Domingo |
À procura da Palavra
Do templo à casa
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DOMINGO XXXII COMUM Ano A
"Destruí este templo
e em três dias o levantarei.”
Jo 2, 19

Todos os evangelhos nos descrevem a intervenção violenta de Jesus no Templo de Jerusalém. Ao purificar o Átrio dos gentios, transformado em lugar de comércio (era preciso vender e comprar os animais para os sacrifícios de sangue que a Lei estabelecia) e de câmbio (só o “dinheiro sagrado” emitido pelo Templo podia ser utilizado nas transações), Jesus realiza um gesto profético com enormes consequências. Atacar o templo era atacar os fundamentos da vida religiosa, social e económica de Israel. Era atacar o próprio Deus pois ali era o lugar onde ele habitava. É incrível como Jesus não foi logo ali preso ou apedrejado! À época, nas devidas proporções, era mais devastador esse gesto do que bombardear Wall Street ou o edifício Berlaymont, sede da Comissão Europeia em Bruxelas!

A manificência do Templo, reconstruído após o exílio em Babilónia, constratava com a miséria do povo que as páginas dos evangelhos nos descrevem. E se a devoção de ir ao Templo nas festas importantes era grande, e Jesus também a ele peregrinou, a sua instrumentalização por uma religião que controlava o “acesso” a Deus, que sustentava a força dos poderosos, que marginalizava os mais pobres e excluía os que falhavam, tem muito pouco a ver com o Pai dos pequeninos e dos pobres que Jesus anunciava. Por isso, o “novo Templo” vai ser o seu corpo, “reconstruído” em três dias pela ressurreição. E não haverá sacrifícos de sangue no novo culto, nem propostas de uma religião individualista, em que cada um procura o próprio interesse acumulando méritos! Do Templo, onde o encontro com Deus era sujeito a tantas “alfândegas” e burocracias, Jesus torna Deus presente na casa simples e humilde, na sala de cima, no convívio fraterno, entre pecadores e mulheres de má vida, na intimidade onde a verdade é possível. É na família, no portas adentro, onde o amor quer crescer para transbordar, e a transparência pode alimentar o diálogo construtivo, que Jesus semeia o seu Reino. O perigo será talvez não estarmos atentos à falsidade e convencionalismo que o “ser família” também pode gerar, como tão pertubadoramente David Ficher nos oferece no seu último filme “Em parte incerta”, obra para ver e debater, certamente também por muitos casais!

Por isso esta festa da Dedicação da Basílica de Latrão também nos interpela sobre a construção das nossas comunidades. Como dizia um amigo meu: “Sabes, as igrejas são como as bananas; o edifício é a casca, mas o que importa é o que está lá dentro, as pessoas é que valem!” E com a sua graça ele tinha razão. Construir igrejas não é o objectivo principal do Reino. Claro que precisamos de casas de encontro, de oração, de partilha, de comunhão e de acolhimento. Mas o que conta são mesmo as pessoas, animadas pelo amor de Jesus e com vontade de crescer em fraternidade, com coragem de abrir portas e janelas (ainda que se apanhem alguns resfriados, morrer sem oxigénio é bem pior!), de ser fora o que são dentro, de não alimentar falsidades nem hipocrisias, e nunca, mas mesmo nunca, nos esquecermos dos pobres. Os edifícios mais belos não subsistirão à erosão do tempo, e a tensão entre oferecer a Deus o excesso de riqueza em templos sumptuosos (que não sei se Ele quer!) e o compromisso pela dignidade da vida de todos (que sei que Ele quer!) permanecerá. Que alegria em Jesus nos ter dito: “onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, Eu estarei no meio deles”. Na Basílica de São Pedro, debaixo de um embondeiro, numa praia ao pôr do sol, numa enfermaria de hospital, numa festa de aniversário, na intimidade de uma casa!

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