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À procura da Palavra
O mais difícil
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DOMINGO VII COMUM Ano A

"Amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem,

para serdes filhos do vosso Pai que está nos Céus.”

Mt 5, 44

 

Até descobrir que “OK” era a palavra mais usada do mundo pensava que “amor” teria o primeiro lugar. Ok, certamente isso acontece porque é dita do mesmo modo em todas as línguas! Porque, com traduções incluídas, continuo a pensar que “amor” tem a primazia. Pela sua presença ou ausência, quase tudo tem a ver com o amor. O amor é nomeado em inúmeros títulos de revistas (especializadas em esmiuçar as relações dos famosos) e até em dois filmes actualmente em cartaz. Num deles, “Her – Uma história de amor”, Spike Jonze, aborda a possibilidade (?) do “amor” na relação que Joaquim Phoenix estabelece com um programa informático, qual parábola da crescente dependência da tecnologia e da fragilidade dos laços humanos.  

Do amor a Deus e aos amigos sempre se falou no Antigo Testamento, e muitos sentiram-se reconhecidos quando Jesus disse que ambos eram “o maior mandamento”. Mas deve ter sido difícil ouvir aquele “subir de fasquia” que foi o apelo de Jesus a “amar os inimigos”. Os salmos estavam cheios de apelos a Deus para nos libertar dos inimigos, comemorando a vitória sobre eles, quando não pedindo algum castigo como consequência das suas maldades. Como é possível amar os inimigos? E sorrio ao pensar naquela história de uma velhinha com 97 anos que dizia com absoluta convicção: “Amar os meus inimigos? É muito fácil! Já morreram todos!”. Misturam-se muitas vezes os sentimentos e não é fácil sentir afecto ou gostar de quem nos quis, ou quer, mal. Gosto de citar Martin Luther King (como cito de memória exprimo mais a ideia do que o concreto das palavras): “Eu não consigo gostar de quem vem a minha casa e me maltrataa mim, e à minha família, porque sou negro. Não consigo gostar dessas pessoas. Mas, porque sou cristão, eu quero amá-las!”. É o mais difícil; amar sem sentimentos de afecto à partida, amar desejando o bem e não o mal, amar cortando cedo as ervas daninhas do ódio e da vingança. Volto a Luther King: “O ódio paralisa a vida; o amor liberta-a. O ódio confunde a vida; o amor harmoniza-a. O ódio escurece a vida; o amor ilumina-a. O amor é a única força capaz de transformar um inimigo num amigo.” É tão difícil que ninguém pode julgar quando não se consegue, do mesmo modo que não podemos desistir de tentar!

Jesus apresenta a oração como um primeiro passo do amor: pedir ao Pai por quem nos magoou é um bom “herbicida” contra as ervas daninhas da mágoa e do ressentimento. Abre-nos. Descentra-nos. E isso é um movimento do amor. O amor que não desiste. Como escreveu o poeta Carlos Drummond de Andrade: “Este o nosso destino: amor sem conta, / distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas, / doação ilimitada a uma completa ingratidão, / e na concha vazia do amor à procura medrosa, / paciente, de mais e mais amor. / Amar a nossa falta mesma de amor, / e na secura nossa, amar a água implícita, / e o beijo tácito, e a sede infinita.”

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