Doutrina social |
Ataques em França
De Paris vem um alerta para despertar consciências
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Envolvidos ainda no ambiente natalício, com vozes populares ecoando nas ruas ao som dos Reis ou das Janeiras, recebemos um abanão com a notícia do ataque às instalações do jornal “Charlie Hebdo” e ao supermercado judeu em Paris, com um saldo de 20 mortos incluindo os três autores dos atentados.

 

Reagindo a tais acontecimentos, levantou-se uma onda de protestos e de manifestações públicas contra o terrorismo, a violência e a intolerância. Regista-se um dado significativo: De uma forma clara – se verdadeiramente autêntica é outra questão – líderes políticos e religiosos disseram um ‘Não’ a tais formas de agir numa sociedade que não o pode admitir, se é que se considera civilizada; cidadãos anónimos manifestaram o mesmo sentir e idêntica indignação. A manifestação em Paris do dia 11 e as outras que em França e por todo o mundo trouxeram à rua milhões de pessoas exprimem o sonho sempre renovado da paz.

 

Em nome de Deus

Muito se viu e muito se disse sobre este e outros acontecimentos como os verificados uns dias depois, em Bruxelas, com a operação policial a desmontar um possível ataque bombista na capital. No meio do deserto ou dos escombros da insensatez que nos mostra o que de pior existe na pessoa humana, vou-me referir ao caminho seguido por gente que, nos nossos dias, acreditando de formas diversas em Deus, acredita também na pessoa e na humanidade e que vai colocando a sua pedra na construção de um mundo novo, no qual se realiza o “abraço entre a justiça e a paz” como diz o profeta.

Destaco a atribuição do Prémio Nobel da Paz, no dia 10 de Dezembro, à jovem paquistanesa muçulmana Malala Yousufzai e ao ativista indiano hindu Kailash Satyarthi. São pessoas que no mais fundo das suas motivações encontram o valor fundamental e fundante da pessoa humana. A jovem, que já no ano anterior recebera o Prémio Sakharov do Parlamento Europeu, no discurso que proferiu na sede das Nações Unidas proclamou que é hora de falar e de libertar as pessoas, seguindo as pegadas dos grandes Mestres como Gandhi, Jesus, Maomé, na realização do sonho de uma humanidade nova. Por idênticas razões, Satyarthi, que há mais de trinta anos abandonara a carreira de engenheiro eletrónico para se dedicar à luta contra o trabalho infantil, seguindo a tradição de Gandhi, liderou várias formas de protesto e manifestação contra aquilo que é uma agressão à dignidade; disse que este prémio representava para ele o “reconhecimento da dor que milhões de crianças carregam consigo”. Refira-se que uma organização por ele fundada já conseguiu retirar cerca de 80.000 crianças do trabalho escravo.

 

 O anúncio do Reino hoje

Também o Papa Francisco nos tem ajudado a entender o significado daquilo que Jesus chamou  “Reino de Deus” com a sua prática de aproximação às pessoas. Foi o que fez quando em Novembro se dirigiu aos 751 deputados do Parlamento Europeu, desafiando-os a ultrapassarem a ideia de “uma Europa temerosa e fechada sobre si mesma” e deixando claro que “chegou a hora de construir juntos a Europa que gira não em torno da economia, mas da sacralidade da pessoa humana, dos valores inalienáveis”; um eco daquilo que preconiza na “Alegria do Evangelho”(EG 53). Sobre o fundamentalismo que nega a liberdade religiosa e promove a perseguição, disse, no regresso da visita à Coreia do Sul que “é preciso travar a violência” e explicitou: “não digo bombardear, fazer guerra, mas travá-lo”. No passado dia 13 de Janeiro, na visita ao Sri Lanka, ao encontrar-se com os líderes das quatro grandes religiões, disse-lhes que “os seguidores das várias tradições religiosas têm um papel a desempenhar no delicado processo da reconciliação e reconstrução em curso neste país”; e ainda: “A bem da paz, não se deve permitir que se abuse das crenças para a causa da violência ou da guerra”.

Os últimos acontecimentos constituem um alerta. Forçaram algum esclarecimento. Levantaram questões que temos de enfrentar, como a de saber o que fazem ou devem fazer os países civilizados perante os crimes hediondos perpetrados em larga escala por radicais contra pessoas indefesas na Nigéria e noutras paragens; ou a questão de saber quem proporcionou o crescimento dos jihadistas, de quem são eles filhos. Se calhar a “mãe” da criança está mais perto de nós do que supomos. O “day after”, o que vem a seguir é o desafio.

texto por Valentim Gonçalves, CJP-CIRP
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