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Relatório “Perseguidos e Esquecidos?”, sobre os Cristãos perseguidos
De mal a pior…
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De dois em dois anos, a Fundação AIS publica um relatório sobre os Cristãos oprimidos por causa da sua fé. Este estudo foi lançado esta semana e as suas conclusões não podiam ser mais inquietantes: nunca como hoje os Cristãos foram tão perseguidos. Fala-se mesmo em “genocídio”.

 

Não é possível adocicar as palavras quando se está a falar da perseguição religiosa em tantos países no mundo em que há apenas um denominador comum: os Cristãos. O relatório “Perseguidos e Esquecidos?”, publicado esta semana a nível internacional pela Fundação AIS, não deixa margem para quaisquer dúvidas. As palavras que adjetivam os horrores por que têm passado milhares e milhares de cristãos aparecem no relatório com toda a sua crueza: “limpeza étnica”, “genocídio”, “êxodo”, “emergência”, “ameaça”… Fala-se mesmo em “extinção”. O Cristianismo está a desaparecer de certas regiões do globo. Ponto final. “Numa altura em que o número de deslocados e refugiados atingiu máximos históricos, grupos islâmicos têm levado a cabo uma limpeza étnica de cristãos por motivos religiosos, designadamente em regiões de África e no Médio Oriente. Se esta situação continuar – pode ler-se nas conclusões do Relatório – a sobrevivência da Igreja nestas regiões está ameaçada”.

 

Matadouro

O documento inclui uma mensagem de D. Jean-Clement Jeanbart, o Arcebispo católico grego melquita de Alepo, na Síria. Diz o prelado, que conheceu na pele o sofrimento da guerra – “a minha própria catedral foi bombardeada seis vezes e agora não a podemos usar… a minha casa também foi atingida mais de dez vezes” – que os Cristãos estão indefesos perante os ataques do autoproclamado “Estado Islâmico” e que são, de facto, “tratados como ovelhas destinadas ao matadouro”. No Relatório, o número de países onde a perseguição contra os Cristãos é considerada “extrema”, subiu de seis, no período de 2011/13, para dez em 2013/15. Ou seja: à China, Eritreia, Coreia do Norte, Paquistão, Arábia Saudita e Vietname, juntaram-se agora a Síria, Iraque, Nigéria e Sudão.

 

Silêncio cúmplice

O Relatório “Perseguidos e Esquecidos?”, elaborado pela Fundação AIS, foi entregue ao Papa Francisco antes da sua divulgação oficial. Agradecendo o documento, o Santo Padre fez saber que aprecia “profundamente os esforços de todos os envolvidos na elaboração deste relatório e em tornar visível ao mundo a dor e o sofrimento dos Cristãos perseguidos pela sua fé”, e que reza “para que aqueles que têm posições de autoridade lutem não só para erradicar a discriminação religiosa e a perseguição nas suas próprias nações, mas também para que procurem formas mais eficazes de promover a cooperação internacional a fim de que estas ofensas contra a dignidade humana e a liberdade religiosa sejam ultrapassadas”.

De facto, é rara a semana em que o Papa Francisco não denuncia perante o mundo os horrores da violência contra os Cristãos. Ainda em Abril, o Santo Padre disse que “vemos hoje os nossos irmãos perseguidos, decapitados e crucificados por causa da sua fé em Jesus, perante os nossos olhos e, muitas vezes, com o nosso silêncio cúmplice”. Com a publicação deste relatório, todos somos confrontados com esta impiedosa realidade.

 

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Paquistão
Asia Bibi continua na cadeia

Apesar de, em Julho deste ano, o Supremo Tribunal do Paquistão ter suspendido a condenação à morte, respondendo assim ao recurso interposto pela defesa, a cristã Asia Bibi, de 50 anos, continua detida, ao fim de cinco anos, por causa de uma falsa acusação de blasfémia. Em Junho, teve mesmo de ser transferida de prisão, pois estava tão debilitada que mal conseguia andar, vomitava sangue e mal conseguia já alimentar-se. São incontáveis os casos de falsa acusação de blasfémia sobre os cristãos paquistaneses, normalmente muito pobres e analfabetos.

 

Líbia
Morrer na praia

É praticamente impossível alguém se esquecer-se aquela imagem de vinte e um  trabalhadores, praticamente todos eles egípcios, alinhados junto a uma praia, algures na costa líbia, a serem degolados por homens vestidos de negro do auto-proclamado “Estado Islâmico”. Estes jihadistas instauraram um verdadeiro reino de terror nas regiões que controlam e que se estendem da Síria ao Iraque e, agora também, em vastas áreas da Líbia. A divulgação de imagens de extrema violência, como decapitações, crucificações, mortes por afogamento ou pessoas queimadas vivas, amplificou ainda mais o sentimento de medo entre as minorias religiosas que vivem nesses países, especialmente entre os Cristãos.

 

Coreia do Norte
Campos de concentração

É difícil saber-se exatamente quantos cristãos estarão detidos, em condições sub-humanas, nos campos de concentração do regime comunista mais hermético do mundo. No entanto, dados recolhidos pela Fundação AIS calculam que pelo menos 10 % dos cerca de 400 a 500 mil cristãos norte-coreanos estejam actualmente presos e sujeitos a trabalhos forçados. No período de análise do Relatório, ou seja, entre 2013 e 2015, terão sido assassinados trinta e três cristãos sob a acusação de espionagem. Nos campos de concentração, os presos são sujeitos a tortura, violação, aborto forçado e experimentação médica.

 

Síria
A morte de um homem bom

Em Abril do ano passado, o Padre holandês Frans van der Lugt foi assassinado à porta de casa, em Homs. Toda a gente gostava deste sacerdote de 75 anos que procurava aliviar o sofrimento das populações cercadas pela guerra. A morte do Padre Frans veio aumentar ainda mais o sentimento de insegurança dos Cristãos da Síria. Tanto neste país como no Iraque, à chegada dos jihadistas só lhes restava fugir, a conversão ao Islão ou pagar um imposto, a jisya. Caso contrário, seriam passados a fio de espada. Quase toda a comunidade cristã fugiu deixando para trás tudo o que possuía.

 

Sudão
A força de uma campanha

Dificilmente se encontrará alguém que nunca tenha ouvido falar em Meriam Ibrahim. Esta sudanesa tinha sido condenada à morte por apostasia em Junho de 2014. O facto de estar grávida de oito meses e de estar acompanhada de um outro filho, de apenas 20 meses, não demoveu as autoridades. Acusada de adultério, por ter casado com um homem cristão, Meriam nunca conseguiu convencer o Tribunal de que também era cristã – aliás, tinha sido batizada pela mãe, etíope ortodoxa, quando era bebé - e que o seu pai, muçulmano, abandonara a família há muitos anos. Uma enorme campanha internacional acabou por salvá-la da forca. Hoje, Meriam vive, com a família, nos Estados Unidos.

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
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