DOMINGO II QUARESMA Ano A
"Este é o meu Filho muito amado,
no qual pus toda a minha complacência. Escutai-O.”
Mt 17, 5
Escutar não é uma atitude fácil. Implica silêncio, disponibilidade, acolhimento. E se desde que nascemos temos uma certa propensão para palrar e deliciarmo-nos com a nossa própria voz (às vezes levamos até muito tarde esse deleite!), escutar alguém é condição para o diálogo e para a partilha, para o confronto e para a procura. Nos evangelhos, a voz do Pai surge duas vezes a dizer que Jesus é o seu filho muito amado; mas no alto do monte (Tabor?) acrescenta: “Escutai-O”. É o apelo ao conhecimento e à intimidade, o deixar de oferecer “listas de mandamentos e obrigações” para experimentar a surpresa de uma vida que não se repete. O espanto dos discípulos será mais tarde o medo dos detentores do poder: uma relação de proximidade com Deus assusta os que se julgam donos dos futuros possíveis!
Não me identifico muito com um certo ar “sorumbático” a que a Quaresma está associada, bem como à sua “conversão programada” que pode produzir asceses heróicas mas pouco se nota em páscoas joviais. E ao ler a Inês Teotónio Pereira no jornal “i”, sobre a diferença de creches que os seus filhos frequentaram, também me pergunto: será que algumas vezes substituímos o encanto da descoberta da vida com Cristo (que ouso comparar ao brincar das crianças) por esquemas funcionais, mas cinzentos, de religiosidade? Diz a Inês, do segundo jardim-infantil dos seus filhos: “A natureza das actividades variava: se estivesse bom tempo iam à praça, iam à serra, iam à praia, pisavam uvas, iam ao parque dos baloiços, e se estivesse a chover faziam bolos e bolachas, teatros, desenhos, o jogo das cadeiras e até havia o dia ao contrário: as crianças iam de pijama para escola e começavam o almoço pela sobremesa. No arraial do final do ano saltávamos todos à fogueira. Cada um punha o seu lugar à mesa e só aos cinco anos é que começavam a fazer fichas. Faziam os desenhos e as brincadeiras mais incríveis e por cada obstáculo que conseguiam ultrapassar (subir a uma árvore ou andar de bicicleta, por exemplo) organizava-se uma festa.(…). Este jardim-infantil ajudou-me a educar os meus filhos. Não os educou por mim nem os entreteve por mim. Ajudou-me a educá-los e a fazer com que cada dia que eles ali passaram fosse um dia feliz. E foram. Todos.”
Escutar e brincar podem parecer actividades opostas. E talvez sejam tão próximas. E tão necessárias para que as vidas se abracem e sejamos felizes uns com os outros (não se é feliz sozinho, ainda que rodeado de toda a tecnologia ou riqueza!). Começamos a escutar Jesus quando nos escutamos e gostamos de estar uns com outros; os pais e os filhos, os amigos e os que pensam diferente, mas pensam, e batem-se por valores, os diferentes grupos numa comunidade. Substituímos a brincadeira pelo jogo, promovemos a competição, e idealizámos vitórias que alienam e nos fazem sentir vazios. “Com Deus não se brinca”, diz o povo, mas, como se via num sketch do “Gato Fedorento”, se “foi Ele que começou!...”. Será que escutar-te, Jesus, é entrar mais ainda na alegria que vives com o Pai?
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