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P. Manuel Barbosa, scj
Amou a Igreja
Escrevo estas notas de Cracóvia após uma visitação ao Santuário da Divina Misericórdia, no contexto de um encontro europeu da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus a que pertenço, motivado pela temática da misericórdia. Aí agradeci o dom que o nosso cardeal patriarca José Policarpo, que já não peregrina entre nós, foi para a Igreja que tanto amou e serviu, e continua a amar e servir como intercessor, agora plenamente mergulhado no Coração misericordioso de Deus.

No nascer e no morrer não há muito a dizer. Apenas quase calar e muito contemplar: na memória agradecida de quem parte, no testemunho de vida que nos deixa, na esperança que nos mantém o sentido do viver, na profunda união orante e na comunhão de santidade. São singelos sentimentos ao saber do passamento de D. José desta existência terrena para a vida plena junto de Deus. Guardo no coração alguns dos últimos momentos de vida mortal do nosso querido D. José, em Fátima e em Lisboa.

Partiu em oração, do retiro em que participava em Fátima com os irmãos bispos, um tempo de oração e meditação levado pela misericórdia e pela ternura de Deus Amor.

Partiu sereno no sofrimento e na dor que expressou com lucidez e suportou em paz de alma. Partiu com o coração repousado no Coração de Deus. Partiu para o Reino feliz e eterno de Deus, ele que tanto amou a Igreja, que na sua peregrinação terrena sinaliza o Reino eterno do Pai.

D. José amou a Igreja do único Senhor Jesus Cristo, na sua essência de mistério e santidade, de comunhão e fraternidade, de missão e evangelização. Amou a Igreja na leitura dos sinais dos tempos e na atenção aos ventos da história em que está inserida. Amou a Igreja plenamente realizada como Igreja universal e como Igreja particular, a que presidiu como Patriarca. Amou a Igreja nas diversas formas de existência cristã assumida pelos leigos, padres e diáconos, consagrados e consagradas. Amou a Igreja na procura constante da verdade, aberto às aportações de outros povos e culturas, de outras religiões e confissões cristãs. Amou a Igreja no discernimento constante de novos caminhos a percorrer, sempre na fidelidade ao Espírito. Amou a Igreja renovada no Concílio Vaticano II, não se cansando de apelar a este momento decisivo da fidelidade da Igreja às suas origens.

Do mais recente que nos legou por escrito, recordo uma passagem de janeiro de 2012, aquando da formação do clero do Patriarcado, sobre Maria, Mãe da Igreja:

«Em Maria, o mais excelente membro da Igreja, brilha toda a beleza da Igreja como Povo do Senhor. Porque escutou a Palavra e a seguiu; porque acolheu no silêncio do seu coração todo o mistério que a envolvia; porque abraçou toda a exigência do sacrifício redentor; porque amou a Igreja nascente com o amor de Jesus, ela é o modelo da Igreja. Em Maria a Igreja reconhece-se na sua vocação, na sua fecundidade, no seu desejo da plenitude. A Igreja crente encontra nela a perfeição da fé; a Igreja fecunda, que gera sempre novos filhos, encontra na sua maternidade virginal o segredo do seu mistério; a Igreja amorosa, pode beber a sua ternura do seu amor na sua ternura maternal; a Igreja esposa do Cordeiro, contempla em Maria o seu amor esponsal em relação ao próprio Deus. O amor a Maria é mais que uma devoção; é a contemplação do amor de Deus por nós, humanidade que Ele deseja reunir na Sua Casa».

Estas palavras podem ser paradigma de um programa de vida, para quem ainda peregrina e para quem já se encontra na comunhão etérea com Deus. Desejo que D. José, que tanto amou a Igreja, seja nosso intercessor junto do Pai, para que continuemos a ser Igreja cheia de misericórdia, fecunda de ternura, solidária de caridade, acolhedora do irmão com o coração.

Obrigado, D. José, pelo que foi e nos legou, pelo que continua a ser na plenitude de Deus!