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Igreja Italiana de Nossa Senhora do Loreto
Uma comunidade estrangeira no centro da cidade
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Os Italianos em Lisboa no início do ano 1500 eram numerosos. Naquela altura a Itália estava fragmentada em pequenos estados. Os Italianos vinham daí e sentiam um forte sentimento de união e desejo de ter um lugar de culto próprio.

 

Uma das razões determinantes para vir em Portugal foi o comércio. Na origem da Igreja do Loreto em Lisboa, encontramos um grupo de comerciantes aos quais depois se associou a inteira comunidade italiana da cidade: “Viri mercatores”, homens de negócios, comerciantes, uma categoria de pessoas corajosas, abertas à novidade. Os “Viri mercatores” não pediram a proteção de nenhum príncipe de Itália; só pediram a proteção espiritual do Santo Padre por meio dos Cónegos de S. João em Latrão. Estes, que vinham especialmente de Génova, Livorno, Pistoia, Firenze, Milano, Cremona e Venezia foram os principais organizadores da construção da Igreja do Loreto.

A motivação de dedicar a Nossa Senhora do Loreto uma igreja, desde a sua fundação, não conhecemos (devido aos incêndios, que destruíram muitos documentos do arquivo). Por isso pensamos que a escolha do padroeiro não devia dividir os Italianos. Se tivessem escolhido dedicar a Igreja a um Santo particular, venerado mais numa cidade de Itália que noutra, podiam surgir contrastes. O facto de ser dedicada a Nossa Senhora com o título de “Lauretana”, embora lembrasse um território italiano com exclusão de outros, não devia ser interpretado como favoritismo, pelo facto que Loreto dependia do Sumo Pontífice, ao qual todos, no campo religioso, prestavam obediência.

Lendo a Bula de 1518, Bula de ereção da paróquia do Loreto, resulta que o titular da Igreja foi incluído no pedido que o Procurador dos Italianos entregou aos Cónegos de S. João em Latrão. A ideia de dedicar a Igreja à Nossa Senhora do Loreto pode ter a sua origem nos comerciantes, no representante do Papa em Portugal ou num eclesiástico Português devoto de Nossa Senhora do Loreto.

Para construir a igreja, os Italianos precisavam da licença da autoridade eclesiástica. O bispo de Lisboa podia autorizar a construção de uma igreja, mas os Italianos queriam ficar isentos da autoridade do bispo local e quiseram agregar a sua igreja à de S. João em Latrão, em Roma.

O mais antigo documento que temos fala da existência da “Casa de Nossa Senhora do Loreto” e tem a data do dia 29 de outubro de 1530. Este documento, que se refere ao pedido dos Italianos ao rei D. João III, para isenção de uma taxa sobre o terreno, indica que a igreja já existia. De facto, num documento mais recente, encontramos que a Igreja de Nossa Senhora do Loreto foi aberta ao culto no dia 8 de fevereiro de 1522.

 

Terramoto de Lisboa de 1755

O terramoto de Lisboa de 1º de novembro de 1755, sábado às 9h30, é tristemente lembrado pelas ruínas e pelo grande número de vítimas humanas. A igreja não foi destruída pelo terramoto, mas pelo incêndio das casas vizinhas, na manhã de segunda-feira. Ficaram só as quatro paredes da igreja. O fogo estragou os preciosos mármores, estátuas dos doze apóstolos e os quadros de grande valor.

A comunidade Italiana não podia ficar sem um lugar de culto. Então adaptou a sacristia como igreja, que foi aberta ao culto no dia 5 de Junho de 1756. O terramoto provocou uma grande dificuldade financeira à comunidade italiana, mas, apesar desta situação, a igreja foi reconstruída, também esta vez, só com os sacrifícios e dinheiro das taxas elevadas, que os Italianos se impuseram. Cerca de 30 anos depois do terramoto, a nova igreja do Loreto, com linhas arquitetónicas mais harmoniosas, voltou a ser aberta ao culto.

 

A igreja do Loreto durante a ocupação Francesa em Portugal

No dia 30 de novembro de 1807, as armadas francesas do comandante Junot ocuparam a cidade de Lisboa. A 1 de fevereiro de 1808, o general Junot emana um decreto que obrigava todas as igrejas a entregar a metade das rendas das casas e todos os objetos de ouro e prata, que não eram necessários ao culto, para fazer moedas e financiar, assim, as despesas do seu exército. Loreto, como as outras igrejas, entregou muitos objetos preciosos.

A guerra fez-se sentir pesadamente nas finanças da igreja. Mas com o exilio, a 4 de junho de 1814, Napoleão Bonaparte parte para a ilha de Elba. O Papa Pio VII, prisioneiro a Fontainebleau (França) pode voltar a Roma. Em toda a cristandade houve festas de cerimónias religiosas de agradecimento a Deus e também Loreto distinguiu-se nesta corrida.

 

Remodelação do adro da igreja

A igreja do Loreto possuía um grande adro a partir da porta principal da Igreja e continuava na “Rua Larga de S. Roque”, atual Rua da Misericórdia, e chegava até ao número 20 da mesma rua. Matos Sequeira, no seu livro “Carmo e Trindade”, afirma que havia em cima da porta do número 20 da Rua da Misericórdia uma lápide que dizia: “Aqui chega o Adro do Loreto com toda a largura da rua”.

Em 1860, a Junta do Loreto aceitou o desejo da Câmara de Lisboa de alargar a rua Larga de S. Roque, e assim ficaram só as duas escadas em pedras e o passeio, como se pode ver agora.

 

Párocos do Loreto

O elemento que unifica as atividades das paróquias é sempre o Pároco. A Igreja do Loreto teve párocos exemplares e, de maneira especial, dois de grande nível intelectual e artístico: Pe. Francisco Leitão Pereira, de 1719 até à sua morte em 1735 e Pe. Prospero Peragallo da diocese de Génova, de 1865 até 1896.

O Pe. Peragallo foi sócio fundador da Sociedade de Geografia de Lisboa e sócio da Academia Real, distinguindo-se pela sua cultura e pesquisas. Depois da reconstrução da igreja do terramoto de 1755, os párocos, conforme o estatuto da igreja, são nomeados pela Santa Sé.

O estatuto estabelece fundamentalmente que a igreja do Loreto:

A) Depende diretamente da Santa Sé.

B) Pertence por expressa vontade dos seus fundadores à Nação Italiana.

C) É sob a proteção do Governo Italiano.

A igreja de Nossa Senhora do Loreto foi confiada, oficialmente, no 1º de dezembro de 1951 à Congregação religiosa dos “Sacerdotes do Coração de Jesus” (Dehonianos).

Atualmente estão 4 Padres e a atividade principal é a assistência religiosa da comunidade Italiana e o ministério da reconciliação, durante todos os 365 dias do ano.

Datas importantes: a festa de Nossa Senhora do Loreto, padroeira, o dia 10 de dezembro (no calendário litúrgico), mas é celebrada solenemente no Domingo mais próximo. Pela ocasião são convidados: o Núncio Apostólico, autoridades e as companhias aéreas com as suas bandeiras, porque Nossa Senhora do Loreto é a padroeira da aviação. Outra data importante é o Domingo de Ramos (encontro da comunidade Italiana antes das férias pascais).

texto pelo Pe. Francesco Temporim
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