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Entrevista exclusiva do Papa Francisco à Renascença
“Tenho confiança nos políticos jovens. Há um problema mundial que é a corrupção”
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Em entrevista exclusiva à Renascença, o Papa diz que as pessoas estão desiludidas com a “corrupção a todos os níveis”. Acredita que o “grande desafio da Europa é voltar a ser a mãe Europa” e apela ao acolhimento dos refugiados. Pede que a catequese “não seja teórica” e que a Igreja saia de si mesma. Acredita que Fátima faz de Portugal um país “privilegiado” e faz uma revelação: “Nunca conheci um português mau”.

 

Para um Papa que vem do “fim do mundo”, como olha para Portugal e para os portugueses?

Em Portugal, só estive uma vez no aeroporto, há anos, quando vinha para Roma, num avião da Varig que fazia escala em Lisboa, por isso, só conheço o aeroporto. Mas conheço muitos portugueses. E, no Seminário de Buenos Aires, havia muitos empregados, emigrantes portugueses, gente boa, que tinha muita familiaridade com os seminaristas. E o meu pai tinha um colega de trabalho português. Lembro-me do seu nome, Adelino, bom homem. E uma vez conheci uma senhora portuguesa, com mais de 80 anos, que me deixou boa impressão. Quer dizer, nunca conheci um português mau.

 

No seu discurso aos bispos portugueses, além de elogiar o povo português e olhar para a Igreja com serenidade, o Santo Padre manifesta duas preocupações: uma em relação aos jovens e outra em relação à catequese. O Santo Padre usa uma imagem, dizendo que “os vestidos da primeira comunhão já não servem aos jovens”, mas que há “certas comunidades que insistem em vestir-lhos”. Qual é o problema?

É uma maneira de dizer. Os jovens são mais informais e têm o seu próprio ritmo. Temos de deixar que o jovem cresça, temos de o acompanhar, não o deixar sozinho, mas acompanhá-lo. E saber acompanhá-lo com prudência, saber falar no momento oportuno, saber escutar muito. Um jovem é inquieto. Não quer que o incomodem e, nesse sentido, pode-se dizer que “o vestido da primeira comunhão não lhes serve”. As crianças, pelo contrário, quando vão comungar, gostam do vestido da primeira comunhão. É uma ilusão. Os jovens têm outras ilusões que, muitas vezes, são muito boas, mas há que respeitar, porque eles mesmos não se entendem, porque estão a mudar, estão a crescer, estão à procura, não é? Por isso, é preciso deixar o jovem crescer, há que o acompanhar, respeitar e falar-lhe muito paternalmente.

Porque, ao mesmo tempo, há uma exigência a propor, mas essa exigência, muitas vezes, não é atrativa!

Por isso, há que procurar aquilo que atrai um jovem e exigir-lho. Por exemplo, um caso concreto: se você propõe a um jovem – e isto vemo-lo por todo o lado – fazer uma caminhada, um acampamento ou fazer missão para outro sítio, ou por vezes ir a um “cotolengo” [obra fundada por sacerdote italiano de acolhimento de doentes com grave deficiência múltiplas, abandonadas pelas famílias e em situação de risco] para cuidar dos doentes, durante uma semana ou quinze dias, entusiasma-se porque quer fazer algo pelos outros. Está envolvido.

 

“Involucrado”?

Sim, fica por dentro, compromete-se. Não olha a partir de fora. Envolve-se, ou seja, compromete-se.

 

Então, porque é que não fica?

Porque está a caminhar.

 

E qual é o desafio que a Igreja, então, deve enfrentar? O Santo Padre também falou de uma catequese, que muitas vezes permanece teórica e onde falta esta capacidade de propor o encontro…

Pois é importante que a catequese não seja puramente teórica. Isso não serve. A catequese é dar-lhes doutrina para a vida e, portanto, tem de incluir três linguagens, três idiomas: o idioma da cabeça, o idioma do coração e o idioma das mãos. E a catequese deve entrar nesses três idiomas: que o jovem pense e saiba qual é a fé, mas que, por sua vez, sinta com o seu coração o que é a fé e, por sua vez, faça coisas. Se falta à catequese uma destas três línguas, destes três idiomas, não avança. Três linguagens: pensar o que se sente e o que se faz, sentir o que se pensa e o que se faz, fazer o que se sente e o que se pensa.

 

Escutando vossa Santidade, isto parece óbvio, mas, olhando à volta – sobretudo na velha Europa, na velha cristandade – não é assim. O que é que falta? Mudar a mentalidade? Como se faz?

Mudar a mentalidade, não sei, porque não conheço tudo, não é? Mas é verdade que, a metodologia catequética, às vezes, não é completa. Há que procurar uma metodologia da catequese que junte as três coisas: as verdades que se devem crer, o que se deve sentir e o que se faz, o que se deve fazer, tudo junto.

 

Santidade, para o centenário das aparições de Nossa Senhora de Fátima, nós esperamos por si em Portugal. Três Papas já nos visitaram (João Paulo II por três vezes). O Senhor, que ama muito a Virgem, o que espera da sua visita em 2017?

Bom, vamos lá esclarecer as coisas. Eu tenho vontade de ir a Portugal para o centenário. Em 2017 também se cumprem 300 anos do encontro da Imagem da Virgem de Aparecida.

 

…. uma data estereofónica, em dois lados! (risos)

... por isso, também estou com vontade de lá ir e já prometi  lá ir. Quanto a Portugal, disse que tenho vontade de ir e gostaria de ir. É mais fácil ir a Portugal, porque podemos ir e voltar num só dia, um dia inteiro, ou, quanto muito, ir um dia e meio ou dois dias. Ir ter com a Virgem. A Virgem é mãe, é muito mãe, e a sua presença acompanha o povo de Deus. Por isso, gostaria de ir a Portugal, que é privilegiado.

 

E o que espera de nós, portugueses? Como podemos preparar-nos para o receber e também para seguir os pedidos de Nossa Senhora?

O que a Virgem pede sempre é que rezemos, que cuidemos da família e dos mandamentos. Não pede coisas estranhas. Pede que rezemos pelos que andam desorientados, pelos que se dizem pecadores – todos o somos, eu sou o primeiro. Mas a Virgem pede e há que se preparar através desses pedidos da Virgem, através dessas mensagens tão maternais, tão maternais... e manifestando-se às crianças. É curioso, Ela procura sempre almas muito simples, não é? Muito simples.

 

Entrevista publicada na íntegra na edição em papel do Jornal VOZ DA VERDADE.

Oiça a entrevista no site da Renascença: AQUI

 

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Aura Miguel: “Contente por ser instrumento daquilo que é o grande amor a Jesus, que tem o Papa Francisco”

Em declarações ao Jornal VOZ DA VERDADE, a jornalista Aura Miguel, da Rádio Renascença, mostra-se “abismada” com a repercussão da entrevista exclusiva que fez ao Papa Francisco. Passados alguns dias de a entrevista ter sido tornada pública, Aura lembra-se da calma que aparentou, naquele momento. “Tive a noção que era um privilégio, de tal maneira grande, que o meu sentido era aproveitar ao máximo de ter o Papa só para mim. Eu tinha sugerido uma entrevista em italiano e ele propôs-me a modalidade de eu falar em português e ele em espanhol. Com a condição que eu falasse mais devagar. E o facto de falar mais devagar fez com que imprimisse um ritmo de serenidade à conversa e que foi fantástica. Foi como se estivesse com uma pessoa de família que eu conhecia há muito tempo”, conta.

A jornalista Aura Miguel, que é também colaboradora semanal do Jornal VOZ DA VERDADE, mostra-se surpreendida com o impacto mundial da entrevista. “Todos os continentes falam desta entrevista. Eu fico abismada com esta dimensão”, revela Aura Miguel, que manifesta igualmente muita alegria por ter sido um “instrumento” dos ensinamentos do Papa Francisco: “Fico contente por ser instrumento daquilo que é a grande riqueza, que é o grande amor a Jesus, que tem o Papa Francisco e que se revela com esse aspeto tão realista e profundo com os ensinamentos que faz passar nesta entrevista que, no fundo, também é o fio condutor do seu pontificado”.

texto por Filipe Teixeira

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