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Unidade da Europa? Só com Verdade e Liberdade.
Procurar a unidade da Europa é algo que tem estado em debate nestes tempos em que se avizinham eleições. Todos os europeus têm muitas coisas em comum, e muitas outras coisas cujas semelhanças apontam para uma provável unidade. E apesar de tudo há imensas diferenças de culturas, línguas, tipo de arquitectura, estilo de vida, horários, gastronomia. Para ficar só em alguns exemplos. Como garantir uma unidade?

A Igreja Católica, que busca sempre a unidade em Cristo de toda a humanidade, afirma com vigor as raízes comuns e cristãs da Europa, mas também sabe bem que a unidade de que se sente servidora é a unidade que vem de Deus e se vive em Deus. A unidade que a Igreja defende está intimamente ligada à Verdade, que é outra maneira de dizer a realidade tal como Deus a quer, e à liberdade sem a qual nenhuma unidade agarra a pessoa na sua verdade e sem a qual só poderão surgir tensões, medos e desconfianças. A História já deu muitos exemplos de como a mentira e a imposição, à força ou na base da propaganda, de uma unidade não conseguem construir uma casa comum.

A amizade, entendida a experiência de duas ou mais pessoas que reconhecem o que é bom para o outro e reciprocamente querem e esforçam-se para que o amigo alcance esse bem, será, como sempre, o caminho da unidade. Da unidade das famílias, das comunidades, dos países, da Europa. Para promover esta amizade a Igreja não tem outro segredo senão o amor que recebe de Deus e que quer alastrar. Naquilo que diz e que faz, ainda que muitas vezes de maneira atabalhoada e misturada com pecados que todos temos, busca sempre tornar Cristo visível e amado na vida de todos. Acreditamos que só Deus, como verdadeiro bem de todos, pode unificar.

A ideia de que a unidade se possa fazer a partir de leis ou regulamentos e que está garantida por instituições confunde unidade com uniformização e ataca a pessoa humana. Nota-se isso na pretensão de se anular a presença pública da Igreja e das várias religiões, remetendo a experiência da fé para a ordem do privado, e na confusão entre verdade e opinião do que manda e entre liberdade e ausência de critério que permita verificar e não inventar o que é bem e o que é mal. Assistimos, por isso, a um paradoxo: nega-se a existência de uma lei natural que segue a vontade do Criador para legitimar tudo o que for “contra a moral da Igreja”, ao mesmo tempo pretende-se impor através de regulamentos e de disciplinas de educação sexual uma “nova ética” em que nem sequer os pais podem dizer que não querem para os filhos. Não será isto uma ditadura?

No passado dia 4, numa sala do Conselho da Europa em Estrasburgo, o Conselho das Conferências Episcopais da Europa apresentou um livro sobre o estado do ensino religioso nas escolas europeias. Foi ocasião para se falar da Liberdade religiosa e da liberdade educativa. Numa sala cheia foi possível um debate sério que valorizou e urgiu pela presença da religião de forma confessional na vida social, a partir das escolas. Mas, numa outra Europa, que não a do povo, assistimos à imposição de uma disciplina chamada ética ou coisa semelhante, pela qual se pretende, contrariando a liberdade dos pais, e negando a moral cristã, impingir uma visão do mundo, do amor e da sexualidade baseada não na vontade de Deus mas nos planos de alguns que se pretendem iluminados. Só poderá fazer surgir novas tensões.

Os tempos próximos não serão fáceis. A força com que muitos se movem contra a Igreja mostra a urgência de se estar alerta. Mas a alegria de ter encontrado Jesus, e de saber que Ele venceu o mundo é tão potente que nunca as forças do mal prevalecerão. Mesmo que em certos momentos da história possa parecer que vingam.

A visita do Papa à Terra Santa, que tem de ser acompanhada através da leitura dos seus discursos e dos eventos que ele estará a viver e não do que a “inteligentia” deste mundo decidir fazer notícia, é prova de que não é o medo mas a ousadia da fé que nos move e que poderá dar esperança ao nosso tempo.