Na Tua Palavra |
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D. Nuno Brás
Vale de Lágrimas
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Confesso que a expressão “gemendo e chorando neste vale de lágrimas” da Salvé Rainha a comecei por entender como fruto de um cristianismo pessimista, vivido essencialmente a pensar na cruz do Senhor, e a achar que tudo, no mundo, era mau. Por isso compreendo tantos que têm dificuldade em rezar esta antífona que faz parte da nossa tradição mariana. Certamente (e digo-o sem qualquer tom de crítica) reconheço que muitos a rezarão naquele tom resignado e derrotado.
Mas devo, igualmente, confessar que rezo hoje aquela oração como expressão grande da fé.
É que, por muito que nos esforcemos, de um modo ou de outro, qualquer ser humano vive momentos de sofrimento e de solidão, de abandono e mesmo desespero, de morte. Não vale a pena criar a ilusão (nem sequer e muito menos nas crianças) de que a vida será sempre um caminho de vitórias e sucessos, de alegrias e conquistas. Mesmo as “estórias” que terminam com o célebre “e foram muito felizes para sempre” começaram ou passaram por um ou vários momentos de dificuldade dos seus protagonistas.
Contudo, hoje (como sempre) não são necessárias “estórias”. Basta ter os olhos abertos para o mundo humano que nos envolve. E se não estamos nós a passar por algum momento difícil, olhemos à nossa volta – e não precisamos de procurar muito: o desemprego, as famílias destroçadas e desunidas, a falta de sentido para a vida… todas aquelas misérias materiais, morais ou espirituais, a que fazia referência a mensagem da Quaresma do Papa Francisco, estão bem ali, ao nosso lado. E, não raras vezes sentimo-nos impotentes para dar uma ajuda, pequena que seja, àqueles que passam por esses momentos difíceis.
É por isso que o grito cristão que, por intermédio da Virgem Maria, se dirige a Deus, a partir deste “Vale de Lágrimas” que é a vida humana, mais do que expressão de alguém resignado à sua sorte, é antes o reconhecimento de que apenas Deus pode, verdadeiramente, resolver as lágrimas humanas – nossas e de tantos que vivem connosco.
O Domingo de Ramos ou da Paixão une essas duas realidades. Também Deus, em Jesus de Nazaré, experimentou (e como!) o “Vale de Lágrimas” que quis fazer seu; mas, ao mesmo tempo que o vive de um modo plenamente humano, mostra que não será nunca a morte a ter a última palavra. Esta será sempre pronunciada por Deus, e será sempre uma palavra de amor, de vida eterna!
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