FIÉIS DEFUNTOS
"Quem acredita em Mim,
Jo 11, 25
Hoje faltam-me as palavras para falar deste dia de fiéis defuntos. Como faltam quando morre alguém, e muito mais, quando é alguém que amamos. Diante da morte o silêncio não é uma derrota, mas uma expectativa e uma companhia. “Não pode ser só isto. A vida abraçada e amada não pode, simplesmente, acabar!; parecem ecoar vozes dentro de nós, com dor, revolta, saudade, e esperança à mistura. Nem com a banalização da morte que as notícias nos trazem de perto e de longe, e as reportagens e ficções que fazem dela relatos da nossa fragilidade, nos habituaremos a esta evidência. Morrer não encaixa com a vida plena que desejamos! E como a desejaríamos se sempre conhecemos que tudo morre, e se transforma, e há um ciclo de vida a que pertencemos?
É difícil o convívio com a morte. Mesmo os que temos fé e acreditamos na promessa de Jesus, (o Ressuscitado que nos há-de ressuscitar) experimentamos a fragilidade das certezas, a dor da separação, o desejo de abraçar quem amamos e agora já não está aqui. E todo o ambiente que nos rodeia, exaltando a vida, a festa, o excesso, a alienação, procura não falar dela e ignorá-la. Como se não existisse. Vive a clandestinidade que se associa à doença e ao sofrimento, onde há alguns ombros em que é possível chorar sem consolos fáceis, e presenças cheias de amor com poucas palavras. Dizia Gabriel Marcel que “amar alguém é dizer-lhe: ‘tu não morrerás”, e nesses momentos podemos vislumbrar como o amor é mais forte que a morte. Mesmo quando a morte parece vencer. Não creio que viver seja aprender a morrer. E lembro muitas vezes a frase de Sebastião da Gama: “que a morte, quando vier / não venha matar um morto”, para afirmar a responsabilidade que nos é confiada de viver (em cheio) até ao fim. E se a confiança em Jesus Cristo não retira totalmente o medo, a fragilidade, a tristeza, ela abre-me para o “Deus das surpresas” que desejo encontrar e abraçar. Ainda que esta passagem tenha muito de solidão, também é verdade que somos-com-outros, há uma comunhão de vida, e também de fé, que nos fortalece. Nessas admiráveis “catedrais do sofrimento humano” (como alguém lhe chamou), que são os hospitais, o acompanhamento cristão da dor e da morte é um sinal profundo de amor. A presença fraterna de capelães e voluntários preparados precisa ser solicitada pelo próprio ou por familiares, ao entrar em internamento, ou logo que possível. Na fragilidade e no despojamento que uma doença produz, a presença serena e amiga de quem nos escuta e acolhe, respeita as revoltas e nada impõe, mas abre a uma esperança que está semeada no nosso baptismo é também um milagre da comunhão que Jesus faz. Um dia, também eu, espero ser um fiel defunto. Deixarei de ter funções aqui, mas nessa plenitude de Deus, anseio o funcionamento inteiro e sem desgaste, do amor. Que só Deus dá, como diz Fernando Echevarría: “Entardecíamos em Deus. No doce / apuro da sua dádiva. / Era um Outubro cúmplice, por onde / o lúcido licor vinha às palavras / explicitar-se. E ao seu lume a pôr-se / no júbilo do espírito e das águas. / Decantava-se sermos o suporte / desse momento. Da doçura amarga / que altíssima subia pela morte / e dava em vida. Que só Deus nos dava.”
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