Domingo |
À procura da Palavra
“A vida tem segunda via?”
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DOMINGO XXVI COMUM Ano A

"Os publicanos e as mulheres de má vida

irão diante de vós para o reino de Deus 

Mt 21, 31

 

A pergunta é de um conto de Mia Couto e, desde que o reli, por estes dias, já com o Evangelho de domingo a bailar-me no pensamento, as ligações apareceram. É verdade que o tempo é irrepetível, e como rio que corre, não voltaremos a nenhuma situação já vivida. O que confere uma solenidade e um risco às nossas escolhas. É importante saber escolher bem. Por outro lado, se “todo o mundo é composto de mudança / tomando sempre novas qualidades”, como dizia Camões, o certo é que gostamos pouco da mudança e todas as seguranças nos parecem melhores. Assim acabamos por pensar que é difícil, ou impossível, alguém mudar (para melhor, porque, para pior, até parece fácil!), e até nós próprios podermos escrever direito o que rabiscámos em linhas tortas. É isso que me apaixona no evangelho de Jesus: Deus acredita que podemos sempre mudar. E nunca desiste de ninguém!

Gosto de imaginar as caras dos príncipes dos sacerdotes e dos anciãos do povo ao ouvirem Jesus dizer que os publicanos e as prostitutas entrariam diante deles no céu. Porque eles eram como o filho que tinha dito “não” ao pedido do pai, mas agora, arrependidos, acolhiam Jesus e o seu projecto de vida nova. Sim, o arrependimento é uma coisa boa, e é a “segunda via” que os burocratas do sagrado e os fiscais da religião muito apregoam mas pouco vivem. José António Pagola no seu comentário dominical em religióndigital.es oferece esta semana testemunhos de prostitutas acompanhadas por algumas Irmãs Oblatas. Atrevo-me a traduzir um deles: “Agora, quando chego a casa depois do trabalho, lavo-me com água muito quente para arrancar da minha pele a sujidade e depois rezo a este Jesus porque ele, sim, entende-me e sabe muito do meu sofrimento… Jesus, quero mudar de vida, guia-me porque só tu conheces o meu futuro…”

Sim, o pior mesmo não é errar, mas não ganhar a coragem do arrependimento e a vontade de mudar. Não sabemos o que fez mudar o filho que se decidiu a cumprir o pedido do pai, mas sabemos que o primeiro se tornou o representante dos que “dizem mas não fazem”. Os valores humanos da verdade, da justiça, da responsabilidade, de tudo o que nos dignifica como pessoas são promotores das muitas possibilidades de mudança pessoal e comunitária. Mas é o encontro pessoal com quem os vive autenticamente, com quem nos aponta ideais mais altos, como Jesus sempre fez a todos, especialmente aos mais desprezados, que faz a verdadeira diferença.

Concordo com Mia Couto: “a vida, sim, tem segunda via. Se o amor, arrependido de não ter amado, assim o quiser.”

P. Vítor Gonçalves
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