Lisboa |
Padre Vítor Feytor Pinto celebra 60 anos de sacerdócio
Um apaixonado pela Igreja
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Foi ordenado às 7 horas da manhã, há precisamente 60 anos. O seu nome está intimamente ligado ao Movimento por um Mundo Melhor, à Ação Católica, à Pastoral Juvenil, à Pastoral da Saúde e, mais recentemente, à paróquia do Campo Grande. Nesta reportagem, o padre Vítor Feytor Pinto percorre a infância, a entrada no seminário aos 10 anos, o dia da ordenação, a vida pastoral e o sonho cumprido de ser pároco.

 

É um sacerdote que não tem dúvidas em afirmar o que mais guarda dos seus 60 anos de padre: “A paixão pela Igreja”. Monsenhor Vítor Feytor Pinto, de 83 anos, celebrou, no passado dia 10 de julho, 60 anos da ordenação sacerdotal e expressa o sentimento de abandono à Igreja que sempre o guiou na sua vida pastoral. “Guardo um profundo sentido de fidelidade. Quando o Bispo de Nampula me deixou sozinho no Movimento por um Mundo Melhor, em 1967, mandou-me um cartão, que eu guardo, que dizia: ‘Nunca queiras nada, estás nas mãos de Deus’. Esta é a norma da minha vida. Sempre abandonado à Igreja”, confidencia, ao Jornal VOZ DA VERDADE, o padre Vítor, como gosta de ser tratado.

 

Entre Coimbra e Castelo Branco

Vítor Feytor Pinto nasceu na cidade de Coimbra, em 1932, e é o segundo filho – “e primeiro rapaz!”, como observa – de entre quatro irmãos. Quando Vítor tinha 6 meses de idade, a família muda-se para Castelo Branco, com o pai a fundar um colégio. Foram 15 anos da família Feytor Pinto nesta terra da Beira Interior, com o regresso a Coimbra a acontecer com a entrada na universidade da filha mais velha. “O meu pai e a minha mãe não admitiam que a minha irmã fosse para Coimbra sem ser acompanhada pela família. Venderam o colégio em Castelo Branco, compraram um outro em Coimbra e foi feita a transferência”, conta. O jovem Feytor Pinto, na sua condição de seminarista, já não participou nestas andanças familiares pelo centro de Portugal. “Eu entrei no seminário com 10 anos, atenção! Desde os 5 anos que queria ser padre. Foi uma coisa muito bonita!”, descreve.

A vocação, segundo refere, nasceu de “dois acontecimentos muito fortes”. “O testemunho do meu tio padre, o padre ‘Zé’, que era um sacerdote novíssimo e que ia passar férias connosco, a Castelo Branco. Quando ele ia celebrar a Eucaristia, às 6 da manhã, eu ia sempre acolitar. Acordava mais cedo só para poder ir com ele. Por outro lado, o contacto com o meu pai, que desde os seus 20 anos, quando entrou na Universidade de Coimbra, foi um verdadeiro apóstolo das Conferências de São Vicente de Paulo. Durante 73 anos, o pai foi vicentino e todos os sábados ia visitar os pobres. Desde os meus 4 anos que o acompanhava, sempre. O meu tio padre e o meu pai são testemunhos que tiveram uma influência extraordinária na minha vocação”, manifesta o padre Feytor Pinto.

 

Poesia e arte

Este sacerdote recorda-se bem do dia em que anunciou à família que queria ser padre. “A mãe disse logo que não, que primeiro eu tinha de ir tirar um curso. Já nessa idade dos 5-6 anos eu tinha uma personalidade extremamente forte e lembro-me de reforçar que queria ir para o seminário. Depois calei-me durante uns anos e quando acabei o exame para ser admitido ao liceu disse aos pais que queria entrar no seminário imediatamente”. E assim aconteceu. Vítor, então com 10 anos, entra no Seminário do Fundão, onde uns anos antes tinha estado o seu pai. “O pai era amicíssimo do reitor, monsenhor Santos Carreto, e foi ao seminário conversar. Disse que eu era muito traquina e o senhor reitor respondeu: ‘Desses é que nós cá queremos!’. É por isso que eu sou padre da Diocese da Guarda, porque fiz lá a minha formação”, observa.

Depois do Fundão, o seminarista Vítor Feytor Pinto vai para o Seminário da Guarda, para completar o que acabaram por ser 13 anos de formação sacerdotal, entre os 10 e os 23 anos. “Recordo muito um professor que me marcou profundamente, que morreu muito novo, com 26 anos, mas que era, de facto, um homem fantástico: o padre Mário Lages. Dava-nos aulas, entre outras coisas, de Geografia e lia-nos poemas de José Régio, Fernando Pessoa e outros grandes poetas portugueses. Comentava e fazia a relação de como estes escritores se estavam a aproximar de Deus. Foi uma coisa sublime! A morte dele foi a primeira grande dor da minha vida, tinha eu 14 anos”, conta, emocionado. Questionado se o desaparecimento da sua grande referência no seminário trouxe alguma revolta interior com Deus ou interferiu na sua vocação, o padre Vítor é taxativo: “Não! Foi um momento de abandono total. A nossa preocupação, no seminário, foi rezarmos pelo Mário e sobretudo imitá-lo e preenchermos a lacuna dele. Isto criou um ideal forte para o nosso sacerdócio”.

Foi também na Guarda que este jovem, então com 16-17-18 anos, foi tocado “pelo testemunho de um aluno mais velho, que depois foi ordenado sacerdote”. “O Manuel Mendes Atanázio, o ‘Valeca’, era um artista, um pintor extraordinário, foi depois professor catedrático de Belas Artes em várias universidades. Acabou por deixar o sacerdócio, porque se convenceu nitidamente – e foi aconselhado nisso – que tinha havido um toque de invalidez na sua ordenação. Foi alguém que me ajudou a superar todas as crises durante o discernimento. Ofereceu-me um quadro, quando eu tinha 17 anos, pintado por ele”, refere, hoje, o padre Vítor, apontando para uma gravura de Cristo, colocada no seu gabinete na igreja do Campo Grande. “Esta gravura nunca mais me deixou de acompanhar durante o meu sacerdócio”, assegura.

Do tempo de seminário, Feytor Pinto contactou por diversas ocasiões com D. José Alves Mattoso, ao tempo Bispo da Guarda, e com D. João d’Oliveira Matos, antigo Bispo Auxiliar dessa diocese, que está em processo de beatificação. “Já é venerável. Rezo muito para que seja, rapidamente, beatificado”.

 

Obediência

A 10 de julho de 1955, às 7 horas da manhã, Vítor Feytor Pinto é ordenado sacerdote, com mais dois rapazes, na Sé da Guarda, pelo Bispo local de então, D. Domingos da Silva Gonçalves, “um Bispo fantástico”. “Naquela altura não se podia comer desde a meia-noite, devido ao jejum eucarístico. As ordenações demoravam cerca de 3 horas e duravam até às 10 da manhã!”, salienta. Os pais e restante família foram de Coimbra à Guarda para participarem neste momento. “A primeira coisa que me recordo desse dia, há 60 anos, foi como acordei, às 5 da manhã, no seminário. Estava o dia a clarear, a janela do quarto aberta, e uma pomba branca bateu no vidro. Acordei assim, a pensar: ‘A força do Espírito Santo vai-me possuir!’. Nunca mais me esqueci desse momento muito bonito! Depois, recordo a densidade da celebração, muito bonita”. Desse dia 10 de julho, o padre Vítor lembra-se ainda da alva que usou na celebração, “feita à renda” por sua mãe.

Após a celebração na Sé, os recém-ordenados sacerdotes foram almoçar juntos para o seminário. “Os pais iam à sua vida”, brinca. Só mais tarde, os familiares dos sacerdotes foram ter ao seminário para cumprimentar os novos padres. “A certa altura – e estou-me a lembrar dessa conversa como se fosse agora – disse à minha tia Aninhas, que era irmã do meu tio padre ‘Zé’ e do seu irmão, também sacerdote, e que foi a grande ‘companheira’ deles: ‘O que é mais difícil na vida sacerdotal não é a castidade, nem é a pobreza, é a obediência, porque eu acabo de dizer ao senhor Bispo que pode contar comigo que eu obedecerei a vida inteira e que irei pôr a minha inteligência e a minha liberdade completamente nas mãos da Igreja’. Esta conversa com a minha tia foi o grande compromisso que assumi naquele dia”, frisa. “Sei exatamente o sítio onde disse isto à minha tia, dentro do seminário, no dia da minha ordenação”, aponta o padre Feytor Pinto, hoje, 60 anos após esse momento.

 

Guarda e Mundo Melhor

O padre Vítor Feytor Pinto divide a sua vida pastoral, nestas seis décadas, em três grandes blocos: na Diocese da Guarda, numa primeira fase, no Movimento por um Mundo Melhor, num segundo momento, e estes últimos 18 anos na paróquia do Campo Grande, em Lisboa.

A primeira missão do novo sacerdote, em 1955, foi como coadjutor da Sé da Guarda. “Recebi do pároco, padre Isidro, lições espantosas para a minha vida do que é ser padre. Porque ele era um padre completamente disponível. Era um homem dedicado, completamente, à pastoral”, lembra. O padre Vítor tinha então 23 anos e recorda este sacerdote, cerca de 30 anos mais velho, como “uma referência de vida sacerdotal doada”. “Ele nunca tinha um momento de descanso, estava sempre em ação pastoral. Sempre. Era muito rigoroso porque obrigava-nos a entrar em casa às 10 da noite!”, revela, sublinhando “a grande amizade e comunhão” que manteve com o padre Isidro até ao dia da sua morte. “Foi com ele que eu aprendi a ser pastor”, garante.

Passados dois anos, em 1957, o Bispo da Guarda pede ao padre Feytor Pinto para começar a dar aulas na Escola Industrial e Comercial local, que tinha acabado de ser fundada. “Tinha apenas 13 professores e 130 alunos, e eu fui um dos primeiros professores. Dava aulas de Português, Religião e Moral e Música, que na altura se chamava Canto Coral”. Nesta época, o jovem sacerdote vai morar com o Bispo da Guarda. “O senhor Bispo chamou-me para ir morar com ele para o Paço Episcopal. Fiquei como fâmulo e ele confiou-me a Ação Católica, sobretudo a escolar, a JEC. Mais tarde, outro Bispo confiou-me os Cursos de Cristandade e a animação cultural da cidade da Guarda. Foi criado um centro cultural e o senhor Bispo quis que eu fosse membro da direção. Além disso, fui também o primeiro regente do coro da cidade. Por quatro anos, vim a ganhar, na Escola Comercial, o primeiro prémio nacional de coros de escolas, com 300 meninos a cantar”, salienta. Foi também nesta altura, no final dos anos 50 do século passado, que o padre Feytor Pinto e vários amigos criaram uma escola para pobres, “dirigida a pessoas que não tinham escolaridade”. “Alguns desses rapazes, que lá fizeram o 7º ano do liceu, estão licenciados e a trabalhar, e são hoje meus grandes amigos”, conta.

Passados sete anos, em 1964, a vida do padre Vítor iria mudar. “Monsenhor Vieira Pinto, que depois foi Bispo de Nampula, foi à Covilhã fazer as exercitações do Movimento por um Mundo Melhor. Eu estava indeciso em participar, ou não, no encontro e à última hora acabei por ir, até porque estava de férias… Foram duas semanas muito bonitas e nos dois últimos dias o Vieira Pinto foi pedir ao Bispo para que eu seguisse com ele para o movimento”. Em setembro desse ano, o padre Feytor Pinto, então com 32 anos, viaja para Roma com monsenhor Vieira Pinto e ficou no centro internacional deste movimento da Igreja durante praticamente dois anos, a estudar, a refletir e acompanhando as duas últimas sessões do Concílio Vaticano II. “Os peritos do Concílio iam dar-nos aulas! Foi uma coisa fabulosa!”.

De regresso ao nosso país, este sacerdote percorreu Portugal inteiro. “Durante 6 anos, praticamente até 1971, não fiz mais nada do que anunciar o Concílio, com exercitações, conferências, retiros. Corri o país todo, todo, todo! Quando o Vieira Pinto foi nomeado Bispo de Nampula veio colaborar comigo um padre espanhol, Juan Pedro Cubero, e depois o Marcelino, futuro D. António Marcelino, Bispo Auxiliar de Lisboa e Bispo de Aveiro”.

 

A “equipa fabulosa” e a inovação juvenil

Em 1971, a Igreja, através do Patriarca de Lisboa, confiou nova missão ao padre Feytor Pinto. “D. António Ribeiro chamou-me e pediu-me para assumir a Ação Católica a nível nacional, em especial a JEC – Juventude Estudantil Católica, e depois toda a junta central deste movimento. E na junta central, quem era o presidente? Sousa Franco. Quem eram os colaboradores? Jorge Miranda, Paulo Marques, Luís Brito Correia, Jorge Jardim Gonçalves. Era uma equipa fabulosa!”. Foi também nesta altura que este sacerdote discordou da decisão de um Bispo. “Certo dia, o senhor Patriarca pediu-me um favor: que não fosse somente assistente nacional da JEC, mas também da JUC – Juventude Universitária Católica. Olhei para D. António Ribeiro e respondi: ‘Senhor Patriarca, isso, peço desculpa, não aceito. Não faço isso ao meu colega padre Miguel Ponces de Carvalho, porque isso seria uma derrota para ele, mas vou conversar com o Miguel. Desculpe-me, é a primeira vez – não que não obedeço – que discordo da sua posição’”.

Após o 25 de abril, em 1975, o padre Vítor foi a Roma representar, “pela primeira vez”, a Conferência Episcopal, “num grande congresso” intitulado ‘Os jovens e o futuro da fé na Europa’. “Naquele encontro, ao regressar ao nosso país, cheguei à conclusão que tinha que propor uma coisa diferente à Igreja em Portugal: não bastava a Ação Católica, que estava a decair, para a formação dos jovens e tínhamos de criar a Pastoral Juvenil. Foi assim que em 1976 começámos a construir a Pastoral Juvenil”. De que forma foi pensada então a Pastoral Juvenil? “Queríamos criar núcleos da juventude em todas as paróquias. Por isso escolhi, em cada diocese, um jovem líder, com um padre. Desses jovens líderes, em Setúbal escolhi o Eugénio Fonseca, hoje presidente da Cáritas Portuguesa, no Porto o Carlos Azevedo, atualmente Bispo, em Aveiro o António Marujo, jornalista, e podia continuar… é engraçadíssimo! Gente que depois se veio a destacar na sociedade”, observa. O primeiro encontro foi em Fátima, no dia 25 de janeiro de 1976. “Foi um grande encontro dos jovens pela paz. Uma coisa lindíssima! E nos três anos seguintes, entre 1977, 78 e 79, organizámos a Páscoa Jovem - Páscoa Libertação, com mais de mil jovens, durante oito dias, em Fátima, a celebrar a festa pascal. O então reitor do Santuário, o meu querido amigo Luciano Guerra, quis que fosse a Pastoral Juvenil a conduzir as celebrações naquele lugar”. No ano seguinte, o padre Vítor entendeu que deveria dar lugar a… um jovem. “Em 1980, estava eu com 48 anos, fui ter com o senhor Patriarca e disse-lhe que devia ser um jovem a conduzir a Pastoral Juvenil. Estava tudo preparado para a renovação”, lembra.

 

Uma nova Pastoral da Saúde

Por volta desta época, a Igreja tinha chegado a acordo com o Estado para criar uma estrutura jurídica dos capelães hospitalares, onde figurava o coordenador nacional. “Em 1982, assumi a coordenação dos capelães hospitalares. Eu tinha uma irmã médica, o meu pai tinha sido administrador, na última fase da vida dele, de um grande hospital, uma tia minha era assistente social dos hospitais da Universidade de Coimbra, portanto o mundo da saúde não era propriamente desconhecido para mim. Um padre muito meu amigo disse-me logo: ‘Já não vais fazer mais nada na vida porque ser capelão é a ‘pior’ coisa que pode acontecer a uma pessoa’. Foi algo que caiu dentro de mim e pensei que tinha de mostrar o contrário”, confidencia. “Nessa época os capelães eram todos muito velhinhos e só faziam sacramentos. Por isso, durante um ano, entre 1983 e 1984, corri a Europa toda e o mundo todo a ver o que se fazia nos hospitais. Em Espanha, por exemplo, já não era Pastoral dos Doentes mas Pastoral da Saúde. Mudou o nome e o conceito, com atenção aos médicos, enfermeiros, à humanização das estruturas. A verdade é que a 11 de fevereiro de 1985, o Papa João Paulo II institui a Pastoral da Saúde”, recorda, enaltecendo também a “grande amizade” que manteve com monsenhor Angelini, um ‘nome grande’ desta pastoral no Vaticano: “Em 1984, encontrei-me em Roma com monsenhor Angelini, que faleceu em 2014, com 98 anos, para saber também o que se fazia neste campo”. O padre Feytor Pinto acompanhou a Pastoral da Saúde durante mais de 30 anos, entre 1982 e 2013. “Fui também membro consultor do Pontifício Conselho para a Pastoral no Campo da Saúde e assistente mundial dos Médicos Católicos”, sublinha.

Num dos encontros anuais da Pastoral da Saúde em Fátima, em 1991, o ministro da Educação pede ao padre Vítor para ser presidente do Entreculturas, cargo que ocupou durante dez anos. No final de 1992, “o juiz Armando Leandro pediu para deixar de trabalhar na prevenção da droga e indicou ao Primeiro-Ministro, Cavaco Silva”, o nome do padre Vítor para lhe suceder. “O senhor Patriarca disse-me: ‘É uma área em que a Igreja não pode estar de costas voltadas. Aceita’. E assim fiz”. Foi então criado o Alto Comissariado do Projeto Vida, de luta contra a droga, onde este sacerdote esteve cinco anos. “Nesses anos tive a Pastoral da Saúde, o Entreculturas e o Alto Comissariado. Quase não dormia, mas foi um tempo muito bonito”, assegura o padre Feytor Pinto.

 

Cumprir o sonho

Decorria o ano de 1997 quando o Cardeal Ribeiro manifesta a vontade de nomear o padre Vítor pároco do Campo Grande, por ser “uma paróquia universitária”. Estava perto de se cumprir o sonho de uma vida. “Tomei posse do Campo Grande a 4 de outubro de 1997. Foi a primeira vez que fui pároco e foi o sonho da minha vida! Animar uma comunidade, provocar a vida de uma comunidade”, partilha. O padre Feytor Pinto tinha então 65 anos. “A minha perspetiva era eu não fazer muito, mas fazer fazer. Nós temos no Campo Grande 39 projetos diferentes e cada projeto tem um responsável, uma equipa, um orçamento, um programa, uma avaliação. As pessoas é que funcionam, eu tenho que ver o que se passa e sugerir”, explica, sublinhando “as cinco mil pessoas que participam nas oito Eucaristias dominicais e as mais de 600 crianças na catequese”.

Hoje, 60 anos após o dia em que foi ordenado sacerdote, a 10 de julho de 1955, o padre Vítor Feytor Pinto é um homem feliz: “É um trabalho muito bonito ser pastor! Estou muito contente como pároco do Campo Grande”.

 

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A importância da Igreja doméstica

Da infância, o padre Vítor Feytor Pinto recorda em especial o testemunho do pai, que considera um grande apóstolo. “A mãe, quando casou, tinha uma fé muito ‘pequenina’; o pai tinha uma fé ‘fortíssima’. Aos poucos, foi-a contagiando. Aquilo que se diz que Igreja é uma comunidade crente e evangelizadora realizou-se completamente na nossa casa”, recorda este sacerdote, hoje com 83 anos. 

 

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O melhor guarda-redes da Guarda

No tempo de seminário, a recordação do desporto é também vincada pelo padre Vítor Feytor Pinto. “No seminário, fui sempre um grande desportista! Era um líder desportista no futebol, voleibol, pingue-pongue, basquetebol”, refere, orgulhoso, lembrando igualmente “o hóquei em patins praticado na Académica de Coimbra, durante as férias”, e “uma história curiosa” com o clube da terra. “No futebol fui célebre como guarda-redes. De tal maneira me destaquei no grupo do seminário que o clube da cidade da Guarda foi pedir ao reitor para eu entrar e defender as suas balizas. Eu era, de facto, o melhor guarda-redes da zona”, graceja, recordando-se dos seus óculos colados com adesivos junto às orelhas para não caírem. “Fui muito feliz no seminário”, testemunha.

 

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O ‘ensinamento’ aos Bispos

Das inúmeras histórias dos anos em que integrou o Movimento por um Mundo Melhor, o padre Vítor Feytor Pinto recorda, em especial, uma: aquela em que teve de ir pregar o retiro aos Bispos portugueses, em substituição de monsenhor Vieira Pinto. Estávamos então em 1968 e o padre Vítor tinha somente 36 anos. “Foi uma coisa… mas foi tão bonito! Foi em Fátima e lembro-me de duas conferências que fiz perante o Episcopado: a primeira sobre a missão do Bispo no diálogo com os padres para o exercício da obediência sacerdotal. No final, o Cardeal Cerejeira manifestou satisfação pela clareza com que coloquei o problema. A outra intervenção, que foi muito dura, foi sobre a responsabilidade política da Igreja à luz da ‘Gaudium et Spes’, no tempo de Salazar. A certa altura um Bispo interrompeu-me, perguntando-me como tinha a coragem de dizer aquelas coisas aos Bispos, havendo em Portugal o regime. Eu respondi que estava somente a ler os textos do Concílio, que os senhores Bispos tinham assinado em Roma e que nós tínhamos de pôr em prática. Nessa altura, o Cardeal Cerejeira pediu a palavra e disse: ‘Senhores Bispos, o padre Vítor tem toda a razão. Nós temos que ser fiéis ao Concílio’”.

 

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A “relação fabulosa” com o Cardeal Ribeiro

O padre Vítor Feytor Pinto lembra a “relação fabulosa” que manteve com o Cardeal D. António Ribeiro ao longo dos anos. Uma relação que exteriorizava confiança. “Quanto estamos em determinados lugares, por vezes fazem acusações aos Bispos. Por três vezes ele recebeu cartas a acusarem-me disto e daquilo. Sabe o que o António Ribeiro fez, sempre? Mandou-me as cartas dizendo: ‘Responda você’. Isto é sublime! Tenho coisas muito bonitas nesta vida de 60 anos de sacerdócio”, confidencia.

texto e fotos por Diogo Paiva Brandão
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