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A dura vida dos refugiados em Zaatari, na Jordânia
Chovem lágrimas no deserto
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Todos os dias contam as mesmas histórias. Todos os dias, o Padre Khalil escuta os mesmos lamentos, o sofrimento de quem perdeu filhos, pais, irmãos… No campo de refugiados de Zaatari, na Jordânia, todos estão a reaprender a viver depois da experiência da guerra.

 

O campo de refugiados de Zaatari, construído pelas Nações Unidas em pleno deserto, na Jordânia, foi pensado para albergar cerca de 60 mil pessoas. Neste momento vivem lá mais de 120 mil. É uma verdadeira cidade de tendas, tão grande que se transformou, em poucos meses, no terceiro maior campo de refugiados do mundo. A esmagadora maioria dos que lá vivem são sírios. São pessoas em fuga por causa da guerra civil que tem vindo a destruir o país desde há três anos. Muitos são cristãos. É fácil escutar vozes de crianças em Zaatari. Quase metade de todos os refugiados são crianças. Muitas destas crianças até já nasceram em Zaatari.

 

Mercado negro

Neste campo de refugiados, com as tendas arrumadas numa arquitectura desenhada a regra e esquadro, formando ruas principais e secundárias, a vida foi ganhando alguma normalidade. Aos poucos, começaram a surgir pequenos negócios, lojas improvisadas de tudo, até de telemóveis, de roupa, de comida. Vendem-se cigarros e galinhas. Há um barbeiro e há, claro, o mercado negro, quem faz da necessidade dos outros o seu modo de vida. E há prostituição. Aos poucos, as ruas foram ganhando cor, mas também se tornaram palco de alguma violência, como se a guerra civil de onde todos fugiram tivesse de os perseguir até ao fim das suas vidas. Até mesmo ali, no meio do deserto.

 

Exorcizar o medo

Todos os dias o Padre Khalil faz questão de visitar as famílias que agora se acotovelam em Zaatari dando-lhes uma palavra de conforto. Para quem perdeu tudo o que tinha amealhado na vida, a casa, o trabalho, os sonhos, viver ali, encurralado entre tendas, é um sofrimento que não permite esquecer os horrores dos dias da guerra quando tudo desabou à força das balas, do ódio que empunha as metralhadoras, da violência que aterrorizou homens, mulheres e crianças. Todos os dias, o Padre Khalil - cuja missão junto dos refugiados é apoiada pela Fundação AIS – vai a Zaatari apenas para escutar. Todas aquelas pessoas precisam de desabafar, de exorcizar os seus medos, a angústia que lhes tolda ainda o coração. “Acompanho-os, dou-lhes esperança e faço-lhes ver que não estão sós”, diz-nos este sacerdote que, raras vezes, não consegue também suster as lágrimas perante as histórias de quem perdeu tudo na vida e não sabe agora para onde ir, o que fazer, que futuro dar às suas crianças.

 

Viver da caridade

Ser-se refugiado em Zaatari significa que se está praticamente de mãos vazias à mercê da caridade. Todos os dias os serviços da ONU distribuem cerca de 20 toneladas de pão e 4 milhões de litros de água. A vida em Zaatari não é fácil. Há famílias inteiras a viver numa tenda. Ninguém tem privacidade. As casas de banho e as cozinhas são colectivas. Há muito desespero e revolta. “Que mal fizemos nós para estarmos a sofrer assim?” O Padre Khalil escuta lamentos. Pouco mais pode fazer do que confortar quem perdeu tudo na vida, quem ainda não sabe do paradeiro de filhas raptadas por jihadistas e que provavelmente terão sido vendidas como escravas, violadas, talvez mesmo mortas.

 

Que dizer?

Que dizer a alguém que viu o marido ser assassinado, ou os filhos a esvaírem-se em sangue? Que dizer a quem perdeu a casa, o trabalho, todas as formas de sustento? O Padre Khalil tem esse poder do silêncio. De quem se oferece apenas para ouvir, de quem reza todos os dias por aqueles homens, mulheres e crianças que foram sacrificados por uma guerra que não desejaram. Estar ali, enxugar as lágrimas de quem tanto sofre, vale mais do que todas as palavras que se pudessem dizer. Além da ajuda material que a Fundação AIS tem vindo a disponibilizar para os milhares de refugiados sírios e iraquianos, vítimas do terrorismo dos jihadistas, há todo um trabalho quase invisível e silencioso que é desenvolvido por pessoas como o Padre Khalil em lugares como a cidade de tendas de Zaatari. O Padre Khalil pede a nossa ajuda, as nossas orações, para poder continuar a enxugar as lágrimas destes refugiados.

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