Domingo |
À procura da Palavra
“Agora!”
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DOMINGO XXIII COMUM Ano B

"Tudo o que faz é admirável:

faz que os surdos oiçam e que os mudos falem.”

Mc 7, 37

 

Habituados a antecipar o verão, os jacarandás lisboetas costumam florescer em maio e oferecer-nos as suas flores perfumadas de um azul ou roxo intenso nesses primeiros tempos de calor. Mas, de vez em quando, encontram-se alguns, que não ligando aos calendários desatam a florescer noutras alturas, como estes que, aqui no Rossio de Lisboa, decidiram saudar setembro. Gosto desta liberdade floral e da ousadia em surprender que os jacarandás testemunham. E comparo-os à abundância de frutos (que tristemente ninguém vai apanhar!) que árvores e arbustos frutíferos oferecem por onde quer que estejam plantadas! Podia haver uma lei a punir os donos que deixam estragar o que a natureza dá, e, já agora, a advertir quem passa indiferente à beleza dos jacarandás!

 Do “aqui” das últimas palavras que partilhei convosco desde a Terra Santa, chego a vós com o “agora” que os jacarandás e a cura que Jesus faz no evangelho me inspiraram. De facto, temos uma enorme dificuldade em viver no “agora”! Gastamos mais tempo e energia com o que já foi e com o que ainda não veio, que mal damos pelo presente. E às mil e uma oportunidades de moldar o presente oferecemos desculpas como numa canção dos “Deolinda”: “ – Agora não, que falta um impresso…/ – Agora não, que o meu pai não quer…/ – Agora não, que há engarrafamentos…/ Vão sem mim que eu vou lá ter.” Muitos “agora é que vai ser!” iremos ouvir nas campanhas eleitorais que se aproximam, e é fundamental não se ficar nas promessas de um futuro ilusório nem nas acusações de um passado já gasto, para que a responsabilidade e o compromisso nos envolvam a todos.

Em contexto bíblico a surdez era uma doença terrível. Num povo que privilegiava a palavra, com quem Deus falava como amigo, e que promovia o diálogo, não conseguir escutar e ter a lingua presa era uma condenação irremediável. Claro que os profetas vão pondo a nú a surdez do povo que se fecha e resiste aos apelos de Deus. Muito mais grave do que uma imperfeição física, ela pode significar uma insensibilidade à justiça e ao amor que Deus sempre convida a viver. Torna-se uma espécie de autismo, que aprisiona numa “autosuficiência” de ideias e transforma o discurso numa “cassete” repetitiva. E isto não tem a ver só com a religião!

Jesus não gasta tempo em explicações; diante do surdo que mal podia falar trazido por alguns amigos realiza uma “ética da cura” que restaura o outro da sua integridade. É no “agora” da necessidade humana que é preciso fazer alguma coisa. E Marcos fala-nos de um processo: o recolhimento e o encontro pessoal com Jesus sublinham a intimidade onde pode germinar a fé; os gestos nos ouvidos e na boca lembram a criação do homem; o suspiro e a palavra “Abre-te!” afirmam que, fechados a Deus estamos como mortos! Ser humano é deixarmo-nos tocar: pelo outro e por Deus. Quem sabe, talvez também por uns jacarandás floridos! E isso acontece “agora”!

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