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Paróquia de Vimeiro (Alcobaça) recebeu Visita Pastoral
Um Francisco que também se faz próximo
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Os paroquianos ‘deram-lhe’ o nome do atual Papa: Francisco. Na verdade, chama-se François Mbagnick Diouf, é natural do Senegal e é pároco de Vimeiro, uma paróquia da Vigararia de Alcobaça-Nazaré que recebeu a Visita Pastoral de D. Joaquim Mendes, Bispo Auxiliar de Lisboa, de 5 a 8 de fevereiro.

 

Em cerca de dois anos e meio, o padre Francisco parece ter conquistado o coração da população do Vimeiro: crentes e não crentes não ficam indiferentes à passagem do padre africano de cerca de dois metros de altura, que nunca se esquece de esboçar um sorriso a todos com quem se cruza. Entre as crianças das escolas e da catequese, é vê-las gritar, alto e bom som, o nome ‘padre Francisco’ cada vez que o pároco se aproxima. Todas querem ir para o colo do sacerdote e ver como é a ‘vista’ lá de cima. No comércio local, ou nas entidades civis, a alegria do povo com a presença do ‘seu’ padre é notória. Ao Jornal VOZ DA VERDADE, o padre Francisco sublinha a importância de se fazer presente entre as pessoas. “O facto de ser uma pequena terra ajuda, certamente, à boa relação. Considero os estabelecimentos comerciais lugares de evangelização. Não digo que vá lá pregar, mas é muito importante o padre ter em atenção estas áreas”, frisa o pároco de Vimeiro, destacando “a colaboração forte que existe entre a paróquia e a junta de freguesia, o centro de saúde, a farmácia local, os cafés e restaurantes, e as empresas e escolas”.

Este padre natural do Senegal é o único sacerdote do seu país ao serviço da Igreja em Portugal. “Estou, progressivamente, a descobrir esta terra. Mas estou a descobri-la ao mesmo tempo que a Igreja é chamada a sair. Está hoje bem sublinhado este facto, esta importância de ir ter com as pessoas e não esperar que elas venham. Estou a notar que isto toca muito as pessoas. Ao mesmo tempo, é importante a dimensão do acolhimento tal como sublinhou o senhor Patriarca quando entrou na Diocese de Lisboa”, aponta.

 

Diálogo e exemplo

Na chegada a Portugal, no dia 11 de fevereiro de 2008, o padre François Mbagnick Diouf encontrou na língua uma barreira que rapidamente foi ultrapassada. Hoje, diz, fala oito línguas, incluindo a de Camões. No seu país de origem, o Senegal, a língua oficial é o francês, uma vez que este país africano foi uma colónia francesa até 4 de abril de 1960. “No Senegal, há pouco mais de 15 etnias e cada uma tem a sua língua. Eu sou da etnia ‘serer’ e a referência que posso dar desta etnia é Léopold Sédar Senghor, que foi presidente do país durante 20 anos, entre 1960 e 1980, e que era ‘serer’. É uma etnia aberta à fé cristã, porque Senghor era católico, num país maioritariamente muçulmano. O primeiro presidente do Senegal era católico e isso significa muito”, descreve. Num país onde 90% da população é muçulmana, somente 5% é cristã, sobretudo católica. “O Senegal tem sete dioceses e, atualmente, todos os Bispos são senegaleses”, conta.

Filho de pais muçulmanos, este sacerdote sublinha que “no Senegal isso não é uma coisa rara”. “É extraordinário o facto de haver cristãos e muçulmanos na mesma família. É uma riqueza para o Senegal o entendimento e o diálogo que existe verdadeiramente entre estas duas comunidades. A religião não é um obstáculo ao bom relacionamento entre as pessoas. A Igreja Católica, mesmo sendo minoritária, tem o seu lugar, tem a sua voz, e os católicos não são cidadãos de ‘segunda’. A própria Constituição do Senegal consagra a laicidade do país e, graças a Deus, não há perseguição aos cristãos. Isto é algo a preservar, porque há sempre perigos que podem vir de fora e colocar em causa este diálogo e este entendimento, que é uma riqueza, de facto”, descreve o padre François Diouf, desejando que o Senegal “mostre ao mundo o caminho a seguir na relação entre muçulmanos e cristãos”.

Quarto entre oito irmãos (quatro rapazes e quatro raparigas), o padre Francisco é filho de pais muçulmanos, mas os avós eram católicos. Foi precisamente a avó paterna que lhe deu a conhecer Jesus Cristo. François Diouf tinha então 12 anos. “Eu aprendi a rezar com o meu pai, ia à mesquita, mas depois fui entregue à minha avó paterna, católica, e quis experimentar, ver a abertura e conhecer a diferença na maneira de viver e de ver as coisas. Comecei a interessar-me por Jesus, a minha avó levou-me ao pároco, que me deu o Evangelho, e entrei logo para a catequese. Foi o meu primeiro contacto, digamos assim, mais profundo com a Pessoa de Jesus Cristo”, conta. O pai, segundo refere, “aceitou e respeitou sempre” a escolha do filho, que seria batizado após três anos de catequese. Então com 15 anos, o jovem François Diouf entra no seminário e em 2003 é ordenado sacerdote. “A alegria do batismo, a proximidade com Deus, descobrir que Ele está perto de nós e que podemos ter uma relação, foi determinante para fazer a minha caminhada. Senti que era importante ser partilhada com os outros a alegria que recebi com o batismo. Isso levou-me nos caminhos da vocação”, salienta este sacerdote, hoje com 43 anos. “Tal como no batismo, na ordenação, os meus pais deixaram-me sempre livre, manifestaram abertura e foram à minha ordenação no dia 5 de julho de 2003”, refere, satisfeito, reforçando que “há muitos padres no Senegal vindos de famílias muçulmanas”.

 

Em movimento

A paróquia de Vimeiro acolhe aquele que é o único padre do Senegal em missão no nosso país. Esta freguesia do concelho de Alcobaça, com pouco mais de 20 quilómetros quadrados de área, tem cerca de dois mil habitantes. “O Vimeiro é uma terra de tradição cristã, onde há uma prática religiosa muito forte, que vem de longe. Esta é uma terra de agricultura, em especial de maçã e de pêra que as pessoas dizem ser as melhores do mundo. Em dez anos, a freguesia perdeu 15% da população. Ao nível de batismos, em 2012 foram 15, em 2013 batizámos 22, e em 2014 houve também 22 batizados na paróquia”, descreve o pároco senegalês, reconhecendo que “a população é algo envelhecida e houve também muitos que tiveram de emigrar à procura de trabalho”. Apesar deste dado, a catequese paroquial tem 142 crianças e adolescentes, para 21 catequistas. “Temos também 12 jovens que foram crismados pelo senhor Bispo, agora na Visita Pastoral, e um grupo de jovens, chamado Alma Jovem, que retomou, há dois anos, as suas atividades e que tem cerca de uma dezena de elementos que concluíram o 10º ano de catequese”. Ainda na juventude, o agrupamento de escuteiros do Vimeiro celebrou recentemente o 22º aniversário e tem, neste momento, 112 elementos, incluindo dirigentes. A explicação para este elevado número, segundo o pároco, prende-se com a ausência de outros agrupamentos de escuteiros nas paróquias vizinhas, o que faz com que muitos dos ‘escutas’ não sejam propriamente jovens do Vimeiro.

Na pastoral familiar, os movimentos Encontro Matrimonial e Esperança e Vida “são muito ativos na paróquia”. “No passado dia 1 de fevereiro, o Vimeiro recebeu o encontro regional do movimento Esperança e Vida onde participaram mais de 200 viúvas”, exemplifica o padre Francisco. A paróquia conta ainda com um casal que participa nas atividades da pastoral familiar a nível vicarial, “que depois serve de ‘ponte’ com os casais cristãos da paróquia”.

Nesta paróquia do Oeste, onde praticamente todos se conhecem, a pastoral social é assegurada por um grupo de voluntários. “Através desse grupo, manifestamos atenção e proximidade para com as pessoas necessitadas da nossa comunidade e da nossa terra”, expõe o pároco africano, destacando igualmente o papel da Santa Casa da Misericórdia de Vimeiro: “É uma instituição que faz parte da paróquia. O provedor, neste momento, é leigo, mas o vice-provedor é sempre o pároco de Vimeiro. A Santa Casa é muito importante e tem várias valências, havendo o projeto de construção de um lar. Há uma grande colaboração entre a Santa Casa e a paróquia”.

 

Gestão participativa

Sublinhando “a generosidade das pessoas do Vimeiro”, o padre Francisco aponta que “em todas as decisões” procura que haja “uma ‘gestão participativa’ dentro da paróquia”. “O padre procura reforçar e acompanhar esta comunidade, mas nem tudo repousa nas mãos do pároco”, garante este sacerdote, que é também vigário paroquial (coadjutor) das paróquias de Turquel e Évora de Alcobaça. A paróquia tem a igreja paroquial, no centro da freguesia, que foi construída há 60 anos, e uma capela no Gaio, a três quilómetros do centro do Vimeiro. O padre Francisco enaltece “a generosidade das 51 pessoas que, voluntariamente, e em escalas, todas as semanas embelezam a igreja paroquial, sem custos para a paróquia”. Também a limpeza do templo, que é feita por uma empresa, é “custeada pelos paroquianos”. “No Vimeiro, há um sentido muito forte de pertença à comunidade, no sentido de comunhão eclesial, que estou somente a procurar consolidar. É preciso procurar que todas as pessoas se possam exprimir verdadeiramente, e não apenas por palavras, dentro desta comunidade. A paróquia não pertence ao pároco nem a dois ou três membros, mas é para todos, é onde cada um pode, verdadeiramente, encontrar o seu lugar”, frisa o pároco, que assumiu a paróquia em setembro de 2013, após um ano como pároco ‘in solidum’ com o padre Carlos Marques.

Quando chegou a esta paróquia da Vigararia de Alcobaça-Nazaré, o padre Francisco encontrou-a dividida por oito zonas, ligadas a terras e lugares da freguesia, que foram constituídas há 20 anos para angariar fundos para o salão paroquial e salas de catequese. “Hoje, estas zonas são mantidas e cada uma tem um responsável que integra o conselho pastoral paroquial, constituído atualmente por 22 membros. Este responsável é um mediador entre a paróquia e os lugares e ajuda muito as pessoas a envolverem-se mais na pastoral”, observa.

 

Sentido de comunidade

Entre os dias 5 e 8 de fevereiro, a paróquia de São Sebastião de Vimeiro recebeu a Visita Pastoral. Ao longo de quatro dias, o Bispo Auxiliar D. Joaquim Mendes benzeu o novo centro de saúde, visitou a junta de freguesia, a Santa Casa, a farmácia local, escolas, lares, cafés, empresas da área da fruta e os doentes. Encontrou-se com as famílias, com os crismandos e com os grupos da liturgia, jovens, catequese e escuteiros. No passado Domingo, último dia da Vista Pastoral, D. Joaquim Mendes crismou 12 jovens e, na homilia da celebração, destacou o “sentido de comunidade cristã, pela solicitude de uns para com os outros”, que observou durante aqueles dias. “Somos a Igreja, povo e pastores, em caminho, queremos ser fiéis ao dom da fé, professá-la, vivê-la e testemunhá-la em obras, no compromisso missionário de levar a todos a luz de Cristo e a alegria do Evangelho”, desafiou.

Após a presença do Bispo Auxiliar de Lisboa no Vimeiro, o padre Francisco sublinha ao Jornal VOZ DA VERDADE que “a Visita Pastoral foi um momento de graça” para a vida da paróquia. “Destaco a proximidade que existe entre a comunidade e o seu pastor. Sou eu que estou no Vimeiro, mas tenho um mandato do Bispo que nos veio visitar! Faço um balanço muito positivo e posso dizer que esta Visita Pastoral não se vai limitar a estes dias. Os frutos, certamente, vão continuar visíveis no futuro desta paróquia. O Espírito Santo vai continuar a indicar-nos novos caminhos que possam ajudar nesta construção e na realização plena de todos nós”, expressa o padre senegalês François Mbagnick Diouf.

texto e fotos por Diogo Paiva Brandão
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