Entrevistas |
Irmão Alois, prior da comunidade de Taizé
“A unidade deve ser uma prioridade, sempre!”
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Na comemoração dos 75 anos da comunidade ecuménica de Taizé, o irmão Alois revela, em entrevista ao Jornal VOZ DA VERDADE, o que procuram os jovens que chegam à pequena comunidade francesa e qual o caminho a trilhar para uma Igreja mais unida.

 

Na semana em que a comunidade de Taizé comemora 75 anos da sua fundação, os 100 anos do nascimento do seu fundador e os 10 anos da sua morte, o que mais escuta dos jovens que aqui chegam?

Estamos surpreendidos porque entre os jovens há uma grande vontade de conhecer melhor e aprofundar o tema da Solidariedade, que escolhemos para os últimos três anos. Acredito que vivemos num tempo em que devemos olhar para os rebentos e há agora muitas iniciativas concretas a acontecer em favor da solidariedade. Há, ainda, uma sede de espiritualidade na juventude que testemunhamos, semana após semana, aqui, em Taizé. Como é que a Igreja pode acolher esta sede? Como pode acompanhar os jovens e dar-lhes um espaço livre para se exprimirem? É isto que pretendemos que os jovens vivam e encontrem esta semana e em cada semana, em Taizé.

 

Que respostas podem ser oferecidas pela comunidade de Taizé aos milhares de jovens que a procuram?

Nós não temos assim tantas respostas! Preferimos, em primeiro lugar, escutar os jovens e dar-lhes a confiança na certeza de que têm a energia e capacidades para trazer a mudança que a sociedade precisa. Queremos dar aos jovens um lugar onde podem encontrar a fonte da solidariedade: Cristo! Jesus trouxe, pela Sua morte e ressurreição, uma nova solidariedade. Ele não queria fundar uma religião contrária a outras; procurava, sim, unir toda a humanidade. Ele estendeu os braços na Cruz para unir a humanidade na comunhão com Deus! Por este motivo, escolhemos como tema para o próximo ano a ‘Misericórdia’ – a compaixão de Cristo que pretendemos viver. Pretendemos vivê-la, em primeiro lugar, na nossa pequena comunidade, uma centena de irmãos de 30 países diferentes e continentes diferentes. Aqui pretendemos ser uma parábola de comunhão que mostra claramente que Cristo pode unir toda a humanidade.

 

Quais os principais frutos deixados pela reflexão da carta de Taizé, ‘Rumo a uma nova solidariedade’, que correspondeu à proposta de reflexão para os últimos três anos?

Em primeiro lugar, creio que trouxe um despertar para a necessidade de solidariedade. Em Taizé, é certo, a oração é o coração da nossa vida mas não pretendemos criar um pequeno grupo distante que procura fazer algo por eles próprios! A oração abre os nossos olhos para as situações sociais mais complicadas. Acredito que nestes três últimos anos que vivemos como preparação para esta semana, muitos jovens descobriram esta abertura. Um exemplo são as pequenas comunidades provisórias de jovens que vivem em pequenos grupos, durante um mês, em condições precárias, vão a uma aldeia para partilhar a vida… jovens que se entregam a um projeto social, levando com eles também a oração – sempre em conjunto: a entrega, o compromisso e a oração! O irmão Roger dizia “luta e contemplação”. Neste ano, em que fazemos memória do irmão Roger, queremos relembrar isto mesmo – “luta e contemplação”!

 

O Papa Francisco tem apelado a um caminho de “unidade e de paz” entre todos os cristãos. O que falta caminhar em ecumenismo? O que se pode fazer concretamente para termos uma Igreja mais unida?

É preciso, sobretudo, antecipar a unidade numa oração comum. Caso contrário, ao diálogo eclesial ficará a faltar uma base eclesial, a base do povo de Deus. É preciso procurar a unidade no interior das nossas Igrejas. A unidade deve ser uma prioridade, sempre! Não devemos permitir que se instalem divisões. É certo que a diversidade é importante e que é normal a existência de tensões; devemos, contudo, procurar sempre a unidade. Em Taizé fazemo-lo, em primeiro lugar, pela oração comum. Estamos felizes por estarem connosco esta semana representantes de várias Igrejas diferentes para fazer memória do irmão Roger. Espero que isso seja um exemplo encorajador para cada participante de como é possível cada um procurar nas suas comunidades e no seu país a unidade.

 

Passados 10 anos do Encontro Europeu de Jovens em Lisboa, que mensagem pode deixar aos jovens portugueses?

Em primeiro lugar, a minha surpresa em continuar a ver frutos desse encontro a cada semana, aqui, em cada verão, com a presença de jovens portugueses. Creio que esse encontro ajudou os jovens portugueses a encontrar uma fé pessoal e responsável. A fé não é apenas seguir uma tradição – é, ao invés, uma convicção e uma confiança pessoal em Deus. Quero encorajá-los a seguir esse caminho em Portugal, onde a fé continua viva e onde a unidade entre os jovens e os mais velhos venceu verdadeiramente. Para mim, esta unidade exprime-se, por exemplo, na Peregrinação a Fátima, onde os jovens e os mais velhos estão juntos. Quero encorajar os jovens a continuar este caminho de confiança pessoal em Deus.

  

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Irmão Alois, prior de Taizé

O irmão Alois nasceu a 11 de junho de 1954 (61 anos), na região da Baviera, Alemanha. Os seus pais nasceram e cresceram na antiga Checoslováquia. É católico, de origem alemã e tem nacionalidade francesa, desde 1984. Depois de várias passagens por Taizé, desde o ano de 1970, ficou como voluntário em 1973-1974, participando no acolhimento dos jovens. Entrou na comunidade ecuménica em 1974 e fez o seu compromisso para toda a vida no dia 6 de agosto de 1978. Como irmão, consagrou muito tempo à escuta e ao acompanhamento de jovens. Até à queda do muro de Berlim, fez numerosas viagens aos países da Europa central e oriental, com a finalidade de apoiar os cristãos destes países, então sob regime comunista.

Coordenou, durante vários anos, a organização dos encontros internacionais em Taizé e dos Encontros Europeus de Jovens em várias cidades da Europa.

De acordo com a regra de Taizé, que prevê que seja o prior a designar o seu sucessor, o irmão Roger indicou o nome do irmão Alois no conselho de irmãos, em janeiro de 1998. Já tinha sido escolhido, de forma discreta, desde 1978.

O irmão Alois tornou-se prior da comunidade com a morte do irmão Roger, a 16 de agosto de 2005.

 

in www.taize.fr/pt 

 

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A comunidade de Taizé

Tudo começou com uma “grande solidão”, quando em agosto de 1940, com 25 anos, o irmão Roger deixou o seu país de nascimento, a Suíça, para ir viver em França, o país natal da sua mãe. Há muitos anos que sentia o chamamento de criar uma comunidade, onde se concretizasse diariamente a reconciliação entre cristãos. Na pequena aldeia de Taizé, na Borgonha, a alguns quilómetros de Cluny, Roger Schütz escondia refugiados, especialmente judeus, que sabiam ali poder encontrar um refúgio. Mais tarde, alguns irmãos juntaram-se a ele e, no dia de Páscoa de 1949, os primeiros irmãos fizeram votos perpétuos de celibato, de vida comum e de uma grande simplicidade de vida.

A partir dos anos 50, alguns monges foram viver para locais desfavorecidos, em diversas partes do mundo, de forma a estarem ao lado dos que sofrem. Nos finais dessa década, o número de jovens que visitaram Taizé aumentou significativamente.

O irmão Roger morreu, no dia 16 de agosto de 2005, com 90 anos, assassinado durante a oração da noite. Sucedeu-lhe o irmão Alois como prior da comunidade ecuménica de Taizé.

Todos os anos, entre fevereiro e novembro, a comunidade de Taizé recebe cerca de seis mil pessoas, de mais de 70 nações, para os encontros semanais, que decorrem de Domingo a Domingo. O Encontro Europeu de Jovens reúne, no fim de cada ano, várias dezenas de milhares de jovens numa grande cidade europeia, a exemplo do que irá acontecer em Valência, Espanha, em dezembro próximo.

Dos inúmeros responsáveis da Igreja, passaram por Taizé o Papa João Paulo II, em 1986, quatro Arcebispos de Cantuária, Metropolitas Ortodoxos, catorze Bispos Luteranos da Suécia e numerosos pastores do mundo inteiro.

A comunidade de Taizé tem atualmente mais de uma centena de irmãos católicos e de diversas origens evangélicas, oriundos de cerca de 30 países. A comunidade é um sinal concreto de reconciliação entre cristãos divididos e entre povos separados. Os irmãos da comunidade ganham a sua vida pelo próprio trabalho, não aceitam doações ou ofertas. Também não aceitam para si as suas próprias heranças pessoais, mas doam-nas aos mais pobres.

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