Adriana Isabel Rodrigues Cavaco nasceu a 20 de junho de 1986 em Cachopo, no Algarve. É licenciada em Ortoprotesia pela Escola Superior de Saúde da Universidade do Algarve, é atualmente diretora do curso de Ortoprotesia na mesma Instituição e está prestes a concluir o doutoramento em engenharia biomédica na Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade de Coimbra. Nasceu numa família católica e foi batizada com meses de vida.
“Foi sempre a presença de Deus que vi, em todas as batalhas!”
Apesar de pertencer a uma família católica, por incentivo de amigos e sem oposição familiar fez toda a sua formação infantil/juvenil religiosa numa Igreja Evangélica, integrou a Juventude da Ação Bíblica e participou em inúmeras atividades. Aos 14 anos iniciou uma reflexão mais profunda e concluiu que “não sentia o amor a Deus que todos à minha volta diziam sentir e decidi sair”. Quis conhecer melhor a religião da sua família e inscreveu-se na catequese da sua paróquia. Fez a primeira Comunhão e soube da existência do Grupo de Jovens Sem Fronteiras (JSF) na Paróquia “do qual fiz parte durante cerca de 3 anos e meio” participando em muitas atividades. Nessa altura o grupo dos JSF estava em fase de renovação e, juntamente com muitos outros membros, acabou por sair. Frequentava na altura o 12º ano, estava concentrada nos exames e ainda sem saber o que queria seguir. Foi “uma fase mais conturbada da minha adolescência que me fez também perder todo o contacto com a Igreja Católica, com um sentimento de revolta por todo o sistema e sociedade”, como partilha. Apesar disso, nunca perdeu “a certeza e a fé em Deus”. Ao terminar o 12º ano “não tinha a certeza do que queria seguir no seu futuro” e, por isso, decidiu não entrar na universidade no ano seguinte, fez algumas melhorias de notas, tirou a carta de condução e procurou entender o que gostaria de seguir. Decidiu que queria trabalhar na área da saúde, “numa perspetiva de ajudar os outros e no espírito de missão”. Escolheu enfermagem, mas acabou por entrar no curso de licenciatura em Ortoprotesia na Universidade do Algarve. O seu estágio curricular foi no Centro de Medicina Física e Reabilitação de Alcoitão e foi o ano “mais marcante, de contacto com a realidade da profissão e inserida no meio da reabilitação, uma área fascinante de lutas diárias e pequenas grandes vitórias”. Em 2009 concluiu a licenciatura e no mesmo mês foi chamada para professora convidada do Curso de Ortoprotesia da Escola Superior de Saúde da Universidade do Algarve, desafio que aceitou. “Ser professora mostrou-se um grande desafio que me cativou desde o primeiro dia, mas adaptei-me a esta nova perspetiva do meio académico com muita facilidade”, partilha. Em 2010 iniciou o doutoramento e o ano não foi fácil: estudava em Coimbra, dava aulas no Algarve, as deslocações e as despesas eram muitas… mas estava “completamente encantada e entusiasmada com este novo mundo, com mais confiança como professora”. A escolha da sua profissão não foi imediata, nem fácil, mas sempre influenciada positivamente pelo espírito missionário que havia bebido dos JSF e “ foi sempre a presença de Deus que vi, em todas as batalhas e barreiras sobre-humanas que assisti, e assisto, serem ultrapassadas todos os dias por pessoas que por um motivo ou outro se veem privadas de algum membro ou função que limita as suas vidas”, diz-nos.
Voltar sem vontade de voltar!
O espírito de voluntariado sempre esteve presente em si e em dois anos consecutivos foi convidada pela Fundação espanhola IDEO Juan García Barrera a participar como ortoprotésica voluntária em programas intensivos, com duração de uma semana cada, de protetização na cidade de Tétouan (Marrocos). Em 2014 assistiu a um espetáculo de angariação de fundos para o projeto Ponte 2014, promovido pela ONGD Sol Sem Fronteiras e pelos JSF, e relembrou o seu sonho de partir, “de fazer ponte, de ser e fazer missão”. “Desde esse dia que iniciei a minha longa caminhada para uma ponte sem fim”, partilha. Nesse dia contactou a SolSef e o grupo de JSF de S. Brás de Alportel e começou a participar de forma ativa nas suas atividades, passou a ir regularmente à Missa, retomou a sua vida religiosa. “Hoje percebo que Deus nunca esteve zangado comigo, deixou-me crescer, acalmar e fazer o meu percurso e voltou a chamar-me quando achou que era a altura certa”, diz-nos. Candidatou-se para o projeto Ponte 2015 e no dia 4 de Dezembro de 2014 soube que tinha sido aceite e que iria para o Brasil com mais 7 sete pessoas que não conhecia. “Fiquei tão feliz, mas tão feliz!”.
Ao chegar, não foi fácil perceber que não conseguiria fazer quase nada do que tinha pensado, mas “depois de muita angústia e revolta, percebi que, além de podermos colocar os nossos dons ao serviço dos outros, fazer próteses, fazer música, ensinar... A melhor coisa que podemos fazer por alguém é mesmo dar o nosso tempo, dar a nossa atenção, o nosso carinho, escutar em vez de só ouvir, ver em vez de só olhar, dar-nos a nós, dar a nossa vida de forma inteira, de forma simples, mesmo que seja só por uma hora ou só por um mês. Só assim conseguimos mudar alguma coisa que valha a pena, deixando nos outros um pouco de nós. E foi assim que voltei, sem vontade de voltar mas com esperança de ter deixado um pouco de mim com todas as que me dei. E é assim que tenho vivido estes dias no regresso a casa, porque fazer ponte é ir, mas também é voltar e só faz sentido se assim for”.
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