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Isilda Pegado
O “Syriza”, o “Podemos”, ou o Homem sem Humanidade

1 – Vivemos num mundo onde a “eterna juventude” é Ídolo. Não se trata apenas do cuidado corporal (que nada tem de mal), mas acima de tudo é uma atitude de carácter individual e de organização social.

Tal atitude radica profundamente num subjectivismo e livre-arbítrio que conferem ao indivíduo a ilusão de que tudo depende de si. Não há limites à vontade individual, ao seu querer.

2 – Ora, para se alcançar a maturidade é necessário caminhar nas experiências da vida, no significado do que acontece, num juízo sobre o que faço e assim, descobrindo o sentido das coisas.

Se este caminhar na realidade for substituído pela adesão fácil às “modas” que vão surgindo, na convicção de que tudo lhe é permitido fazer, na infantilidade de que “o homem quando nasce, nasce selvagem, é de ninguém” (como diz a cantiga) então, teremos homens e mulheres fracos a quem falta a energia da consciência.

3 – O Poder gosta daquela forma de ser dos homens. Não o afrontam. Usam a contestação, a irreverência, a ousadia, mas apenas num primeiro momento, depois falta-lhes a energia. Vimos isto na Primavera de 68 em França (Jean-Paul Sartre) que pouco tempo durou. Mas, vemos também nos movimentos de contestação que surgiram nos Países Árabes, que rapidamente se esfumaram.

4 – Aproveitando a incapacidade de juízo e a debilidade da consciência dos indivíduos isolados, novas formas de pertença e de populismo prometem aos ingénuos respostas novas para problemas antigos, “sistemas tão perfeitos que já ninguém precise de ser bom”.

Neste novo messianismo político, Deus e a religião são postos de parte, como obstáculos para a realização desse “admirável mundo novo”, feito de relativismo, tolerância abstracta e pequenas liberdades que pretendem iludir o coração do homem. Mas não nos devemos deixar enganar. Mesmo no debate sobre religião e liberdade/violência, tão actual na discussão política na Europa, muitas ideias falsas acabam por penetrar também entre os católicos de boa fé.

5 – Por isso assistimos à adesão massiva a movimentos políticos como o Syriza na Grécia e o Podemos em Espanha onde tudo é prometido e negado em simultâneo. Onde, cada homem fica prisioneiro destas promessas, porque a sua consciência é vulnerável e frágil e não tem energia que a suporte.

Ora, essa energia que nos faz verdadeiramente adultos só virá do confronto com a realidade que nos é dada. Eu não nasci do nada (ao contrário do que diz a cantiga – “é de ninguém”).

6 – Encontramos cada vez mais pessoas pobres de valores, de razões de viver e do valor da própria vida. Para estes é indiferente ser a favor ou contra a liberalização do aborto. Para estes o casamento tanto pode ser entre um homem e uma mulher como ser entre duas pessoas do mesmo sexo, ou uma relação entre 3 pessoas. Negam a realidade das coisas – por exemplo – que no aborto há uma vida humana que é destruída, que o casamento se destina à complementaridade dos esposos e tem vocação para a procriação, etc., etc.

7 – Há uma história que me suporta, há uma realidade que me é oferecida e que desperta a minha pessoa, para algo maior – Deus.

E esta relação com Deus faz-me participar de um todo que vai muito além das minhas capacidade e onde a minha liberdade tem efectivamente valor. A Liberdade não radica nas convenções feitas pelos homens que amanhã, se podem rasgar.

A Liberdade está ancorada na própria Natureza Humana, é o traço que distingue o Homem de todos os seres.

Reconhecer o Homem nesta condição de criatura, a quem é dada a realidade infinita para que possa ser livre, é de facto tornar grande a nossa Humanidade.