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A uma janela de Roma
“Cada um, no seu contexto, deve construir a paz e praticar a justiça”
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O Papa visitou a Bósnia como “peregrino da paz e da esperança”. Na semana em que nomeou um auditor-geral, Francisco encontrou-se com os dehonianos e presidiu ao Corpo de Deus. A nova encíclica do Papa vai ser publicada dia 18 de junho.

 

1. O Papa Francisco recordou, na manhã do passado Domingo, que tinha ido na véspera, dia 6 de junho, a Sarajevo, na Bósnia, na qualidade de “peregrino da paz e da esperança”. “Sarajevo é uma cidade-símbolo. Durante séculos foi um lugar de convivência de povos e religiões, ao ponto de ser chamada ‘Jerusalém do Ocidente’. No passado recente tornou-se símbolo das destruições da guerra. Agora está em curso um belo processo de reconciliação e foi sobretudo por isso que lá fui: para encorajar esta caminhada de convivência pacífica entre as diversas populações; um caminho cansativo e difícil, mas possível! Estão a fazê-lo bem”, lembrou.

No estádio olímpico de Sarajevo onde, em 1997, João Paulo II celebrou Missa, Francisco condenou o clima de guerra em que vivemos e as trágicas consequências que provoca. “Cada um, no seu contexto, deve construir a paz e praticar a justiça e não apenas defendê-las teoricamente”, disse o Papa, perante aplausos que surgiram espontâneos dos fiéis católicos, mas também de tantos sérvios, bósnios e croatas, presentes neste estádio, outrora em conflito mas hoje lado a lado, com desejos de paz. No primeiro discurso oficial, diante das principais autoridades civis e religiosas da Bósnia, Francisco tinha condenado a barbárie que usa as diferenças como pretexto para o ódio e a violência, começando a visita com um apelo à paz, para que “o conjunto das diferentes vozes formem um canto harmonioso e não gritos fanáticos de ódio”.

No avião de regresso ao Vaticano, o Santo Padre alertou para os perigos dos jovens se tornarem escravos do computador e da televisão. “Há uma modalidade que faz mal à alma que é estar muito agarrado ao computador. Isto faz mal à alma e tira a liberdade. Faz-te escravo do computador. Muitos pais e mães de família dizem-me que estão à mesa e os filhos agarrados ao telemóvel. É outro mundo. Quando isto nos afasta da vida comum, da vida familiar e da vida social e permaneço agarrado ao computador, isso é uma doença psicológica. Em segundo lugar, há os conteúdos. Há coisas sujas, como a pornografia e há programas vazios e sem valores, como por exemplo os programas relativistas, hedonistas, consumistas, que fomentam todas estas coisas”, referiu Francisco aos jornalistas, a bordo do avião, acrescentando que “o consumismo é um cancro da sociedade” e revelando que falará “disto na próxima encíclica que será publicada ainda este mês”.

 

2. O Papa Francisco nomeou um auditor-geral para supervisionar todos os departamentos económicos do Vaticano. A nomeação de Libero Milone, antigo diretor executivo da consultora Deloitte em Itália, foi anunciada a 5 de junho, sem qualquer explicação adicional, mas o cardeal George Pell, que foi nomeado para supervisionar a reforma de todas as atividades financeiras do Vaticano já tinha dito que o auditor-geral teria total liberdade para operar em qualquer departamento e só tem de responder perante o Papa Francisco.

 

3. O Papa Francisco recebeu, no dia 5, no Vaticano, os participantes no capítulo geral dos Sacerdotes do Coração de Jesus (dehonianos) e afirmou esperar que o processo de beatificação do fundador da congregação “acabe bem”. O padre Leão Dehon (1843-1925) foi declarado venerável por João Paulo II em 1997 e o mesmo Papa anunciou a sua beatificação para 24 de abril de 2005. A morte do Papa polaco impediu a cerimónia e Bento XVI viria depois a adiar a beatificação por causa de algumas expressões sobre o judaísmo nos escritos do sacerdote francês. “É um problema de hermenêutica: deve estudar-se uma situação histórica com a hermenêutica desse tempo, não com o tempo de agora”, observou agora Francisco. “Rezai por mim, na humildade, também na humilhação, como o vosso fundador vos pediu. Quero que este processo de beatificação acabe bem, rezo por vós”, prosseguiu.

O Papa saudou o novo superior geral, padre Heiner Wilmer, eleito durante o Capítulo Geral que decorreu em Roma, que sucede ao português padre José Ornelas Carvalho, que termina o segundo mandato de seis anos como superior geral da congregação.

 

4. O Papa presidiu à Missa da Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, conhecida popularmente como Corpo de Deus, na Basílica de São João de Latrão, denunciando as “idolatrias” contemporâneas. Francisco disse, na sua homilia, que “o aparecer, o consumir, o ‘eu’ no centro de tudo” são essas idolatrias que passam também pelo “competir, a arrogância como atitude vencedora, nunca admitindo ter errado ou ter necessidade”. “Tudo isto nos rebaixa, nos torna cristãos medíocres, tépidos, insípidos, pagãos”, alertou, perante centenas de pessoas.

Francisco afirmou que a presença de Cristo, “no sinal do pão e do vinho”, exige que a força do amor “ultrapasse qualquer ferida” e se torne “comunhão com o pobre, ajuda para o fraco, atenção fraterna para os que têm dificuldade em aguentar o peso da vida diária”. A participação na Eucaristia, prosseguiu, coloca os católicos num caminho de vida que “não admite divisões”.

 

5. O Vaticano revelou que a nova encíclica do Papa vai ser publicada no dia 18 de junho. Recorde-se que a 15 de janeiro deste ano, o Papa Francisco tinha revelado que a sua próxima encíclica, sobre a ecologia, iria ser publicada entre junho e julho, ainda a tempo de alertar a comunidade internacional para decisões corajosas na Conferência do Clima 2015, em Paris. “A última conferência, no Peru [dezembro de 2014], desiludiu-me, esperemos que em Paris sejam um pouco mais corajosos. Penso que o diálogo entre religiões é importante, também neste ponto, e que estamos de acordo num sentimento comum”, referiu aos jornalistas, durante a viagem que o levou do Sri Lanka às Filipinas. “Em grande parte, é o ser humano, que dá chapadas à natureza, quem tem responsabilidade nas alterações climáticas. De certa forma, tornamo-nos donos da natureza, da mãe terra”, alertou o Papa, para quem “o homem foi longe demais”.

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