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Novos padres querem ser anúncio de Cristo vivo
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Quatro jovens – dois portugueses, um italiano e um colombiano – vão ser ordenados sacerdotes, no próximo Domingo, 28 de junho, às 16h00, nos Jerónimos, e vão ficar ao serviço da Diocese de Lisboa. Alfredo, Ricardo, Paolo e Jean têm histórias de vida e percursos de fé diferentes, mas todos querem ser testemunhas da Ressurreição de Cristo.

 

 

“Serei padre para anunciar Cristo vivo”

Alfredo Plácido
25 anos; Portugal
Paróquia do Milharado

Alfredo é filho único, “com muita pena”, e diz que a sua experiência de fé começou em casa, apesar de ter crescido “no seio de uma família não muito aproximada à Igreja”. “Foi com a minha entrada na Igreja que os meus pais, progressivamente, se começaram também a aproximar de Cristo”, conta ao Jornal VOZ DA VERDADE. Entrou na catequese somente no 4º ano, com cerca de 9 anos, e até ao 9º volume “começaram a colocar-se as questões vocacionais”. Sentiu-se marcado por uma senhora, que depois foi sua madrinha de Crisma, que organizava a oração do Terço, em maio e outubro, na sua terra, a Póvoa da Galega, e também pelo catequista Onofre. “Foram, para mim, dois testemunhos muito significativos”, garante. “Foi o Onofre que me deu o folheto que se distribui na Semana dos Seminários e me convidou a ligar ao padre José Miguel, ao tempo diretor do Pré-Seminário”, revela. O jovem Alfredo participou então no Campanário de Natal do ano 2004. “Não tinha noção de nada, não conhecia nada, mas na catequese, ao conhecer os modos de vida cristãs, despertou-me interesse a questão do ser padre”, reconhece, destacando igualmente “a boa impressão” que tinha do seu pároco dessa altura, padre Paulo Franco. Após o Campanário, foi convidado a ser pré-seminarista e a regressar ao Pré-Seminário mensalmente, o que aceitou. Na Quaresma de 2005, após o retiro, o padre Arsénio convidou Alfredo a entrar, em setembro, no Seminário Menor de Nossa Senhora da Graça, em Penafirme. “Foi muito engraçado ver a estranheza de familiares e amigos à minha vocação. Para eles foi um sinal”, conta, lembrando que saiu de casa “cedíssimo”, aos 15 anos. Passou depois pelo Seminário de São José, em Caparide, e pelo Seminário de Cristo Rei, nos Olivais. “Foi todo um caminho com as etapas próprias, progressivo, e sempre foi muito importante perceber que eu nunca estava a decidir sozinho. Eu, diante de Deus, confrontava-me e procurava perceber ao que Ele me chamava e confortava-me perceber que eu tomava pessoalmente uma decisão, livremente, mas essa decisão era depois confirmada pela Igreja”, sintetiza, referindo que “o seminário e a comunidade do Caminho Neocatecumenal foram berços da fé”.

Lembrando o dia da ordenação de diácono, em novembro passado, que o alertou “para a beleza e responsabilidade do ser padre”, Alfredo Plácido salienta que vê o seu ministério como “a entrada numa obra sempre continuada, com gente que já deu muito à Igreja”. “Deus chama-me a mim, mas por causa de outros. Serei padre para anunciar Cristo vivo”, frisa.

 

 

“A verdadeira missão é estar com Jesus Cristo”

Jean Castilla
34 anos; Colômbia
Paróquia de las Tres Avemarias, Diocese de Valledupar

A “superproteção” que a família sempre lhe prestou, por ser o mais novo dos cinco irmãos, é algo que levou Jean Carlos Picaza Castilla a “algumas rebeldias” e a “muitas inseguranças”. “Cada correção era uma tortura”, recorda. Natural da costa norte da Colômbia, perto da Venezuela, este jovem diz ao Jornal VOZ DA VERDADE que sempre quis “romper com tudo” e estar “apenas com os amigos, as namoradas, jogar à bola, ir a festas com álcool e drogas”. “Nunca na vida pensei ser padre. A Igreja não era, para mim, motivo de realização”, refere. Nasceu numa “família católica não praticante” e sonhava “com a engenharia química e a matemática”. A “crise existencial” surgiu com 16-17 anos. “Estava muito triste e perguntava-me sobre o sentido da minha vida. ‘Em que quero gastar a minha vida?’ era a pergunta que não me saia da cabeça”, recorda, lembrando “não ter resposta a estas questões”. Uma senhora do seu bairro, de que Jean era amigo da filha e que pertencia ao Caminho Neocatecumenal, convidou, “duas, três, quatro vezes”, este jovem, então com 18 anos, a “ir a umas catequeses” deste movimento da Igreja, numa paróquia vizinha à sua. “Gostei da linguagem, que era simples para mim, jovem. Foi aí que vi outro tipo de Igreja. O Senhor abriu-me os olhos”, relata, destacando a “relação sã” que criou com as escrituras. “Na Igreja descobri a fonte de comunhão e redescobri a minha história à luz de Cristo. Encontrei o amor, que é dar a vida pelo outro”, assegura.

A vocação surgiu “por uma palavra do catequista”. “‘Queres ‘deixar os ossos’ para Deus?’, perguntou-me ele. ‘O Senhor tem maravilhas para ti’, dizia-me. O meu choque interior foi grande”. Jean sofreu “perseguições da família e dos amigos”, mas lembrava-se das “imagens de santidade” que eram projetadas pelos padres e seminaristas na sua paróquia. Após “lançar a ‘bomba’ na família” e depois de “um tempo de preparação”, o jovem colombiano entrou no seminário. A ‘sorte’ de Jean Castilla, saída do encontro que o Caminho Neocatecumenal realiza em Porto San Giorgio (Itália) para destinar os jovens seminaristas aos Seminários ‘Redemptoris Mater’ de todo o mundo, ditou Lisboa como destino para a formação sacerdotal. A chegada ao Patriarcado aconteceu em dezembro de 2003, tendo feito experiências, nestes anos, de “descoberta do amor de Deus” em missões em Jerusalém, Uruguai e Colômbia. Os pais de Jean, bem como a irmã mais velha e outras 23 pessoas vindas da Colômbia estarão presentes, no dia 28 de junho, nos Jerónimos para a ordenação. “A verdadeira missão é estar com Jesus Cristo”, salienta.

 

 

“Ser testemunha da Ressurreição de Cristo”

Paolo Lagatta
31 anos; Itália
Paróquia Sacro Cuore di Gesu, Diocese de Melfi-Rapolla-Venosa

Filho mais velho entre oito irmãos, Paolo confessa que “na escola tinha um pouco de receio” de pertencer “a uma família numerosa”. “Tive que aprender a lidar com esse ser ‘anormal’ perante os outros e também pelo facto de ser cristão”, observa ao Jornal VOZ DA VERDADE. Paolo, que no próximo dia 23 de junho cumpre 31 anos, destaca os “momentos fortes em família” como “o diálogo e a oração de laudes nas manhãs de Domingo”. “À luz do Evangelho do dia conversávamos acerca do que tinha acontecido ao longo da semana, na escola, na família, as dificuldades das relações. Comecei então a conhecer Deus”. Assumindo que sempre foi “o mais autoritário” entre os irmãos, este jovem do sul de Itália lembra que a última gravidez da sua mãe, quando esperava a chegada da irmã mais nova que hoje tem 13 anos, foi “um tempo de profunda crise”, de “revolta contra Deus e contra os pais”. Paolo procurava algo, refugiou-se no álcool, nos vícios, no heavy metal e descobriu “o amor de Deus” quando experimentou “a reconciliação com a família”, cujas relações “estavam cortadas”, em especial com o pai. Hoje mostra-se agradecido aos pais, que se conheceram no Caminho Neocatecumenal, por o terem deixado fazer essa experiência.

As Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ) foram sempre um marco na vida deste jovem. “Como sempre me senti diferente dos outros, nos encontros do Papa com a juventude via à minha volta jovens com os mesmos problemas e senti uma comunhão diferente”. A vocação de Paolo nasce como fruto das JMJ. Antes, quando tinha 8 anos, um sacerdote perguntou-lhe o que queria fazer na vida e Paolo respondeu: ‘Quero ser padre’. “‘Guarda essa palavra no teu coração’ foi o que ouvi do sacerdote italiano, que hoje está em missão no Japão mas que me irá revestir no dia da ordenação, o que para mim é um sinal de Deus”. Foi depois da JMJ de Toronto, no Canadá, em 2002, e de uma experiência de missão na Albânia, no ano seguinte, que Paolo aceitou o convite a deixar-se “seduzir e conduzir pelo Senhor”, que é “fiel à sua Palavra”. A chegada a Lisboa, ao Seminário ‘Redemptoris Mater’ de Caneças, pertencente ao Caminho Neocatecumenal, aconteceu em setembro de 2003. Nestes anos de formação, este jovem italiano teve ainda experiências em Angola, Brasil e Israel. “O seminário salvou-me”, garante. De Itália virão 58 pessoas à ordenação, entre os quais os pais e todos os irmãos. Para o seu ministério, Paolo Lagatta espera somente ser “testemunha do mistério da Ressurreição de Cristo, no meio de uma geração que precisa que lhe anunciem uma esperança”.

 

 

“Privilegiar a Misericórdia”

Ricardo Figueiredo
25 anos; Portugal
Paróquia de Belas

Ricardo diz, ao Jornal VOZ DA VERDADE, que é “um filho da velhice”, porque os pais já tinham 45 anos quando nasceu. De pequeno recorda “duas imagens” de Deus: “Ter visto uma Irmã Hospitaleira da Idanha, vestida com o hábito; e uma ida a Fátima, por causa de um caroço que eu tinha e que foi para análise, onde a minha mãe ofereceu a Nossa Senhora a pulseira de ouro do meu batizado. Hoje digo que, nesse dia, Maria olhou para mim e piscou-me o olho”, brinca.

Fez o “percurso normal de catequese” na capela da Idanha, da paróquia de Belas. Sobre o surgimento da sua vocação diz que “não é muito clara”, tendo apenas “alguns flashes”. No 8º ano, com 13 anos, “após uma crise de fé em que quis deixar a catequese”, propôs-se para ser acólito. “Comecei a falar muito com o recém-ordenado padre Luís Barros, que era coadjutor, fui a uma vigília pelas ordenações e este sacerdote perguntou-me se eu queria ser padre, mas eu dizia sempre que nem pensar”. Participou, na Páscoa de 2004, no Campanário do Pré-Seminário, mas continuavam as negações. Só no ano seguinte Ricardo aceitou. “No final de uma refeição, anunciei aos meus pais e ao meu irmão mais velho que em setembro ia entrar no Seminário Menor de Penafirme. Ficou tudo calado. A minha mãe ainda se levantou muito rápido e foi para a cozinha com os pratos”, recorda, entre sorrisos. Em setembro de 2008, com 18 anos, entra no Seminário de Caparide “com muitas dúvidas e muitas questões” e dois meses depois acaba mesmo por sair da formação sacerdotal. “Fui falar com o meu pároco, padre Ricardo Cristóvão, que me deu logo inúmeros afazeres na paróquia, bem como um curso de espiritualidade cristã, na Universidade Católica”. Com esta formação, o “gosto pela Teologia” manteve-se e “cresceu a vontade de aprofundar”, tal como “o dilema da vocação”. Iniciou, então, direção espiritual com um sacerdote do Opus Dei e em setembro de 2009 começa o curso de Teologia com aqueles que deveriam ser os seus colegas no seminário. Em junho de 2010 começa “a falar com o padre Mário Rui sobre a vertente vocacional” e no ano seguinte entra no Seminário dos Olivais. “Estes quatro anos no Seminário Maior foram de grande profundidade. Fiz sempre tudo para seguir por outro caminho, mas vejo a mão de Nosso Senhor na minha vocação, que sempre me chamou e guiou”, aponta. Ricardo Figueiredo diz sentir-se “muito sereno, com muita liberdade e muita alegria”, e para a sua vida sacerdotal destaca a “feliz coincidência da celebração do Ano da Misericórdia e dos Sínodos Diocesano e dos Bispos”, que são “um claro sinal de Deus” que vai procurar “privilegiar”.

texto por Diogo Paiva Brandão; fotos por Diogo Paiva Brandão e Filipe Teixeira
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