Lisboa |
Visita Pastoral à Vigararia da Amadora
Patriarca desafia catequistas a incentivarem a oração e a prática do bem
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No encontro com os catequistas da Vigararia da Amadora, o Patriarca de Lisboa reconheceu e agradeceu o trabalho dos que dão a sua vida em prol da educação cristã das crianças e adolescentes. Em Alfornelos, D. Manuel Clemente pediu ainda aos catequistas que tomem como exemplo “o estilo de vida de Jesus”.

 

“Respeito, admiração e gratidão” pela missão dos catequistas na Igreja. Foram estas as palavras proferidas pelo Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, no início do encontro com os catequistas da Vigararia da Amadora, por ocasião da Visita Pastoral, que decorreu no passado dia 5 de dezembro. A noite fria em que se realizou a reunião com os catequistas das 15 paróquias que compõem esta vigararia, foi o exemplo dado pelo Patriarca para apontar uma das inúmeras contrariedades que fazem experimentar a “verdade” e a “beleza” da gratuidade que se cumprem nas palavras de São Lucas, no Livro dos Atos dos Apóstolos: “Há maior felicidade em dar do que em receber”.

A partir de alguns dos pontos da Exortação Apostólica ‘A alegria do Evangelho’, do Papa Francisco, D. Manuel Clemente começou por destacar a importância dos catequistas para a evangelização, reconhecendo que esta nem sempre é uma “missão fácil” de cumprir. Ser catequista “representa muito boa vontade, mesmo com os afazeres da vida de cada um, das famílias e do trabalho. Mas que bom e bonito é esta missão! Despertar a atenção das crianças e adolescentes, mantê-los, semana após semana, interessados, acompanhá-los no caminho de descoberta e conversão a Jesus Cristo e à vida cristã não é nada fácil”, afirmou o Patriarca de Lisboa, apontando a importância da catequese no processo de educação da criança. “Quando temos a graça de nascer em famílias cristãs, ouvimos falar n’Aquele que é O tudo da catequese. Depois, da família passamos para a comunidade paroquial, onde para além dos padres e diáconos, as crianças têm mais habitualmente, ao seu dispor, os catequistas, que nesta vigararia são quase oitocentos”, sublinhou, satisfeito. “Essa ordem é fundamental. Sem ela não conseguiríamos nada e teríamos famílias muito desamparadas quando quisessem transmitir a fé aos seus filhos. É através dos catequistas que as crianças descobrem que a Igreja é uma realidade muito plural, «é um corpo» – como nos lembra São Paulo – que é integrado por diversos órgãos, e todos colaboram em comum”, referiu D. Manuel Clemente.

 

Oferecer Jesus Cristo

De entre as inúmeras indicações deixadas para toda a Igreja, pelo Papa Francisco, através da Exortação Apostólica, D. Manuel Clemente, perante os catequistas da Vigararia da Amadora, destacou alguns dos pontos mais específicos sobre a catequese e o que é pedido aos catequistas. No documento, o Papa Francisco começa por definir que “a educação e a catequese estão ao serviço do crescimento” cristão. Para D. Manuel Clemente, “a finalidade de toda a educação cristã, e da catequese em particular, é servir o crescimento das pessoas em Cristo”. “Temos que compreender que com o batismo começa em nós uma aventura do Espírito para transformar cada um, a pouco e pouco, em Cristo. Isto de ser cristão não é um adjetivo que se junte ou tire, mas é um substantivo, isto é, uma substância nova que o Espírito de Jesus Cristo reproduz. É isto a catequese. A catequese é para que as crianças e jovens não só saibam coisas de Jesus, mas saibam a Jesus, e para que os catequizandos possam transformar outros”, aponta o Patriarca de Lisboa. Perante o problema de, muitas vezes, se pedir à Igreja sacramentos, como quem pede “coisas”, o Patriarca de Lisboa apontou a função essencial da Igreja. “O grande problema pastoral é que nos pedem coisas, mas o que nós temos para oferecer é uma Pessoa, Jesus Cristo! A Igreja existe como o grande sinal e veículo da transmissão de Cristo. A vida cristã é a vida de Cristo em nós e não é a nossa vida que de vez em quando tem uma ‘cor’ cristã”, recordou D. Manuel Clemente, questionando os catequistas presentes: “Transmitimos ou não transmitimos, passamos ou não passamos esta Pessoa de Jesus Cristo naquilo que fazemos e dizemos?”.

 

Gosto pelo bem

Outro dos pontos referidos no encontro com os catequistas da Vigararia da Amadora, que contou também com a presença do Bispo Auxiliar de Lisboa D. Nuno Brás, foi a importância “do primeiro anúncio”, o querigma, que foi lembrado com a leitura de um dos pontos da exortação apostólica: “Voltámos a descobrir que também na catequese tem um papel fundamental o primeiro anúncio, ou querigma, que deve ocupar o centro da atividade evangelizadora e de toda a tentativa de renovação eclesial”. O Patriarca de Lisboa considera importante oferecer às crianças esta “boa notícia”. “Perante os momentos em que o cristão olha à sua volta e se depara com a morte de um familiar ou amigo, é importante incutir nas crianças esta nova notícia. Esta vitória de Cristo sobre a morte, que nos faz viver uma vida, que mesmo que acabe, realmente se transforma. Isto é o anúncio da Páscoa! Ressuscitou! Este querigma tem que estar sempre presente, durante toda a vida. É isto que temos para anunciar e testemunhar. Com Jesus Cristo, Deus nos acompanha sempre, na vida, na morte e além da morte, porque tudo é vida e também nos dá o Espírito de Jesus Cristo que nos ensina a vencer a morte, da única maneira que ela se vence, através da caridade que é única coisa que não acabará. Amando os inimigos estamos a vencer a morte, vencendo o egoísmo estamos a vencer a morte, dando-nos até ao fim, vencemos a morte”, focou D. Manuel Clemente.

A transmissão às crianças do cuidado pelos outros foi outro dos pontos destacados pelo Patriarca de Lisboa, no encontro no auditório da igreja de Alfornelos. “Para transmitirmos esta notícia às crianças, na família e no grupo de catequese é fundamental que as crianças e adolescentes se treinem em não viver para si próprios, mas em boas ações ganhando o gosto pelo bem. É impressionante olhar para a imagem dos pastorinhos de Fátima quando Nossa Senhora lhes começa a pedir para rezar pelos outros – que no fundo são coisas de Jesus –, e eles nunca mais quiseram outra coisa. Isto ganha-se. E quanto mais cedo se ganhar, melhor”, apontou.

 

A beleza atrai

Falando também da importância dos sinais litúrgicos, que devem estar presentes na comunidade cristã, e da “beleza da Cruz, que atrai”, o Patriarca de Lisboa considerou haver ainda “muito para avançar” nesse caminho.A catequese tem de ser uma mistagogia, tal como refere o Papa Francisco: ‘Outra característica da catequese, que se desenvolveu nas últimas décadas, é a iniciação mistagógica, que significa essencialmente duas coisas: a necessária progressividade da experiência formativa na qual intervém toda a comunidade e uma renovada valorização dos sinais litúrgicos da iniciação cristã’”. Segundo D. Manuel Clemente, o envolvimento comunitário e a liturgia devem estar presentes na educação da fé das crianças. “O conjunto de sinais na comunidade cristã, como o é, por exemplo, uma dedicação de uma igreja ou de um altar, em que a palavra se exemplifica e esclarece, fazendo a mistagogia, não é apenas uma lição mas sinais que se vão desdobrando para transmitir a vida de Cristo. Temos vindo a avançar neste caminho mais ainda falta muitíssimo”, considerou. “O pior que pode acontecer é fazer-se dez anos de catequese e ainda se estar a dizer ‘ir à igreja’ sem se perceber ‘o que é a Igreja’. Claro que existem locais específicos a que chamamos igreja, mas mesmo que não os tivéssemos, a Igreja somos nós”, afirmou D. Manuel Clemente.

“Algum de nós imaginaria a vida sem conhecer Jesus? Não seria como se apagasse a luz?”, questionou D. Manuel Clemente, para introduzir a temática da “beleza” na missão catequética. Tomando como referência as palavras do Papa na sua primeira Exortação Apostólica, ‘A alegria do Evangelho’ – «Anunciar Cristo significa mostrar que crer n’Ele e segui-Lo não é algo apenas verdadeiro e justo, mas também belo, capaz de cumular a vida dum novo esplendor e duma alegria profunda, mesmo no meio das provações» –, o Patriarca de Lisboa considerou que “o seguimento de Cristo não é apenas pela justiça de o seguir porque percebemos que Ele é a verdade”. “Esta verdade é bela. Jesus não só convence como seduz e atrai. A cruz significava, para os primeiros cristãos, o pior dos suplícios mas, a pouco e pouco, a verdade da cruz como entrega de vida começou a fascinar. Pouco tempo depois, um homem como São Paulo, que perseguia os que falavam de Jesus, começou a escrever ‘toda a minha glória está na cruz de Jesus’. A verdade de Jesus não é apenas conceptual mas é bela, porque as coisas verdadeiras são belas. A verdade da cruz atrai. O cristianismo atrai pela sua absoluta verdade. Nós percebemos que em Jesus está toda a verdade do céu e da terra, concentrada naquela existência que também é a nossa existência, que nasce, cresce, tem amigos mas também tem traidores, tem ideais mas também tem desilusões, tem vida mas também tem morte, e consegue repassar todos estes momentos com aquilo que Deus é, ou seja, amor. Isto é que convence e atrai! Não há nada que convença tanto como o amor, o amor verdadeiro, a vida entregue, o bem do outro. Devemos cuidar da beleza do espaço exterior, mas sobretudo desta beleza da verdade. Uma pessoa que capte isto em criança, tem a melhor ‘bagagem’ para a vida e para as vicissitudes da existência”, alertou o Patriarca de Lisboa.

 

Transmitir a vida

Neste encontro, D. Manuel Clemente falou ainda da “moral” que se pede a quem se disponibiliza para dar catequese, destacando a importância de cada um viver ao estilo de Jesus, “ser anúncio, capaz de contrastar com o que não é de Cristo, não é humano, nem digno”. “A iniciação comunitária que todos temos do mistério de Cristo também se traduz na prática. Lembro o ditado popular, que traduz muito bem o que deve ser a moral cristã: ‘Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és’. Nos relatos evangélicos, vemos que os discípulos foram, a pouco e pouco, ganhando o estilo de Jesus, que não tinham e foram aprendendo”. “Como é que as crianças, hoje, podem aprender de Jesus?”, questionou o Patriarca. “Os catequistas estão na primeira linha do ensino”. Dar catequese “não se trata de uma aula para transmitir conhecimentos técnicos. Trata-se de transmitir uma vida, a vida de Cristo. E por isso há uma exigência moral que começa logo no próprio catequista. Que se esforce realmente por ser discípulo ou discípula de Jesus, a sério, porque isso é o que vai passar para a criança quando ela crescer. Trata-se de ‘um estilo de vida’ como diz o Papa Francisco. É o estilo de vida de Jesus”, lembrou.

Na conclusão do encontro, o Patriarca de Lisboa apontou ainda dois dos “falhanços” que encontra na catequese. “Iniciamos pouco os nossos catequizandos nas duas atitudes fundamentais de Jesus Cristo, que são a oração, sinal da união com o Pai, e a prática do bem, tomando conta dos outros. Estas são as atitudes fundamentais da vida de Cristo e toda a iniciação cristã deve passar para nós a vida de Cristo”, apontou.

 

______________________

 

Números da Catequese na Vigararia da Amadora (Ano pastoral 2014/15)

 

Paróquia      Catequistas  Crianças

Alfornelos           19            205

Alfragide             49            290

Amadora             73            527

Belas                 83            502

Brandoa              36           393

Buraca                30           228

Casal de Cambra   70           735

Damaia               88          500

Falagueira           27           230

Massamá            105          591

Monte Abraão       72          574

Queluz               61           605

Reboleira            28           256

São Brás            24           155

Venda Nova        20           124

TOTAL              785         5.915

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