “E a evangelização dirigida gratuitamente a eles é sinal do Reino que Jesus veio trazer”. Por isso, o Papa Francisco deixa um apelo forte: “Saiamos, saiamos para oferecer a todos a vida de Jesus Cristo”. “Prefiro uma Igreja acidentada, ferida, enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada com ser o centro, e que acaba presa num emaranhado de obsessões e procedimentos”, exorta ao terminar o primeiro capítulo da Exortação Apostólica ‘A Alegria do Evangelho’.

texto por Nuno Rosário Fernandes
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