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Egipto: impossível esquecer o dia 12 de Fevereiro
As últimas palavras
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Estavam todos ajoelhados junto à água, numa praia da Líbia. Foram todos degolados apenas por serem cristãos. O mundo viu, chocado, as imagens deste crime bárbaro. Numa pequena aldeia do Egipto ainda hoje se chora a memória destes filhos da terra, mas é com orgulho que falam deles: são mártires, “agora estão no Céu”.

 

Foi em Fevereiro. Ninguém esquece o dia em que a notícia chegou, como um vendaval. Houve gritos e lágrimas que ainda não secaram verdadeiramente. Nesse dia 12, a aldeia ficou enlutada para sempre. Treze dos filhos da terra, da pequena e pobre aldeia de El-Aour, foram assassinados numa praia da Líbia. Estavam todos vestidos de cor de laranja, com as mãos amarradas atrás das costas. Caminhavam curvados junto à água até que foram forçados a ajoelhar-se. Antes de morrerem, antes de serem degolados, naqueles instantes que sabiam ser os últimos, alguns destes homens, destes cristãos egípcios, estavam a rezar. O vídeo que os terroristas colocaram na Internet, em que procuraram fazer deste acto de horror uma peça de propaganda, mostra esse momento. No instante em que a faca começa a deixar uma linha vermelha de sangue, os lábios de Yousef estão a pronunciar “Jesus”, como quem entrega serenamente todo o seu ser, toda a sua vida, nas mãos de Deus.

 

Mártires de Cristo

O irmão de Yousef, Malak Shoukry, quando viu o vídeo pela primeira vez ficou chocado. Os seus gritos de dor juntaram-se aos de todos os outros habitantes da aldeia. Mães, pais, filhos, sobrinhos, irmãos… Todos choravam algum ente-querido. Aqueles treze homens tinham sido decapitados apenas por serem cristãos. Yousef morreu mas afirmou toda a sua fé, toda a sua confiança em Deus naqueles instantes finais. Malak gritou desesperado quando viu o vídeo pela primeira vez. Depois, apercebeu-se do enorme testemunho de fé que acabara de presenciar. Assassinaram Yousef por ser cristão. Morreu como mártir. “Estou orgulhoso dele”, diz agora. “É um mártir de Cristo.”

 

Terra de ninguém

A aldeia de El-Aour fica a cerca de 250 quilómetros de distância da capital, Cairo. É uma região muito pobre. Não há trabalho e resta, na maior parte das vezes, apenas uma alternativa: a emigração. Aqueles treze homens da aldeia, decapitados por serem cristãos, estavam na Líbia a trabalhar. Enviavam todas as suas economias para casa. Ninguém ignorava, por ali, como a Líbia se tinha transformado nos últimos tempos numa terra de ninguém, onde grupos jihadistas e terroristas se digladiam pela conquista de território. Nesta terra de ninguém, todos correm risco de vida. Abraham Bashr deveria ter sido o décimo quarto homem da aldeia decapitado naquela manhã de Fevereiro. Quando os jihadistas entraram na casa onde todos viviam, conseguiu, nem sabe bem como, esconder-se. Ninguém reparou nele. Está vivo mas a sua vida, de alguma forma também acabou naquele dia. “Ouvi tudo. Ouvi os gritos e ouvi-os a perguntar pelos cristãos. Eles vieram só para raptar os cristãos. Estava cheio de medo.”

 

“Perder a fé? Nunca!”

Há dias, a Fundação AIS esteve na aldeia de El-Aour. Por lá, continua a sombra desse dia 12 de Fevereiro, como se uma nuvem tivesse tapado o sol para sempre, como se o mundo tivesse terminado naquele dia de infâmia. Não deverá haver dor maior do que uma mãe perder um filho. Não haverá palavras para explicar o que as mães daqueles treze cristãos terão sentido quando viram os seus filhos a serem degolados. Uma dessas mães apenas reclama o corpo do seu filho de volta. Já se resignou com tudo o resto. Só quer o corpo do filho para o enterrar, para lhe fazer o funeral. Para poder chorá-lo ali por perto. “Se eles o deitaram ao mar, quero-o de volta. Se o queimaram, quero o seu pó.” Maria Lozano, da Fundação AIS, esteve há dias nesta aldeia e, ao contrário do que seria expectável, não escutou palavras de ódio, nem de vingança, ou de violência. Lozano encontrou-se com alguns dos filhos destes cristãos decapitados naquela praia na Líbia. Agora são órfãos, mas dizem-se orgulhosos pelo facto de os seus pais serem mártires e de nunca terem renegado a fé em Cristo, mesmo naquele momento em que estavam prestes a ser degolados. “Claro que estou triste, mas estou também orgulhoso porque o meu pai foi morto por causa da sua fé. Ele foi um exemplo para mim e para toda a Igreja.” Um destes jovens, já adolescente, acrescentou ainda: “Agora, ele está no Céu!” Nesta pobre e pequena aldeia, estes cristãos asseguram que não há nada mais valioso, mais precioso, do que a fé em Cristo. “Perder a vida, sim, podemos perdê-la: mas perder a fé, nunca!

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