‘Evangelii Gaudium’ |
‘Evangelii Gaudium’ (nº 176 a 185) – Capítulo IV
A dimensão social da evangelização
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“Evangelizar é tornar o Reino de Deus presente no mundo”. Com esta breve definição o Papa Francisco inicia o quarto capítulo da Exortação Apostólica ‘A Alegria do Evangelho’, debruçando-se, agora, numa dimensão mais social. “Desejo agora partilhar as minhas preocupações relacionadas com a dimensão social da evangelização, precisamente porque, se esta dimensão não for devidamente explicitada, corre-se sempre o risco de desfigurar o sentido autêntico e integral da missão evangelizadora”, salienta Francisco.

 

As repercussões comunitárias e sociais do querigma

O querigma, ou seja o primeiro anúncio, tem um conteúdo que, destaca o Papa Francisco, “tem uma repercussão moral imediata, cujo centro é a caridade”. Neste sentido, aceitação do primeiro anúncio, “que convida a deixar-se amar por Deus e a amá-lo com o amor que Ele mesmo nos comunica, provoca na vida da pessoa e nas suas ações uma primeira e fundamental reação: desejar, procurar e levar a peito o bem dos outros”. “A partir do coração do Evangelho, reconhecemos a conexão íntima que existe entre evangelização e promoção humana, que se deve necessariamente exprimir e desenvolver em toda a ação evangelizadora”, observa o Papa. Trata-se, aqui, de uma relação existente entre a confissão da fé e o compromisso social, uma relação que apresenta “um laço indissolúvel”, nomeadamente entre “a recepção do anúncio salvífico e um efetivo amor fraterno”. “É uma mensagem a que frequentemente nos habituamos e repetimos quase mecanicamente, mas sem nos assegurarmos de que tenha realmente incidência na nossa vida e nas nossas comunidades”, aponta Francisco, que tem marcado o seu pontificado por gestos concretos do Evangelho vivido e concretizado. “Como é perigoso e  prejudicial esta habituação que nos leva a perder a maravilha, o fascínio, o entusiasmo de viver o Evangelho da fraternidade e da justiça!”, alerta o Papa jesuíta, apontando exemplos de citações bíblicas onde se exprime “a absoluta prioridade da ‘saída de si próprio para o irmão’”. Esta saída, explica, integra-se num dos dois mandamentos principais “que fundamentam toda a norma moral como o sinal mais claro para discernir sobre o caminho de crescimento espiritual em resposta à doação absolutamente gratuita de Deus”. “Assim como a Igreja é missionaria por natureza, também brota inevitavelmente dessa natureza a caridade efetiva para o com o próximo, a compaixão que compreende, assiste e promove”.

A proposta do Evangelho “não consiste só numa relação pessoal com Deus”. E a nossa resposta de amor “também não deveria ser entendida como uma mera soma de pequenos gestos pessoais a favor de alguns indivíduos necessitados”, adverte Francisco explicando que a proposta do Evangelho “é o Reino de Deus”. “Trata-se de amar a Deus que reina no mundo”, sublinha garantindo que “na medida em que Ele conseguir reinar entre nós, a vida social será um espaço de fraternidade, de justiça, de paz, de dignidade para todos”. Este Reino “abrange tudo”, “todos  os homens e o homem todo”, refere citando o Papa Paulo VI na Carta Populorum progressio. Há, por isso, aqui, um “critério da universalidade”, que é próprio dinâmica do Evangelho, dado que “o Pai quer que todos os homens se salvem”, acrescenta o Papa Francisco. O mandato de caridade atribuído por Jesus aos seus discípulos, quando os envia em missão, “alcança todas as dimensões da existência, todas as pessoas, todos os ambientes da convivência e todos os povos”, lembra Sumo Pontífice referindo, ainda, que “a tarefa da evangelização implica e exige uma promoção integral de cada ser humano”. Deste modo, acentua o Papa Francisco, “já não se pode afirmar que a religião se deve limitar ao âmbito privado e serve apenas para preparar as almas para o Céu”.

Pelo contrário, verifica-se que exerce influência na vida social e nacional deixando o lugar da intimidade secreta das pessoas. “Uma fé autêntica – que nunca é cómoda nem individualista - comporta sempre um profundo desejo de mudar o mundo, transmitir valores, deixar a terra um pouco melhor depois da nossa passagem por ela”, esclarece o Papa. Neste sentido, Francisco, recorrendo ao Papa Bento XVI na Encíclica ‘Deus é Amor’ deixa uma certeza e um apelo à Igreja: “A Igreja ‘não pode nem deve ficar à margem na luta pela justiça’. Todos os cristãos, incluindo os Pastores, são chamados a preocupar-se com a construção dum mundo melhor”.

Porém, embora manifeste a sua preocupação para com esta dimensão social o Papa Francisco considera que esta Exortação Apostólica “não é um documento social”, lembrando, no entanto, que para ajudar a refletir sobre vários temas da dimensão social existe o Compêndio da Doutrina Social da Igreja cujo uso e estudo recomenda.

texto por Nuno Rosário Fernandes
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