Domingo |
À procura da Palavra
O “vício do amor”
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DOMINGO IV DA QUARESMA Ano B
Quem pratica a verdade aproxima-se da luz,
para que as suas obras sejam manifestas,
pois são feitas em Deus.”
Jo 3, 21


Nestes dias conturbados, em que, quase todos os dias, se lê a notícia de mais um marido que mata a mulher e depois se suicida (“que pena não ter feito ao contrário!”, ouve-se no quiosque), os políticos e os altos cargos percebem que, mais cedo ou mais tarde, “tudo se descobre e vem a saber”, e os juros da dívida são os mais baixos de sempre (mas o fosso das desigualdades não cessa de aumentar) é bom ouvir o Evangelho que diz: “Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Unigénito”. Porque é no seu amor que todo o sofrimento é abraçado, e a Páscoa de Jesus compromete-nos a espalhar com a vida esse amor dado. Pois Deus não ama o mundo ideal e perfeito, mas este, imperfeito e cheio de contradicções, em caminho, porque ama cada pessoa, real, capaz do melhor mas também do pior. E em cada pessoa pode brilhar a luz de Deus, mesmo que não acredite n’Ele! 

Foi a última frase do Evangelho que se colou no meu pensamento quando li a entrevista a José Mujica, o presidente cessante do Uruguai, na revista do Expresso de sábado passado. É difícil ficar indiferente a alguém que diz: “Eu defino que a liberdade humana, do ponto de vista individual, é ter tempo para gastar nas coisas que nos gratificam. Sou um inimigo da sociedade de consumo, e sou amigo da sobriedade, de viver com pouco. (…) Tenho pouco apego material, porque isso me garante ter tempo para me dedicar ao que mais me realiza”, e por isso renunciou à residência presidencial para viver na sua casa de 45 metros quadrados com teto de zinco, e doa 87% do seu salário mensal de 12 mil dólares. Assumindo quase um franciscanismo prático, diz: “rejeitei bastante o poder no sentido de que há uma imagem da Presidência e tudo o que a cerca que eu não acompanhei. (…) Eu não concordo com este contrabando feudal e monárquico que se meteu nas presidências contenporâneas”. Mas não rejeitou a importância das relações ao mais alto nível: “é preciso ter relações importantes com um núcleo de gente que está próximo do lugar onde se decide. Esta diplomacia presidencial a que me dediquei permitiu coisas.” É verdade que se afirma ateu, embora diga que “gostaria de acreditar”, e que tomou decisões controversas: liberalizou a marijuana (“temos de deixar o tráfico de drogas sem negócio”), legalizou o aborto e o casamento homossexual. Mas quanta luz também se descobre nas suas palavras: “Viver é superar coisas que ficam para trás e ter outras à frente. (…) Para ter filhos é preciso tempo para os filhos. Para ter amor, é preciso tempo para o amor. E para ter amigos, é preciso tempo para o punhado de amigos. (…) Nenhum vício é bom, a não ser o do amor. (…) Creio que se aprende mais da dor do que da bonança. (…) Como vivo a inventar coisas para a frente, não tenho tempo para olhar para trás.”

Não, Deus não ama por vício. Ama porque é o Amor. E acredito que gosta tanto de revelar o seu amor onde e em quem menos se espera. Se praticarmos a verdade não só nos aproximamos da luz, mas espalhamos luz à nossa volta!

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