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P. Manuel Barbosa, scj
Desafios dos Bispos da Europa

De 11 a 16 de setembro, tive a grata ocasião de acompanhar o Bispo do Porto à Terra Santa, para participar na Assembleia Plenária do Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE).

A assembleia foi precioso tempo de partilha das realidades das Igrejas locais em quatro dezenas de países europeus, nas suas problemáticas e esperanças, afinal bem comuns a todos nós; espaço de empenhada solidariedade para com as situações de perseguições por que passam os cristãos, nas suas várias confissões, na Terra Santa; autêntica revisitação celebrativa e adorante nos lugares onde Jesus nasceu, viveu, morreu, ressuscitou e gerou a Igreja de ontem, de hoje e de sempre; tempo de encontros com outras confissões cristãs e com diversos ritos católicos, e com quem preside politicamente aos destinos de Israel e da Palestina. Não faltou a real visão e a passagem pelo muro da vergonha na sua extensão de oitocentos quilómetros, qual escândalo a separar povos e seres humanos.

A mensagem final deste encontro, situada em contexto do Ano da Vida Consagrada e do próximo Ano Santo da Misericórdia, salienta também os dinamismos pastorais que a exortação apostólica «A Alegria do Evangelho» tem provocado em todas as comunidades e dioceses da Europa. Dando voz ao próprio texto, quero ressaltar alguns aspetos de alegrias, sofrimentos e desafios das Igrejas nos diversos países europeus.

O primeiro desafio diz respeito à situação dos refugiados e imigrantes, em desespero sem limites. Este complexo êxodo, com as suas inevitáveis diferenciações, requer da parte dos Estados muita atenção, a fim de responderem urgentemente às necessidades de ajuda imediata e de acolhimento de pessoas desesperadas por causa da guerra, perseguição e miséria. «Grande é o empenho das Igrejas da Europa que, seguindo as indicações do Papa Francisco, colaboram com os Estados, os quais são os primeiros responsáveis pela vida social e económica dos seus povos. As muitas experiências já em ação encorajam a prosseguir e intensificar cada esforço. Dada a complexidade das situações e a amplitude das tragédias, desejamos que também a ONU tome em decisiva consideração a situação e chegue a soluções eficazes não só a respeito do primeiro acolhimento mas também aos países de proveniência dos migrantes, adotando medidas adequadas par acabar com a violência e construir a paz e o desenvolvimento de todos os povos. Além disso, a paz no Médio Oriente e no Norte da África é vital para a Europa, assim como é decisivo que se chegue o mais rapidamente possível a uma verdadeira paz no próprio continente, a começar pela Ucrânia».

Outro desafio tem a ver com os conflitos, divisões e guerras de que sofrem diversas regiões e povos no Médio Oriente; daí o veemente apelo dos bispos ao diálogo e ao desenvolvimento como verdadeiro nome da paz, e a urgente atenção à delicada situação de perseguições e desigualdades que vivem as famílias e as comunidades cristãs e religiosas. No mesmo sentido apelam ao direito fundamental da liberdade religiosa e ao direito dos pais a educar os próprios filhos segundo as suas convicções, também nas escolas católicas, tantas vezes discriminadas em relação às escolas públicas.

A reafirmação da beleza humana e cristã da família, na sua universal realidade de pai, mãe e filhos, foi sentida por todos os bispos como um grande desafio em ligação com o próximo Sínodo dos Bispos. Depois de reafirmarem que a família se funda no matrimónio entre um homem e uma mulher, qual célula base da sociedade e da própria comunidade cristã, os bispos europeus salientam que «merece particular preocupação a tentativa de aplicar a "teoria do gender": é um projeto do "pensamento único" que tende a colonizar também a Europa e da qual falou o Papa Francisco. A Igreja não aceita a "teoria do gender" porque é expressão de uma antropologia contrária à verdadeira e autêntica valorização da pessoa humana».

A mensagem termina com um forte aceno ao empenho dos pastores na procura da verdadeira felicidade e do destino do homem, na perspetiva do próximo Ano da Misericórdia, propondo Jesus Cristo como resposta às questões profundas do coração da humanidade.