‘Evangelii Gaudium’ |
‘Evangelii gaudium’ (nº 68 a 75) – Capítulo II
Desafios da inculturação da fé
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Na continuidade desta primeira Exortação, o Papa Francisco deixa algumas interpelações que denomina por desafios da inculturação da fé. Nesse sentido, o Sumo Pontífice não ignora a importância que tem uma cultura marcada pela fé porque, salienta, “não obstante os seus limites, esta cultura evangelizada tem, contra os ataques do secularismo atual, muitos mais recursos do que a mera soma dos crentes”. E acrescenta: “Uma cultura popular evangelizada contém valores de fé e solidariedade que podem provocar o desenvolvimento duma sociedade mais justa e crente, e possui uma sabedoria peculiar que devemos saber reconhecer com olhar agradecido”.

Por isso, deixa um apelo muito concreto: “Há uma necessidade imperiosa de evangelizar as culturas para inculturar o Evangelho”. E, segundo Francisco, esta inculturação pode fazer-se, nos países de tradição católica, acompanhando, cuidando, e fortalecendo a riqueza que já existe. Por seu lado, nos países de outras tradições religiosas ou “profundamente secularizados”, o Papa Francisco sugere que se procurem “novos processos de evangelização da cultura, ainda que suponham projetos a longo prazo”. Uma outra preocupação manifestada pelo Papa Francisco aponta a necessidade de “purificação e amadurecimento” de toda a cultura e de todo o grupo social, recordando que das culturas populares de povos católicos podem ser reconhecidas “algumas fragilidades que precisam ainda de ser curadas pelo Evangelho: o machismo, o alcoolismo, a violência doméstica, uma escassa participação na Eucaristia, crenças fatalistas ou supersticiosas que levam a recorrer à bruxaria, etc.” Diante destas fragilidades, o Papa Francisco refere que “o melhor ponto de partida para curar e ver-se livre de tais fragilidades é precisamente a piedade popular”.

Por outro lado, o Papa Francisco adverte para um “certo cristianismo feito de devoções – próprio duma vivência individual e sentimental da fé – que, na realidade, não corresponde a uma autêntica ‘piedade popular’”. Por de trás destas situações está, por vezes, o interesse em “obter benefícios económicos ou algum poder sobre os outros”.

 

Desafios das culturas urbanas

A presença de Deus manifesta-se em qualquer lugar onde seja procurado, porque “Deus não se esconde de quantos o buscam com coração sincero”. Por isso, o Papa Francisco salienta que Deus habita também na cidade. “Precisamos de identificar a cidade a partir dum olhar contemplativo, isto é, um olhar de fé que descubra Deus que habita nas suas casas, nas suas ruas, nas suas praças”. “Ele vive entre os citadinos promovendo a solidariedade, a fraternidade, o desejo de bem, de verdade, de justiça”.

Na cultura urbana o cristão depara-se com uma enorme geografia humana onde este “já não costuma ser promotor ou gerador de sentido”. “Há uma cultura inédita” na cidade, assim como há transformações nestas grandes áreas que fazem com que estas se tornem lugares “privilegiados de evangelização”. Para que esta evangelização acontece é necessário que sejam imaginados “espaços de oração e de comunhão com características inovadoras, mais atraentes e significativas para as populações urbanas”. No entanto, é de referir que as zonas rurais, devido à influências que os meios de comunicação exercem também “não estão imunes destas transformações culturais que também operam mudanças significativas nas suas formas de vida”, observa o Papa Francisco.

 

Restabelecer a dignidade da vida humana

Para fazer face a estes desafios o Papa que vem da Argentina manifesta a necessidade de “uma evangelização que ilumine os novos modos de se relacionar com Deus, com os outros e com o ambiente, e que suscite os valores fundamentais”. “A Igreja é chamada a ser servidora de um diálogo difícil”, lembra Francisco referindo que nas cidades “convivem variadas formas culturais, mas exercem muitas vezes práticas de segregação e violência”. Nas cidades desenvolvem-se, também, outros problemas que afectam a sociedade. O tráfico de drogas e de pessoas, o abuso e a exploração de menores, o abandono de idosos e doentes, várias formas de corrupção e crime, são alguns desses problemas apontados por Francisco, ao mesmo tempo que releva o facto de as casas e os bairros serem construídos “mais para isolar e proteger do que para unir e integrar”. Para essas situações indica a proclamação do Evangelho como “uma base para restabelecer a dignidade da vida humana” porque, refere, “o sentido unitário e completo da vida humana proposto pelo Evangelho é o melhor remédio para os males urbanos”.

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