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Sudão do Sul. Um país a caminho do precipício
Ninguém está a salvo
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No Sudão do Sul ninguém está a salvo. A guerra civil já ceifou a vida de milhares de pessoas desde Dezembro do ano passado, mas essa é apenas uma das maiores ameaças. A fome e as doenças prenunciam uma catástrofe de dimensões inimagináveis.

 

A guerra, a fome e a malária são palavras quase proibidas entre os mais de 1,5 milhões de pessoas que enchem por completo os diversos campos de refugiados que tiveram de se improvisar para acolher todos os que fugiram dos combates.
Há palavras que não se pronunciam pois atraem a má sorte, a desventura. Nos diversos campos de refugiados, como em Tong Ping, Malakal ou Mingkaman, todos tiveram de reaprender a viver. Melhor: todos aprenderam o que significa sobreviver. A guerra e o medo escorraçou-os de suas casas, das suas aldeias. Agora estão por ali, de mão estendida, como se fossem mendigos entre mendigos, à espera que alguma coisa aconteça, que a situação melhore. À espera de poderem voltar para casa, se a casa ainda existir.

 

País amaldiçoado

Fez agora três anos que o Sudão do Sul festejou a sua independência. A paz durou pouco tempo. Em Dezembro, explodiu o conflito quando o presidente Salva Kiir Mayardit acusou o seu antigo vice-presidente Riek Machar de estar a preparar um golpe de Estado. O exército dividiu-se e o conflito espalhou-se como um vírus maligno num corpo enfezado. Na verdade, esta é uma guerra tribal entre a etnia dinka e os nuer, entre os seguidores do presidente e os do ex-vice-presidente.
O Sudão do Sul parece uma nação amaldiçoada. Depois da sofrida independência do Norte, maioritariamente muçulmano, foi preciso começar quase tudo do zero. O país nasceu praticamente falido apesar da enorme riqueza que se esconde no subsolo. Mas que importam os poços de petróleo para quem não tem nada para comer? E que dizer do desespero dos pais, com as mãos vazias, a verem os seus filhos morrer de malária, pneumonia, desnutrição ou diarreia? Todos os dias morrem pelo menos três crianças com menos de cinco anos no campo de refugiados de Bentiu, no norte do país. Neste momento calcula-se que cinco milhões de pessoas precisem de ajuda humanitária de emergência no Sudão do Sul.

 

Mãos vazias

Monsenhor Roko Taban Musa, Administrador Apostólico de Malakal, não sabe como acudir tantas pessoas. Foi como que um terramoto que se abateu sobre a sua diocese. As cidades de Bentiu, Malakal e Bor estão irreconhecíveis. O Monsenhor fala em mais de 30 mil casas em ruína e mais de 100 mil pessoas sem nada para comer. “Este conflito é devastador e extremamente inumano”, diz-nos, ao telefone. Percebe-se que está aflito. Como alimentar tantas pessoas quando não se tem nada para oferecer? O Monsenhor Taban descreve o que precisa como se estivesse a fazer uma lista para as compras no supermercado. Precisa urgentemente de arroz, milho, feijão, açúcar, azeite e sal. E água potável. “As pessoas estão a passar fome e, se não se fizer nada, é uma desgraça.”

 

Mortos a sangue-frio

E tudo indica que assim vai ser. Uma desgraça. Em Maio, foi assinado um acordo de cessar-fogo entre os beligerantes. Ocasionalmente, houve trocas de tiros, novos combates. Na passada segunda-feira, dia 21 de Julho, soldados rebeldes atacaram a cidade de Nasir, perto da fronteira com a Etiópia. De novo os tambores da guerra fizeram-se ouvir.
Nos campos de refugiados milhares de pessoas acotovelam-se na esperança de conseguirem sobreviver mais um dia, uma semana que seja, um mês. No entanto, ninguém se atreve a regressar às suas aldeias, ninguém consegue esquecer os dias de horror. Em Abril, em Bentiu, centenas de pessoas foram mortas a tiro, quando partidários do ex-vice-presidente entraram na cidade e massacraram as pessoas que se encontravam refugiadas numa igreja, em edifícios ocupados pela ONU, numa mesquita e até num hospital. Foram mortos a sangue-frio. Primeiro, perguntavam-lhes a que etnia pertenciam. Se eram da etnia dinka, morriam logo ali.

 

Campanha de emergência

A Fundação AIS lançou uma campanha de emergência para os refugiados no Sudão do Sul. É preciso que o Monsenhor Taban tenha o arroz, o milho, o feijão, o açúcar, o azeite e o sal de que precisa para salvar as vidas dos que estão a passar fome. Ele está de mãos vazias e pediu-nos ajuda. O Monsenhor Taban conta consigo.

 

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A Fundação AIS tem a honra de convidar todos os seus amigos e benfeitores a participarem na Peregrinação a Fátima, dia 14 de Setembro (Domingo). Este convite é extensível aos seus familiares e amigos.

Inscrições em www.fundacao-ais.pt ou ligue para 217 544 000

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