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P. Duarte da Cunha
Medir o pulso à Igreja na Europa
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Quando falamos em medir o pulso à Igreja na Europa, há quem diga que não vale a pena, porque se trata de uma moribunda. Já teve o seu tempo de glória, mas agora está decadente. Esta é a análise que parece saltar aos olhos. Mas não faz jus à realidade.
Pode ser que haja menos gente em muitas Missas e menos casamentos e mais gente a não se interessar por aquilo que a Igreja ensina, mas seria completamente errado dizer que a Igreja na Europa está a desaparecer. Precisamos de usar o método justo e adequado para verificar o pulso da Igreja. Se é verdade que ela é uma realidade que se pode estudar sociologicamente, ela não é só humana. Ela é a presença de Cristo que venceu a morte, Ela tem a sua origem e a sua consistência em Deus. Só o olhar da fé pode avaliar uma realidade desta natureza em profundidade. Os estudos sociológicos podem ter a sua utilidade, mas não podem compreender a vitalidade da Igreja.
Por toda a Europa, vejo situações complicadas. Vejo casos onde o facto de uma pessoa se dizer católica é motivo de descriminação e também vejo casos onde a própria Igreja parece ceder ao mundo e se secularizar. Contudo, também encontro, em muitos lugares, uma Igreja viva com pessoas concretas que testemunham a alegria de terem encontrado Jesus Cristo.
O que faz mais mal à Igreja é, julgo eu, pensar que a sua vitalidade depende da sua estrutura organizativa e dos seus meios. Quando as forças estão centradas nisso, como é evidente, as pessoas - mesmo as que estão dentro da comunidade - deixam de se dar conta da beleza do rosto de Cristo e acabam por se cansar.
Ao contrário, onde é claro que o motor da Igreja é o Espírito Santo, temos pessoas com uma experiência de fé viva. E como não descobrir vitalidade quando vemos a força com que o Papa fala de Deus, de Jesus Cristo, do encontro pessoal com Ele e com a Sua misericórdia ou da importância da confissão e da Eucaristia! É visível que a partir da força do Papa brota entusiasmo de fé e alegria que depois se vão traduzir em obras concretas.
Há experiências impressionantes. Não posso ser exaustivo, mas posso dar alguns exemplos. Penso nas paróquias de Madrid que depois das Jornadas Mundiais da Juventude de 2011 ganharam uma nova vitalidade e continuam cheias. Penso na paróquia do P. Michel-Marie em Marselha, num bairro onde só 1% era praticante e agora já não há espaço nem de pé na missa dominical. Penso nos milhares de jovens na Polónia que preparam a próxima Jornada Mundial da Juventude. Penso nas famílias do caminho Neo-catecumenal que partem como missionárias confiando na providência. Lembro as comunidades novas com tantas vocações em França, em Itália ou na Bélgica ou o aumento significativo das vocações sacerdotais em Inglaterra. Dou-me conta do entusiasmo e da incidência cultural de tantos movimentos que nasceram na Europa.
No leste europeu, onde até há pouco mais de 20 anos era proibido testemunhar a fé, hoje são milhares os que se afirmam católicos, basta olhar para os adultos baptizados na Albânia ou as Igrejas construídas na Roménia.
Por toda a Europa, vejo paróquias que acompanham milhares de pessoas todos os dias nos mais variados assuntos espirituais e sociais. Recordo o trabalho das Cáritas e centros sociais que por toda a Europa neste tempo de crise têm sido um testemunho impressionante de partilha e de atenção aos mais pobres.
Mas mesmo em Portugal como não ficar tocado pelos universitários que às centenas passam uma semana em missão pelo país ou pelos leigos que vão um ou mais anos para os países onde a fé ainda não está enraizada? E não esqueço os milhares de peregrinos que vão a Fátima.
Podemos e devemos ainda recordar os políticos católicos e tanta gente empenhada na vida pública que em vários países ou em Bruxelas e em Estrasburgo têm conseguido enfrentar forças que querem aprovar leis e uma cultura contrária à vida e à família ou querem relegar a fé para o privado. Não esqueçamos, a este propósito, os leigos croatas e franceses que se têm manifestado aos milhares e sem medo pela família.
Finalmente olho para tantas pessoas concretas que vivem uma fé cheia de entusiasmo, que se alimentam de oração e dos sacramentos e testemunham a alegria da fé.
Dizer que a Igreja está morta na Europa é um diagnóstico não só precipitado como errado. É importante, para ser realista, olhar para os lugares onde a fé vibra. Essa é a Igreja que interessa. A Igreja está viva porque o que ela dá corresponde às necessidades reais das pessoas. Ela dá Deus! E Deus não morre!
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