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P. Manuel Barbosa, scj
Vocações «em saída»

Neste Domingo do Bom Pastor, quarto do tempo pascal, somos apelados a rezar pelas vocações na Igreja para o Mundo. Uma oração ligada ao compromisso de vidas centradas em Cristo Ressuscitado.

O Papa Francisco, na sua mensagem para este dia, propõe que pensemos nas vocações, que só podem ser missionárias, de discípulos missionários, de êxodo como experiência fundamental da vocação. Pessoas em êxodo, comunidades a caminho, Igreja «em saída»... são dinamismos gerados da contemplação do amor de Deus.

Num breve parágrafo, o Papa sintetiza de modo esplêndido todas estas dimensões que só fazem sentido se vividas ao mesmo tempo, em simultâneo, nunca em sequências. Transcrevo: «a vocação cristã, radicada na contemplação do coração do Pai, impele simultaneamente para o compromisso solidário a favor da libertação dos irmãos, sobretudo dos mais pobres. O discípulo de Jesus tem o coração aberto ao seu horizonte sem fim, e a sua intimidade com o Senhor nunca é uma fuga da vida e do mundo, mas, pelo contrário, reveste essencialmente a forma de comunhão missionária».

Este Dia Mundial de Oração pelas Vocações acontece em plena celebração do Ano da Vida Consagrada. Nunca é demais reiterar o sentido profético de todos aqueles e aquelas que seguem Jesus Cristo na sua existência de vidas consagradas a Deus pelos votos de pobreza, castidade e obediência. Uma profecia que os leva a sair de si mesmos para despertar o mundo, sempre na alegria bebida do único Evangelho, o próprio Jesus Cristo. Trata-se de ingente desafio para estas vocações, para que permaneçam criativamente fiéis às suas origens carismáticas, nunca desvirtuando o primigénio chamamento do Senhor.

Nos horizontes propostos para este Ano, todas as vocações estão envolvidas: leigos, presbíteros, bispos, papa, consagrados e consagradas. Vale a pena revisitar algumas provocações da terceira parte da Carta Apostólica para o Ano da Vida Consagrada, onde o Papa Francisco acentua de modo bem claro a feliz coincidência da sua celebração com o Sínodo dos Bispos sobre a Família: «família e vida consagrada são vocações portadoras de riqueza e graça para todos, espaços de humanização na construção de relações vitais, lugares de evangelização. Podem-se ajudar uma à outra».

De modo mais incisivo, o Papa Francisco dirige-se aos cristãos leigos, para que, na partilha dos ideais, espírito e missão das pessoas consagradas, participem, com a sua condição laical, da realidade carismática das vocações à vida consagrada. Isso constitui enriquecimento mútuo, enquanto crescerem e reponderem juntos aos apelos do Espírito na sociedade atual.

Dirigindo-se a toda a Igreja, o Papa convida particularmente as comunidades cristãs a «estreitar-se ao redor das pessoas consagradas, rejubilar com elas, partilhar as suas dificuldades, colaborar com elas, na medida do possível, para a prossecução do seu serviço e da sua obra, que são aliás os de toda a Igreja. Fazei-lhes sentir o carinho e o encorajamento de todo o povo cristão».

Aos Pastores das Igrejas particulares, pede especial solicitude para que promovam nas comunidades cristã os diferentes carismas, os históricos e os novos, «apoiando, animando, ajudando no discernimento, acompanhando com ternura e amor as situações de sofrimento e fraqueza em que se possam encontrar alguns consagrados, e sobretudo esclarecendo com o vosso ensino o povo de Deus sobre o valor da vida consagrada, de modo a fazer resplandecer a sua beleza e santidade na Igreja».

Vocações «em saída» na contemplação do Ressuscitado que convoca e provoca, chama e envia; vocações «em saída» na vivência em comunhão das diversas formas de seguir Jesus Cristo, todos como discípulos missionários; vocações «em saída» no olhar atento e comprometido em tantas situações a exigir presença carismática e visitação profética: eis alguns dinamismos para todos responderem, de modo pleno e fecundo, e sempre em êxodo e peregrinação, à vocação de Deus.