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Iraque: o drama de uma mãe a quem roubaram a filha de 3 anos
À espera de Cristina
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Tem um olhar vazio, perdido no tempo. Um rosto amargurado. Percebe-se logo que está triste. Profundamente triste. No dia em que fugiu da sua cidade, os jihadistas do “Estado Islâmico” arrancaram-lhe a filha de 3 anos, que levava nos braços. Ela foi obrigada a deixar a cidade. A menina ficou para trás.

 

São centenas de famílias, milhares de pessoas. Vivem todas numa espécie de buracos de um centro comercial que ficou por concluir em Ankawa, norte do Iraque. Ao longe parece um acampamento, mas são casas improvisadas em minúsculos espaços, sem qualquer higiene, sem nada. Estão ali. Foram despejados para ali. São todos refugiados. Só isto basta para se falar em tragédia. No meio de tantas vidas desfeitas, há uma mulher que passa os dias a rezar, a implorar a clemência de Deus, a acreditar que vai voltar a ter a sua filhinha nos braços.

 

22 de Agosto

Foi em Agosto do ano passado, quando os jihadistas do “Estado Islâmico” tomaram o controlo de Qaraqosh. Milhares de pessoas fugiram então da cidade. Muitos eram cristãos. Como esta mulher. Há datas que nunca mais se esquecem. A vida de Aida parou no dia 22 de Agosto de 2014. Faz quase um ano. Ela vivia em Qaraqosh, com o marido, Jadder, e cinco filhos. São cristãos assírios. Apesar dos rumores da guerra, viviam bem. Tinham uma loja de doces e tabaco e a cidade estava protegida por forças curdas, os pershmergas. Tudo corria normalmente, até ao dia em que estes pura e simplesmente abandonaram Qaraqosh. A cidade ficou à mercê dos jihadistas do ISIS que entraram em Qaraqosh em Agosto. Praticamente todos abandonaram então a cidade. A família de Aida também.

 

Nove e meia da manhã

Há datas que não se esquecem mais. Foi no dia 22 de Agosto. Aida e Jadder tinham empacotado as suas coisas. Ficar em Qaraqosh sob as ordens fanáticas dos jihadistas era impensável. Ainda por cima para eles, uma família cristã. Empacotaram algumas coisas sempre na esperança de que um dia, talvez mais cedo do que mais tarde, iriam regressar. À saída da cidade, havia uma barreira militar. Todos tinham de passar por ali. Foi então que aconteceu. Eram nove e meia da manhã. Aida levava ao colo a filha mais nova, Cristina, de apenas 3 anos de idade. Um jihadista olhou para ela e, simplesmente, arrancou-a dos seus braços. De nada valeram os gritos, os protestos, as lágrimas já enrouquecidas. A menina ficava. Eles tinham de partir.

 

Fotografia de Cristina

Uma parte de Aida morreu nesse dia, nessa manhã, nesse checkpoint à saída de Qaraqosh. Que interessa a vida depois de ver a filha arrancada dos seus braços? E que será dela agora? A menina já tem praticamente 4 anos. Como estará?
Aida vive hoje, com o marido e os outros filhos, num centro comercial inacabado. Era para ser um centro comercial. É agora um acampamento onde falta tudo, a começar pela higiene. Parece uma favela. São quase 500 famílias que se amontoam por ali. São todos refugiados. Todos têm histórias trágicas. Mas ninguém arrepia tanto o nosso olhar como Aida. Ela está cadavérica e tem a fotografia de Cristina colada na parede, como se assim pudesse estar mais próxima da filha que lhe foi arrancada dos braços.

 

Acreditar

Aida passa os dias em silêncio, a murmurar orações, a implorar pela sua filha. O seu mundo reduz-se agora a isso. Na sua vida só há agora espaço para a memória angustiada da sua filha. “Acredito em Deus e sei que Ele trará a minha filha de volta!” Aida está ali, no meio de milhares de pessoas e, no entanto, está só. É só ela, a filha, que espreita na fotografia, e Deus, a quem continua a rezar. E a nós, só nos resta rezar com ela. E acreditar…

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