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Shahbaz Bhatti: uma vida em favor dos mais desfavorecidos
Um mártir do nosso tempo
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Foram precisas 27 balas. Shahbaz Bhatti morreu num atentado terrorista a meia dúzia de metros de sua casa. Foi no dia 2 de Março de 2011. Os talibãs queriam acabar de vez com o trabalho deste ministro cristão em favor das minorias no Paquistão. Mataram-no, mas a semente ficou e cresceu.

 

“Era o meu irmão mais novo.” Poucas pessoas poderão falar com mais propriedade sobre Shahbaz Bhatti, do que Paul, o seu irmão. Médico, com carreira promissora em Itália, Paul abandonou o consultório, deixou a vida tranquila e confortável na Europa, e regressou ao Paquistão. “Era necessário fazer alguma coisa.” Era preciso continuar o trabalho do seu irmão mais novo, assassinado por um comando talibã, mesmo junto à porta de sua casa. Foram 27 balas cuspidas com ódio por metralhadoras  Kalashnikov. Foi muito perto de casa. Tão perto, que a sua mãe ouviu claramente o estrondo das balas sem imaginar que estavam a desfazer o corpo do seu filho, vítima da intolerância, da violência cega, do ódio.
Paul Bhatti esteve em Portugal no final da passada semana, onde participou no Meeting Lisboa, uma iniciativa que contou com a colaboração da Fundação AIS. Veio trazer-nos a memória do irmão, um mártir do nosso tempo, alguém que nunca recuou na missão de serviço aos mais pobres e mais fragilizados da sua sociedade, apesar das ameaças.

 

Sacrificar tudo

Shahbaz não recuou e pagou com a própria vida a coragem de servir a causa dos mais fracos, tantas vezes confundidos com as minorias religiosas. Uma das suas últimas batalhas foi em defesa de Asia Bibi, a cristã paquistanesa condenada injustamente pelo crime de blasfémia. A acusação era tão grosseira que rapidamente se ergueu um coro de protesto pela sua prisão. Shahbaz sabia que a sua vida corria risco por isso, mas sabia também que a sua vida não teria valor algum se vacilasse nessa luta em favor dos mais desfavorecidos. Pouco tempo antes de o seu corpo ter sido crivado de balas, o então ministro das Minorias – o primeiro cristão a ascender a um cargo governativo no Paquistão – encontrou-se com Samuel Azariah, Bispo da igreja Anglicana. O prelado ainda hoje consegue recordar o que ele lhe disse então: “Estou disposto a sacrificar até a minha vida. Esta é uma causa em que não podemos ceder. E mesmo que seja morto, estou preparado para isso também.”

 

Continuar o legado

Morreu no dia 2 de Março de 2011. Esse assassinato mudou também a vida de Paul Bhatti, que hoje prossegue o trabalho em prol da reconciliação nacional, pelo diálogo entre religiões, em que, como disse, “a erradicação da violência contra os Cristãos depende da capacidade de se chegar ao coração da comunidade muçulmana, sobretudo aos jovens”. Na sua conferência em Lisboa, intitulada “grande para amar, forte para lutar”, Paul Bhatti assumiu o legado do irmão e afirmou-se disposto a continuar a sua luta, independentemente também das consequências. “Nós não temos medo… temos medo na medida em que sabemos que se trata de um trabalho difícil e que somos apenas humanos, mas não vamos recuar porque esta é a nossa missão”, explicou. “Cada um de nós está numa estrada. Temos de dar conta das nossas escolhas”, disse ainda Paul Bhatti perante uma plateia que enchia por completo o salão onde decorreu a conferência de Lisboa, junto ao Centro Cultural de Belém. “Quero continuar este trabalho de promoção da coexistência pacífica entre religiões no meu país.”

 

Poder da oração

Todos os dias, no Paquistão, há notícias de ataques e de violência. Todos os dias, no Paquistão, se perdem vidas inocentes por causa de um apartheid religioso que segrega as minorias e as condena a uma vida marginal, ao desemprego e à pobreza. No Paquistão, tanto os Cristãos como os Hindus são considerados marginais, como se fossem nada, ninguém. Shahbaz Bhatti era um apaixonado pelo que fazia, pela sua luta. O Padre Parvez Emmanuel conheceu-o bem. “Ele tinha uma Bíblia no quarto. Trazia um rosário no bolso, acreditava na oração pessoal…”
Hoje, ninguém tem dúvidas de que Shahbaz Bhatti vai ter um lugar nos altares. Ele deu a vida pelos seus irmãos. O seu trabalho não foi interrompido pelas balas que lhe dilaceraram o corpo. É preciso continuá-lo. Todos os dias há notícias de conversões forçadas, de sequestros, de igrejas danificadas ou destruídas, de violência sexual e de homicídios. Todos os dias, alguém é violentado no Paquistão apenas por pertencer a uma minoria religiosa. Todos os dias, também, alguém ergue a sua voz em defesa dessas minorias. E quando isso acontece, ninguém duvida que Shahbaz Bhatti continua vivo. Serão necessárias mais do que 27 balas para interromperam o seu trabalho.

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