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Hospital de Santa Maria recebeu visita do Cardeal-Patriarca
Voluntários precisam-se
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O “mais importante hospital do país”, segundo o capelão, recebeu a visita do Cardeal-Patriarca de Lisboa. Na manhã do passado dia 29 de maio, D. Manuel Clemente encontrou-se com a administração do Hospital de Santa Maria, garantiu sentir total confiança nesta unidade hospitalar e visitou os doentes. A capelania deixou um apelo às paróquias para o envio de voluntários.

 

Aumentar o número de voluntários católicos é um dos desejos da capelania do Hospital de Santa Maria (HSM). “Temos poucos, muito poucos voluntários, talvez uns 15, que pertencem à Associação Mateus 25 [http://mateus25.pt]. Precisávamos de muitos mais voluntários, mas não tem havido grande disponibilidade das pessoas”, lamenta o padre Fernando Sampaio. Capelão há 20 anos deste hospital da cidade de Lisboa, o padre Sampaio manifesta, através do Jornal VOZ DA VERDADE, o desejo de que as paróquias da diocese enviem mais leigos para serem voluntários da capelania. “No Hospital de São João, no Porto, foi feita uma experiência muito interessante, que eu tentei fazer em Lisboa mas que não ‘pegou’: o capelão desafiou as paróquias a tornarem-se presentes no hospital através de voluntários, nomeadamente ministros da comunhão e outros, que depois o hospital selecionou e formou, e criaram um grupo enorme de voluntariado para a assistência espiritual e religiosa”, conta este sacerdote, realçando o esforço que fez “junto das paróquias perto do Hospital de Santa Maria”, mas que não teve sucesso. “Se calhar fui eu que fiz mal o convite e não consegui despertar o interesse”, assume.

Por outro lado, refere o padre Sampaio, “há que desenvolver a consciencialização, dentro das comunidades cristãs, dos membros que estão doentes”. “Quando os doentes sabem que a comunidade está a rezar por eles, ficam felizes, sentem que têm a comunidade por trás e não estão sós”, observa.

 

Voluntariado pastoral

Para o capelão do Santa Maria, “toda a Igreja tem de promover o voluntariado pastoral”. “São necessários muitos mais voluntários, para que possamos prestar uma assistência espiritual e religiosa muito mais personalizada, que é um dos objetivos da capelania. Há a necessidade de termos mais tempo para cada doente, prestando uma assistência muito mais aberta às suas necessidades”. O padre Fernando Sampaio destaca que, muitas vezes, “o doente quer é ser escutado”, outras quer “ter mais espaço de oração” e “não tanto receber sacramentos”.

Ser voluntário no hospital “não é uma brincadeira qualquer”, refere o sacerdote. “É necessário selecionar as pessoas, é necessário que as pessoas entrem em formação, atribuindo tarefas a cada voluntário, porque entrar numa instituição pública e visitar doentes exige determinadas condições, para não prejudicar os próprios doentes. Porque um voluntário que trabalha na capelania não vai apenas por si, vai em nome da Igreja”. O padre Sampaio descreve, por isso, a missão do voluntariado pastoral: “Visitar os doentes, ajudar os doentes a ir à Missa ou levar-lhes a sagrada comunhão, rezar com os doentes, fazer uma leitura espiritual para os doentes que desejem e preparar os doentes para os sacramentos”.

 

Homenagem

O desejo deste sacerdote foi expresso ao Jornal VOZ DA VERDADE por ocasião da visita do Cardeal-Patriarca de Lisboa ao HSM, no dia 29 de maio. Uma visita que foi vista como uma homenagem. “A visita do senhor Patriarca ao Hospital de Santa Maria foi uma forma de homenagear esta instituição enorme, com uma importância enorme na cidade de Lisboa, quer a nível do saber quer ao nível da promoção da saúde e na procura do bem-estar das pessoas. Nestes 60 anos, o hospital tem feito bem a muita gente e a Igreja não pode estar à parte disto, antes tem de se alegrar com o que a instituição faz”, salienta o padre Fernando Sampaio. Para este sacerdote, “homenagear a instituição é homenagear todos os seus profissionais de saúde e restantes funcionários, que projetam no hospital todo o seu saber e, muitos deles, a vida, fruto de uma dedicação enorme”. Assegurando que a presença de D. Manuel Clemente foi “um estímulo” para todos, “em especial para os católicos”, o padre Sampaio sublinha que “o hospital é a casa da esperança”. “Aqui há milagres todos os dias! E abundantes milagres! Nesse sentido, creio que todos profissionais de saúde são mãos e coração de Deus”.

O Cardeal-Patriarca de Lisboa visitou o Hospital de Santa Maria por ocasião dos 60 anos da instituição. Ao longo da manhã, após o encontro com a administração, D. Manuel Clemente começou por referir aos jornalistas sentir total confiança naquela unidade hospitalar. “O hospital é uma instituição com créditos mais que firmados, afirmados e reconhecidos. Se há problemas, e estes podem surgir em qualquer lado que seja, atendem-se, resolvem-se, superam-se e vai-se para a frente, sobretudo quando se tem este lastro de serviço público tão conseguido, tão comprovado como é o caso”, afirmou. Em causa estava um estudo, encomendado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, que apontava para alguns condicionamentos na gestão do hospital. Após as declarações à imprensa, seguiu-se a visita de D. Manuel Clemente aos serviços de Cirurgia Cardiotorácica, Cirurgia Vascular e Cardiologia. Foram muitos os doentes, médicos, enfermeiros e restante pessoal com quem D. Manuel Clemente contactou, deixando a todos uma palavra de esperança.

A manhã terminou na capela do hospital, onde o Cardeal-Patriarca presidiu à Eucaristia, fazendo “memória de tantos, quantos e quantas, ao longo destas seis décadas, deram aqui o melhor de si próprios para que esta instituição seja basilar na sociedade portuguesa”. D. Manuel Clemente, na sua homilia, sublinhou depois que “o olhar atento que Deus ganha no mundo com Jesus é um olhar que se fixa sempre” nas pessoas. Nesta celebração na pequena capela, completamente cheia e cujo coro era composto por alunos da Faculdade de Medicina, o cardeal português lembrou ainda que “a fé move montanhas”. “Quem tem fé percebe que Deus está por dentro da vida, com a sua criação constante”, salientou.

 

Capela descentrada

Neste ano de 2015, o Hospital de Santa Maria assinala 60 anos de vida. A capelania existe também desde a origem do hospital. “No início, não havia uma capela construída de raiz. Não sei porquê e é até muito estranho. Dá impressão que foi adaptado um espaço, porque na altura da inauguração devem-se ter apercebido que faltava a capela…”, aponta o atual capelão, referindo que “o espaço religioso sempre foi muito exíguo ao longo dos anos”. Foi já com o padre Sampaio como capelão que “todo o espaço foi repensado”. “Quando cheguei, fiz um esforço enorme, junto da administração, para tentarmos encontrar outro espaço. Ao fim de dez anos, conseguimos ter outro espaço bem junto à capela, que também sofreu algumas obras de modernização, porque o altar ainda estava virado para a parede”. Situada no piso 4, junto à administração, a capela está “num lugar errado e descentrada”. “A capela está dentro do hospital com difícil acesso para os doentes e para quem visita o hospital. Está no lugar mais nobre do hospital, mas está descentrada em relação às pessoas que poderiam aceder, embora tenha sempre muita gente. A capela deveria estar no 1º ou no 2º piso, com fácil acesso para todos. Já expressei esse desejo, vamos lá ver…”, frisa o capelão, reconhecendo ser “uma mudança de difícil concretização, porque todos os espaços estão tomados”.

 

Minicidade

São quatro os capelães que integram a capelania do HSM: os padres Fernando Sampaio, José Fernando Ferreira e António Pedro Monteiro e o diácono Vítor Lourenço. “Um de nós está sempre de urgência – aos feriados, ao fim-de-semana ou durante a noite – e há uma escala de serviço que é publicada em todo o centro hospitalar”. Capelão há quase 30 anos – antes de chegar ao Santa Maria, em dezembro de 1995, o padre Fernando Sampaio esteve no IPO durante 9 anos –, este sacerdote considera o HSM “o hospital mais importante do país”, também por ser um hospital-escola. Sendo “tão complexo e tão grande”, é um hospital “por vezes difícil no sentido das relações humanas, não por que haja conflitualidade, mas porque não nos conhecemos uns aos outros. Não há possibilidade de fazer familiaridade”, manifesta.

Entre utentes e familiares, médicos e enfermeiros, estudantes e docentes, funcionários e fornecedores, são cerca de 17 mil as pessoas que diariamente entram e saem do HSM. “É uma minicidade”, aponta o capelão. “Temos aqui um quadro que refere que o gasto de energia e de água que se faz diariamente neste hospital corresponde a uma minicidade. Isto dá-nos também conta da complexidade que é o Hospital de Santa Maria e a estrutura enorme que tem”, refere o padre Sampaio, sublinhando que, “com as várias remodelações que sofreu, hoje dá gosto trabalhar neste hospital”. “Este não é apenas um hospital de ‘cara lavada’, porque quem cá está sente segurança ao nível da saúde, porque tem bons profissionais de saúde, bons médicos… não quer dizer que muitas vezes não haja problemas e pequenas falhas, mas é um hospital a que vale a pena recorrer”, reforça.

A missão primeira da capelania do Hospital de Santa Maria “é cumprir aquilo que são as funções do hospital: prestar cuidados de saúde holísticos – porque todo o ser não é apenas físico, mas é também psicológico e espiritual –, que incluem também a dimensão religiosa e espiritual”. “Noutros tempos, a assistência espiritual e religiosa fazia parte por inerência e a Igreja tinha direito a estar nos hospitais para assistir os seus crentes. A atual lei (decreto regulamentar 253/2009) mudou o paradigma e são os doentes que têm direito à assistência espiritual e religiosa e os hospitais devem garantir aos doentes esse direito. Por outro lado, também se reconhece e é reconhecido, quer em estudos científicos, quer na experiência de muitos profissionais e da Igreja, a importância que a vivência espiritual e religiosa tem no enfrentamento da saúde e no enfrentamento do sofrimento e da doença, particularmente nas situações mais difíceis. A espiritualidade é muito benéfica para a saúde e inclusivamente contribui para a melhoria física e mental”, assegura o padre Sampaio, lembrando “a experiência de dois mil anos da Igreja” no cuidado aos outros. Falando sobre a importância da espiritualidade e da religião na saúde física e mental, este sacerdote lamenta que não haja, em Portugal, cursos superiores nesta área. “Nos Estados Unidos e no Canadá, há licenciaturas sobre psicologia da religião. Portugal tem muito poucos estudos nesta área, e fazia-nos muito bem ter – a Universidade Católica tem apenas uma disciplina de psicologia da religião, de um semestre, o que é curto”, salienta.

Os desafios da capelania passam por chegar a mais gente. “Quando chegam ao hospital, os nossos cristãos estão tão preocupados com outras coisas que nem se lembram de pedir assistência espiritual. Mas mais lamentável é dizerem que não sabiam que havia assistência religiosa”, aponta o capelão do HSM. Questionado sobre como ultrapassar a ignorância das pessoas acerca da presença da Igreja nos hospitais, o padre Fernando Sampaio destaca que “tem de se falar muito nessa presença, através dos jornais e das transmissões de Missas pelas televisões a partir das capelas hospitalares”.

  

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Vidas de entrega

Zilda Laranjeira, há 14 anos, Maria Domingas Mendes, desde o ano 2000, e Francisco Henriques, desde que se reformou, são três dos voluntários católicos da capelania do Hospital de Santa Maria. “A minha missão é ser visitadora de doentes e levar-lhes a comunhão”, refere Zilda, da paróquia de São João de Deus, que realiza este trabalho voluntário ao Domingo. “Os doentes que podem ir à Missa, nós trazemo-los para a capela”, descreve. Maria Domingas, da paróquia de Benfica, já foi voluntária “aos dias de semana”, mas atualmente é também no Dia do Senhor que é voluntária católica nesta unidade hospitalar. “Já houve muitas histórias que me tocaram, mas recordo um rapaz, que acabei por ser madrinha dele, que faleceu passado dois-três meses, e que com o batismo quis passar a ser chamado Pedro. Foi um grande testemunho de fé que ele deu”. Desde que se aposentou que Francisco, da paróquia de Castanheira do Ribatejo, vai ao HSM duas vezes por semana, à segunda e à sexta-feira. “Levo a comunhão aos doentes e vou daqui mais rico. São os doentes que me dão, não sou eu que dou aos doentes”, observa.

texto por Diogo Paiva Brandão; fotos por Filipe Teixeira
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